Agência Câmara
Publicada em 08/11/2022 às 13h30
Atrair o homem para consultas na rede de atenção primária continua sendo um dos desafios do Sistema Único de Saúde (SUS), concluíram os participantes de uma audiência pública realizada nesta terça-feira (8) na Câmara dos Deputados.
Segundo o Ministério da Saúde, estão em curso medidas para atacar o problema. Houve a inclusão do pai ou parceiro afetivo no atendimento pré-natal da mulher – agora, na carteira da gestante, há espaço para o acompanhamento do homem. Estuda-se também a ampliação do horário de atendimento nas unidades básicas de saúde.
Carmen Zanotto: "Há poucos urologistas no SUS"
“A participação da mulher é importante nas estratégias para a saúde do homem”, disse Marcos Alves, representante do ministério na reunião. Segundo ele, o treinamento das equipes de saúde e a mudança no pré-natal já elevaram as consultas masculinas – que, na média, representam 25% do total, ante 75% das mulheres.
Novembro Azul
O debate desta manhã foi proposto pelos deputados Weliton Prado (Pros-MG), presidente da Comissão Especial do Combate ao Câncer no Brasil, e Silvia Cristina (PL-RO), relatora do colegiado. A iniciativa dos parlamentares marcou também o Novembro Azul, mês de conscientização sobre o câncer de próstata.
Segundo o Ministério da Saúde, o câncer de próstata, tipo mais comum entre os homens, é a causa da morte de 28,6% da população masculina que desenvolve neoplasias malignas. Conforme estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), atualmente um brasileiro morre a cada 34 minutos devido à doença.
Essa campanha de prevenção foi lançada no Brasil em 2011 pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, a partir de experiências no exterior. No debate de hoje, Denise Blaques, diretora da entidade, defendeu a disseminação de conhecimento. “A demanda é grande”, comentou, ao falar do serviço 0800 222 2224 mantido pelo instituto.
Diagnóstico precoce
O médico oncologista Igor Morbeck, que representou a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, destacou o diagnóstico precoce e o atendimento especializado, mas alertou para o risco de falsos positivos em exames. Segundo ele, há chance de cura em 90% dos casos de câncer de próstata detectados nas fases iniciais.
Já o chefe do Setor de Urologia do Inca, Franz Campos, observou que hoje 52% dos casos de câncer de próstata no Brasil são identificados nas fases mais graves. No Rio de Janeiro, o instituto conseguiu, em parceria com o SUS, zerar a fila de espera por diagnósticos. Ele sugeriu a criação de centros especializados similares.
Campos anunciou que o Inca desenvolve estudo genético sobre casos de câncer de próstata no Brasil, ao custo de R$ 6 milhões em três anos, pois é sabido que as causas variam conforme as populações. Morbeck relatou ainda que há marcadores genéticos que ligam a doença a casos de câncer de mama na mesma família.
A consultora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) Lysiane Pereira disse que, no mundo, é baixa a participação dos homens nos sistemas de saúde. “Só o Brasil, em toda a América Latina, possui uma política nacional para a saúde do homem”, elogiou, ao recomendar ações que envolvam também as famílias.
Busca ativa
Durante a audiência, a deputada Flávia Morais (PDT-GO) defendeu uma estratégia de busca ativa para prevenção do câncer de próstata. Além de sugerir análise comparativa dos eventuais custos dessa busca ante o tratamento dos casos graves, ela lembrou que outras doenças, como o câncer colorretal, poderiam ser atacados.
Para a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), o SUS enfrenta dificuldades que afetam o atendimento – ainda que exista previsão legal, não há recursos para mamografias, lembrou. “Faltam especialistas, praticamente não há urologistas no SUS, e infelizmente ainda há um abismo entre as normas e a realidade”, afirmou.
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