RFI
Publicada em 13/12/2022 às 14h51
A cúpula Estados Unidos-África tem início nesta terça-feira (13), em Washington, reunindo líderes de 49 países africanos e da União Africana durante três dias na capital americana, a fim de discutir segurança, economia, saúde e mudanças climáticas. Os Estados Unidos querem reafirmar seu interesse pelo continente africano.
Esta é a segunda cúpula depois do encontro realizado por Barack Obama, em 2014, relata a enviada especial da RFI à Washington, Magali Lagrange. O presidente americano, Joe Biden, está empenhado em recuperar terreno no diálogo com a África, acredita uma fonte africana. Se cada país tem as suas próprias expectativas, indica essa mesma fonte, todo o continente saúda a iniciativa de Washington. O antecessor de Biden, Donald Trump, nunca escondeu seu desinteresse pela África.
Os temas em discussão ao longo desses três dias vão ser variados: combate ao terrorismo, mudanças climáticas, segurança alimentar, economia e o Agoa, nome do acordo que visa facilitar as exportações africanas para os Estados Unidos, válido até 2025.
Do lado norte-americano, existe a intenção de se aproximar da África, numa altura em que outros parceiros se tornaram mais importantes no continente, como a China ou a Rússia. Os Estados Unidos também querem enfatizar a importância das vozes africanas no cenário internacional.
Um diálogo “aberto” e “mesmo com aqueles com quem há divergências”
Tendo convidado 49 países, além da União Africana (UA), os Estados Unidos querem uma cúpula "aberta", "mesmo com aqueles com quem há divergências", insiste a secretária de Estado adjunta responsável pela África, Molly Phee. Ela acrescenta que “o gesto reflete o compromisso do presidente e do Secretário de Estado por discussões respeitosas”.
Um fórum de negócios também acontecerá antes do final do encontro, que será concluído com uma recepção na Casa Branca na quinta-feira (15). Para o governo americano, trata-se sobretudo de se aproximar do continente. A mudança de tom pretende ser total. Diálogo, discussão de prioridades e interesses compartilhados são termos que voltam ao vocabulário, segundo o correspondente da RFI em Washington, Guillaume Naudin.
Contexto geopolítico tenso
O contexto geopolítico estará certamente em discussão, mesmo que a administração Biden mostre cuidado em não destacar essas preocupações, principalmente em relação à presença militar russa e à crescente influência econômica da China no continente.
Os conflitos e os pontos de tensão são muitos. Em particular no Sahel, onde os Estados Unidos cooperam militarmente com a França, fornecendo informações por meio de seus drones. Mas o exército francês deixou o Mali e sua presença em Burkina Faso está em questão. Os Estados Unidos devem, portanto, adaptar-se a um novo ambiente.
“Em agosto deste ano, os Estados Unidos lançaram um plano estratégico para a África”, explica Paul-Simon Handy, que dirige o Instituto de Estudos e Segurança, em Addis Abeba. “É um documento inovador, no sentido de que, pela primeira vez, vemos os Estados Unidos se projetando, definindo interesses estratégicos na África, desenvolvendo uma visão que vai além dos interesses de estabilidade a curto prazo, que acabaram por se transformar na doutrina americana, como de vários países ocidentais, europeus em particular, na África. Estabilidade de curto prazo que levou à criação de regimes autocráticos na região, cujas consequências conhecemos hoje. Eles agora estão tentando definir sua própria visão estratégica, permanecendo um aliado estratégico da França”.
Joe Biden também fará um discurso para círculos econômicos e líderes empresariais. Por sua vez, Jon Temin, vice-presidente de programas políticos do Centro Truman de Política Nacional (Truman Center for National Policy), espera que Biden “realmente enfatize a democracia, os direitos humanos e a boa governança tanto quanto as questões econômicas e os interesses do setor privado; acredito que há um grande interesse em ter mais empresas americanas investindo na África, o que é mutuamente benéfico e os Estados Unidos estão atrasados em algumas dessas áreas”.
Washington anuncia US$ 55 bilhões em três anos para a África
Pouco antes, o conselheiro de segurança nacional americano, Jake Sullivan, anunciou que os Estados Unidos "dedicarão US$ 55 bilhões à África em três anos". Os fundos seriam destinados à saúde e à resposta às mudanças climáticas, mas sem detalhar de onde virão ou para onde serão alocados.
Sullivan assegurou que este financiamento, e mais genericamente o compromisso americano, não estaria ligado à atitude dos países africanos face à guerra na Ucrânia, num momento em que muitos deles se recusam a condenar abertamente a Rússia.
Uma fonte na União Africana saúda a disponibilidade de Washington sobre esses temas, mas especifica que a estratégia do continente consiste em diversificar os seus parceiros internacionais, sejam eles Estados Unidos, China ou União Europeia.
Burkina Faso, Guiné, Mali e Sudão ausentes
Vários países do continente não estarão representados neste encontro. Burkina Faso, Guiné, Mali e Sudão não foram convidados para a cúpula de Washington. Esses quatro países, que passaram por golpes, estão sob sanções da União Africana e os Estados Unidos dizem que adotaram a mesma linha. O Chade, por outro lado, foi convidado por não estar sob sanções da organização continental.
Dois outros membros da UA não foram convidados: a Eritreia – com quem Washington diz não ter relações diplomáticas plenas – e a República Árabe Saarauí Democrática (estado parcialmente reconhecido internacionalmente e que reivindica soberania sobre todo o território do Saara Ocidental).
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2022/12/em-busca-de-reaproximacao-eua-reunem-quase-50-paises-africanos-em-washington,148669.shtml