RFI
Publicada em 17/10/2022 às 15h38
Buscando urgentemente acalmar os mercados financeiros em meio ao caos, o novo ministro das Finanças do Reino Unido, Jeremy Hunt, anunciou nesta segunda-feira (17) a remoção de "quase todas as medidas fiscais" determinadas três semanas antes pelo governo de Liz Truss. A sobrevivência política da chefe do governo está cada vez mais ameaçada e a hipótese de uma renúncia, menos de dois meses após ter tomado posse, já começa a ser cogitada.
Jeremy Hunt, nomeado na última sexta-feira (14) imediatamente após a demissão do ultraliberal Kwasi Kwarteng – que permaneceu no cargo por pouco mais de um mês – fez o anúncio em um discurso transmitido na televisão, antes de dar explicações à tarde na Câmara dos Comuns em Londres. Embora isso vá contra as regras parlamentares, ele explicou que obteve autorização da Câmara "para reduzir as especulações contraproducentes" sobre "decisões sensíveis para o mercado", ao qual é necessário "dar confiança e estabilidade".
Os mercados financeiros britânicos foram abalados por um grande nervosismo e volatilidade desde que Truss e Kwarteng apresentaram um controverso pacote econômico em 23 de setembro. O programa combinava ajuda pública significativa às contas de energia e fortes cortes de impostos, mas não incluía nada para financiá-lo além de aumentar a já elevada dívida pública britânica.
Dando uma dramática guinada de 180 graus e enfraquecendo ainda mais Truss, que permanece como primeira-ministra, mas não tem mais nenhum poder real, Hunt disse que "reverteremos quase todas as medidas fiscais anunciadas (...) três semanas atrás".
Entre suas principais decisões, a ajuda às famílias para pagar as contas de energia caras será limitada a seis meses, até abril, em vez dos dois anos prometidos por Truss e Kwarteng.
Depois de adiantar essas mudanças, Hunt apresentará, conforme planejado inicialmente, seu plano orçamentário completo no dia 31 de outubro, junto com as previsões para a economia britânica feitas pelo órgão público OBR.
Mercados tranquilizados?
Desde que o pacote de Truss foi anunciado, a libra caiu e o custo da dívida pública disparou, tornando mais caros os juros de empréstimos a famílias e empresas. O Banco da Inglaterra precisou intervir para evitar que a situação se transformasse em uma crise financeira, com um programa maciço de compra de dívida de longo prazo que terminou na sexta-feira.
Em um sinal de que os anúncios de Hunt para garantir a estabilidade das finanças públicas do Reino Unido podem tranquilizar os mercados, mesmo antes de seu discurso na televisão, a libra subiu 1,08% em relação ao dólar nesta segunda-feira, sendo negociada a US$ 1,1293 às 6h20 (horário de Brasília). As taxas de juro da dívida pública a 30 anos caíram para 4,48%, refletindo também uma resposta favorável dos investidores.
Liz Truss na corda bamba
Truss, cada vez mais questionada, deu uma coletiva de imprensa desastrosa na sexta-feira para anunciar sua decisão de mudar seu ministro das Finanças e modificar suas controversas medidas fiscais. Demonstrando nervosismo durante a entrevista, ela se esquivou de perguntas sobre sua própria renúncia e se retirou depois de 8 minutos.
Segundo a imprensa britânica, vários deputados conservadores vêm cogitando nomes para substituí-la há dias. Até o nome de Boris Johnson, que estava no cargo antes de Truss, chegou a ser citado.
Truss é a quarta primeira-ministra conservadora do Reino Unido desde o referendo do Brexit em 2016, mas várias figuras da direita britânica opinaram publicamente que ela deveria renunciar, depois de apenas 40 dias no cargo.
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