RFI
Publicada em 18/10/2022 às 15h05
O Irã se comprometeu a fornecer à Rússia mísseis de curto alcance e drones não tripulados – ou "drones kamikazes", como tem chamado a imprensa europeia. A informação foi divulgada nesta terça-feira (18) pela agência Reuters, depois de consultar dois diplomatas e duas fontes do alto escalão iraniano. A venda de armas iranianas a Moscou aumentará ainda mais a tensão entre Teerã, os Estados Unidos e demais países ocidentais aliados de Kiev.
O acordo para a entrega dos armamentos foi concluído em 6 de outubro, durante uma visita a Moscou do primeiro vice-presidente iraniano, Mohammad Mokhber. Ele viajou à capital russa acompanhado de dois oficiais de alta patente da Guarda Revolucionária iraniana e de um oficial do Conselho Superior de Segurança Nacional do Irã.
"Os russos pediram mais drones e mísseis balísticos dotados de precisão, particularmente da família de mísseis Fateh e Zolfaghar", disse um dos diplomatas iranianos ouvido pela Reuters. Um funcionário ocidental a par do assunto confirmou esta informação, explicando que houve um acordo entre o Irã e a Rússia para o fornecimento de mísseis balísticos de curto alcance, dentre eles o Zolfaghar.
O diplomata iraniano rejeitou as alegações das autoridades ocidentais de que essas entregas violariam uma resolução do Conselho de Segurança da ONU adotada em 2015. "O local onde as armas são utilizadas não é um problema do vendedor. Não estamos tomando partido na crise da Ucrânia como o Ocidente está fazendo. Defendemos uma solução para a crise por meios diplomáticos", disse o membro do corpo diplomático iraniano.
A Ucrânia relatou nas últimas semanas um aumento significativo de bombardeios russos realizados com drones Shahed-136 de fabricação iraniana. Até agora, o Irã negou estar fornecendo esses armamentos à Rússia. O Kremlin também desmentiu, nesta terça-feira (18), que suas forças tenham usado drones iranianos para atacar a Ucrânia. Já o Ministério da Defesa russo se recusou a fazer qualquer comentário sobre o assunto.
O uso de mísseis e drones iranianos pelas forças russas na Ucrânia acrescenta tensão às relações já complicadas entre o Irã, os Estados Unidos e seus aliados no conflito criado pela Rússia na Ucrânia. Na segunda-feira (17), o Departamento de Estado americano estimou que drones iranianos foram usados em ataques no início do dia contra Kiev. A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, acusou o Irã de "mentir" quando declarou que nenhum drone iraniano estava sendo utilizado pelo Exército russo na Ucrânia.
Um diplomata europeu explicou à Reuters que seu país acredita que a Rússia está tendo cada vez mais dificuldade para produzir suas próprias armas, devido às sanções impostas pelos ocidentais. Por isso, Moscou estaria se voltando para outros fornecedores, entre eles o Irã e a Coreia do Norte. "Drones e mísseis são um próximo passo lógico na guerra", disse o diplomata europeu.
Chanceler ucraniano propõe rompimento de laços diplomáticos
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kouleba, propôs nesta terça-feira ao presidente Volodymyr Zelensky que Kiev rompa os laços diplomáticos com Teerã.
"Em vista da destruição generalizada causada pelos drones iranianos à infraestrutura civil da Ucrânia, as mortes e ferimentos causados ao nosso povo, (...) submeto à consideração do presidente uma proposta para romper as relações diplomáticas com o Irã", disse o chanceler, em um vídeo postado no Facebook.
Ontem, Zelensky já tinha pedido à União Europeia que impusesse sanções adicionais à Teerã, alegando que "o Irã é responsável pela morte de ucranianos". Mas o governo iraniano voltou a negar participação no conflito. "O Irã não exportou armas para nenhuma das partes beligerantes", disse na segunda-feira Nasser Kanani, porta-voz diplomático da República Islâmica.
Em um balanço divulgado nesta terça-feira, o Estado-Maior da Ucrânia afirmou que a Rússia lançou, nas últimas 24 horas, "dez ataques de mísseis e 58 ataques aéreos, além de efetuar 60 disparos com lança-foguetes múltiplos". O informe detalhou que Moscou enviou 43 drones do modelo Shahed-136 para diferentes regiões do território ucraniano, "dos quais 38 foram abatidos" por soldados do país.
Com a aproximação do inverno (no hemisfério norte), "desde 10 de outubro, 30% das centrais elétricas ucranianas foram destruídas, causando apagões maciços", denunciou Zelensky, em mensagem no Twitter. Ele ainda reiterou sua recusa em negociar um cessar-fogo com o líder russo, Vladimir Putin.
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