AFP
Publicada em 17/10/2022 às 08h57
Faz um ano que não sai fumaça branca das duas torres de arrefecimento da última central a carvão de Portugal. O país ibérico abriu mão desta fonte de energia antes do esperado e aposta nas energias renováveis.
"A minha tarefa hoje é fechar a fábrica" de Pego, 120 km a nordeste de Lisboa, explica à AFP o operador-chefe João Furtado, percorrendo o local com uma lanterna na mão e um capacete de segurança na cabeça.
As luzes de néon apagadas e a poeira acumulada atestam o fechamento da usina em novembro de 2021, quase 30 anos após sua entrada em operação.
Após a cessação da atividade, no início de 2021, da central de Sines, localizada 90 km ao sul de Lisboa, o governo decidiu não prolongar a de Pego e, oito anos antes do previsto, Portugal tornou-se o quarto país da Europa a abandonar o carvão.
Enquanto a crise energética provocada pela guerra na Ucrânia leva vários países europeus a reabrir ou ampliar suas centrais termoelétricas a carvão, o governo de Lisboa "continua convicto de que não será necessário reconsiderar esta decisão", "importante para o ambiente", assegurou em meados de setembro o ministro do Meio Ambiente, Duarte Cordeiro.
- "Exemplo na Europa" -
Em junho, a Áustria decidiu voltar a usar carvão depois de desistir dele dois anos antes.
"Portugal é um exemplo na Europa", comemora Pedro Nunes, especialista em energias renováveis da associação ambientalista Zero, lembrando que as duas centrais a carvão, sozinhas, eram responsáveis por "quase 20%" das emissões de gases do efeito estufa no país.
Para substituir a contribuição do carvão para a produção de eletricidade, o governo espera desenvolver ainda mais suas energias verdes para obter 80% de sua eletricidade em 2026, acima dos 40% em 2017.
Enquanto a participação das energias renováveis na produção de eletricidade atingiu quase 60% em 2021, esse número caiu para cerca de 40% nos primeiros nove meses deste ano devido a uma seca histórica que causou a queda na produção de energia hidrelétrica.
Embora espere aumentar a sua capacidade de produção de energia eólica e solar - onde Portugal aparece apenas em oitavo e décimo terceiro lugar, respetivamente -, o país ibérico continua altamente dependente dos combustíveis fósseis (71% do mix energético total em 2020, segundo Eurostat).
Nessa fase de transição, a estratégia passa "inicialmente pela produção de eletricidade em usinas a gás, que são um terço menos poluentes que o carvão", diz Nunes.
- Importações em alta -
O país dotou-se de centrais de ciclo combinado com gás natural, como a que funciona desde 2011 no Pego, junto à antiga central a carvão, e cujo contrato de exploração vai até 2035.
"Não é por acaso" que Portugal é um dos primeiros Estados a abandonar o carvão na Europa, porque o país prepara "há muito tempo a sua transição energética", sublinha Pedro Almeida Fernandes, responsável por energias renováveis da subsidiária portuguesa do grupo espanhol Endesa.
Foi esta empresa que ganhou o projeto de conversão da central a carvão do Pego, comprometendo-se a criar um parque misto combinando energia solar, eólica e hidrogênio verde, com um sistema de armazenamento por baterias, até 2025.
Portugal, conhecido pelos seus 300 dias de sol por ano, espera aumentar a sua capacidade de produção de energia solar em 50%, para três gigawatts, só em 2022, segundo uma estimativa do governo.
No entanto, segundo o professor Pedro Clemente Nunes, especialista em questões energéticas da Universidade Técnica de Lisboa, o abandono precoce do carvão foi "mal preparado".
Há um ano, Portugal "aumentou consideravelmente as suas importações de eletricidade" da Espanha, que "continua produzindo energia a partir do carvão".
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2022/10/portugal-se-junta-a-outros-paises-europeus-abandona-o-carvao-e-aposta-em-energias-renovaveis,144251.shtml