Professor Nazareno
Publicada em 07/11/2022 às 08h42
Passadas as eleições presidenciais no Brasil em 2022, a ideia que se tem é que o atual presidente do país, Jair Messias Bolsonaro, foi severamente derrotado pelas urnas. Ledo engano! Claro que o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva foi o vitorioso, digamos assim, do jogo final. Só isso! Mas convenhamos que o maior cabo eleitoral do petista foi o próprio presidente Bolsonaro. Senão vejamos: dos 27 senadores eleitos, pelo menos 19 deles eram seguidores do atual presidente. Dos 27 governadores dos Estados, 22 eram do mesmo partido ou da mesma coligação que apoiava o “Bozo”. Romeu Zema em Minas Gerais, Tarcísio de Freitas em São Paulo e Cláudio Castro no Rio de Janeiro são exemplos claros de apoiadores de Jair Bolsonaro. Damares Alves, Magno Malta, Tereza Cristina, Marcos Pontes e até o vice-presidente, Hamilton Mourão, foram todos eleitos senadores.
O polêmico ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi eleito deputado Federal por São Paulo. Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente, se reelegeu fácil deputado federal pelo Rio. Deltan Dallagnol também ganhou no Paraná. Quem estava ao lado do presidente só não foi eleito por que não quis se candidatar. Sérgio Moro se elegeu senador pelo Paraná e até a sua esposa também ganhou uma vaga de deputada federal, só que por São Paulo. A onda bolsonarista ainda está a pleno vapor. A direita e a extrema-direita lideradas pelos conservadores e reacionários “passaram o rodo” nestas eleições. Mesmo a diferença de votos entre Lula e Bolsonaro ao final do segundo turno foi mínima. Pouco mais de 2 milhões de sufrágios num universo de 156 milhões de eleitores. E das 5 regiões do país, Lula só ganhou no Nordeste. Mas por que Jair Bolsonaro não se reelegeu?
Bolsonaro perdeu para ele mesmo. Perdeu para a sua língua afiada e para as suas declarações desumanas, grosseiras e cruéis. Perdeu quando na pandemia deixou faltar oxigênio em Manaus e depois imitou pessoas morrendo de Covid. Perdeu quando disse que a jornalista Vera Magalhães ia dormir pensando nele. E também quando disse que um filho seu jamais seria homossexual, pois fora bem criado. Perdeu quando no golpe contra a Dilma Rousseff em 2016, homenageou o coronel Brilhante Ustra, um notório torturador da Ditadura Militar. Irritado, o “Bozo” disse que não tinha onde comprar vacinas contra a Covid-19. “Só se for na casa da tua mãe!”, gritou para um pobre cidadão que lhe questionou por que ainda não havia vacinas no país. Ele também afirmou que não era coveiro e por isso não queria saber quantas pessoas a pandemia já havia matado aqui.
Grosso, acintoso, deselegante e mal educado, Bolsonaro achava que jamais iria ter que disputar uma eleição de novo. Pensou que o seu cargo era eterno. Mas todo mundo, inclusive a mídia, que ele atacava diariamente, estava gravando tudo, guardando tudo. Conheço muita gente que votou nos candidatos dele, mas não nele. Derrotado, o infeliz pode a partir de agora ser abandonado pelos seus ex-seguidores e ter que desistir para sempre da política. Tem que se recolher à sua insignificância para lamber as feridas da derrota humilhante que sofreu. Bolsonaro é tão tosco e fraco que perdeu para “um ladrão”, como os bolsonaristas mais exaltados costumam dizer. No entanto, a direita e a extrema-direita devem continuar no jogo político. Só que têm que encontrar um líder mais educado e mais humano para lhes representar A democracia é isso: a dialética dos extremos para se chegar a um consenso. Raro é o eleitor que prefere agressividade à paz.
*Foi Professor em Porto Velho.
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