Rondoniadinamica
Publicada em 31/10/2022 às 10h12
Porto Velho, RO – Marcos Rogério, do PL, perdeu para ele mesmo. Sua arrogância foi de longe a principal aliada do xará, Rocha, do União Brasil, em sua caminhada rumo à reeleição.
Antes disso, o jovem político, que vinha galgando postos na vida pública a cada eleição, ou seja, de vereador tornou-se deputado e de membro da Câmara dos Deputados, senador da República, optou por perder a personalidade.
Caminho oposto ao trilhado pelo militar com as rédeas do Palácio Rio Madeira. Quando surgiu para o povo rondoniense como postulante em 2018, o gestor reconduzido só tinha um lema de campanha: Jair Bolsonaro, à época do PSL.
Neste interim, criou essência própria, e, conservando a lealdade ao amigo, defenestrado ontem do Poder, passou a falar mais sobre si mesmo e realizações da administração à qual rege.
Enquanto Rogério orgulhava-se – ele próprio assume –, de ser o pitbull de Bolsonaro no Congresso Nacional, especialmente durante a CPI da COVID-19, o outro batalhava para preservar de fato as vidas, escolhendo fugir do discurso mais fácil e do papo furado para muitas vezes ser obrigado a tomar medidas impopulares pelo bem maior.
Pitbull apesar de ser uma raça potencialmente raivosa, de guarda, é, como chihuahuas, pinschers e poodles, para todos os efeitos, um cachorro. Um animal irracional. E cachorro pode ser domesticado e adestrado, servindo, basicamente, às deliberações do dono.
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Pode soar bonito na retórica, porém, lá pelas tantas, o eleitor-médio busca representantes independentes que não digam amém para tudo. Que sejam humanos, não robôs – nem pitbulls, chihuahuas, pinschers ou poodles.
Rocha foi criticado por faltar a alguns debates, mas, logisticamente, agiu certo: primeiro, porque suas performances estavam aquém do esperado; segundo porque Rogério, forjado na área da comunicação, articula muito melhor as palavras e as usava milimetricamente de forma deliberadamente agressiva e pouco propositiva.
E nos embates finais, que criaram a última impressão no telespectador, prevaleceram tranquilidade e humildade de Marcos Rocha enquanto Rogério exortava vaidade e narcisismo político.
O nariz empinado e a “entortada” unilateral de sobrancelha a cada mentira confrontada contribuíram sobremaneira para que fosse à bancarrota.
Mas não foi só isso.
As adesões no segundo turno também foram de suma importância, incluindo as não solicitadas.
Como, por exemplo, a de Confúcio Moura, do MDB. Se a intenção era ajudar, o emedebista fez muito mal ao dizer que, primeiro, apoiaria Lula (PT) – isto num estado sumariamente bolsonarista –, e, não satisfeito, declarando aliança com Marcos Rogério.
Moura tornou-se uma espécie de pária para o agronegócio após criar na canetada 11 zonas de conservação: os decretos foram duramente criticados na Assembleia (ALE/RO), que, por sua vez, falaram sobre como os moradores antigos, a maioria formada por produtores, fora atingida abruptamente, sem diálogo.
Sobre as bem-vindas, pactuadas com Rocha, Léo Moraes, do Podemos, e Jaqueline Cassol, do Progressistas, falando provavelmente em nome do clã, fizeram a diferença, especialmente na cidade das Três Caixas d’Água. Quem contribuiu para que o chefe do Executivo não fosse derrotado no interior, como ocorreu com Mariana Carvalho, do Republicanos, ultrapassada por Jaime Bagattoli (PL), foi Carlos Magno, traído no primeiro turno por Moraes e sua trupe.
E até medidas tomadas durante o curso das eleições se demonstram efetivas, como a reação ao aumento da criminalidade em Rondônia, especialmente na Capital.
Saída de Pachá foi primordial para o combate à criminalidade / Reprodução
Ao tirar José Hélio Cysneiros Pachá da pasta de Segurança Pública nomeando Felipe Bernardo Vital na transposição do primeiro para o segundo turno, o govenador sinalizou sua disposição para enfrentar com mais rigor a violência. E as ações policiais passaram a pulular, comprovando que nunca é tarde para tomar uma decisão administrativa e fazer o certo.
No mais, tratou a imprensa com respeito. Compareceu às entrevistas, aceitou ser questionado, diferentemente do adversário, que negou falar com o Rondoniaovivo, o maior portal de notícia do estado, e com e com o apresentador do RR Notícias, Dalton di Franco, que reclamou do assessoramento do postulante ao vivo. Deixando claro, no último caso, que o tratamento dispensado aos profissionais era destinado a quem estaria prestes a fazer pedidos. Zero respeito com o jornalismo local.
Paulo Andreoli e Ivan Frazão, do Rondoniaovivo, "entrevistam" foto de Marcos Rogério satirizando desrespeito do candidato á imprensa local / Reprodução
E houve também por parte da turba palaciana o desligamento de Júnior Gonçalves da Casa Civil a fim de dedicar-se cem por cento às eleições. Gonçalves articulou o União Brasil em Rondônia, tornando-se presidente da legenda mesmo sem mandato, e trouxe para si a responsabilidade de conservar a imagem do governador como apoiador de fato do presidente, ainda que em partidos distintos. Com o domínio da agremiação, ele garantiu aporte financeiro à campanha. Muito criticado durante o primeiro turno, principalmente pelo ex-governador Daniel Pereira, do Solidariedade, manteve-se silente, enveredando seus esforços exclusivamente ao pleito. Ele é um dos principais responsáveis pela vitória de Rocha.
Por fim, vale registrar a disputa silenciosa travada às raias do Tribunal Regional Eleitoral (TRE/RO), e algumas, claro, prosseguirão ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) perdurando por todo o denominado “terceiro turno”.
O “terceiro turno”, no caso, inclui o “Jus esperneandi” dos perdedores que tentam encontrar nas brechas das leis brasileiras um ancoradouro para suas lágrimas. É natural, portanto, que haja muito entraves ainda resolvidos sob os malhetes do Judiciário.
Marcos Rocha, Júnior Gonçalves e o advogado Nelson Canedo / Reprodução
Nesta seara, o escritório de advocacia Camargo, Magalhães e Canedo desempenhou suas atividades com profissionalismo próprio dos empreendimentos legais de alta performance, atuando com agilidade exigida pela legislação eleitoral, propiciando a Rocha uma esteira jurídica favorável, driblando, assim, as investidas advindas do seu principal adversário e minando os excessos da campanha do senador da República.
Resumidamente, Marcos Rogério começou perdendo para si mesmo, como diz o início desta opinião, e prosseguiu sendo derrotado em todos os flancos a que se propôs a disputar nestas eleições, incluindo no único ponto em que se sentia verdadeiramente confortável: a amizade com Bolsonaro. Num estado em que 70,66% dos votos válidos foram destinados ao atual presidente, restou claro que a tática de tentar censurar a parceria deste com Marcos Rocha foi outra bazucada no próprio pé.
Portanto, a vitória do coronel com 458.370 votos, 52,47% do total válido, contra 415 278 votos de Rogério, com 47,53%, uma diferença maiúscula de 43.092 votos, ocorreu não só pelas escolhas corretas do militar, mas também – e principalmente –, em decorrência das falhas do concorrente e sua malfadada campanha.
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