AFP
Publicada em 14/12/2022 às 11h29
Envolvida em um grande escândalo de corrupção relacionado com o Catar, a eurodeputada grega Eva Kaili defendeu, nesta quarta-feira (14), sua inocência à espera de uma resolução judicial e disse desconhecer a existência das vultosas quantias de dinheiro encontradas em sua residência.
A Justiça belga deve decidir nesta quarta, se a ex-vice-presidente do Parlamento Europeu permanece detida. Ela é suspeita de ter recebido dinheiro de Doha para defender os interesses do emirado, atual sede da Copa do Mundo de futebol.
A Justiça também deve se pronunciar sobre se outras três pessoas, detidas desde domingo (11), permanecem sob custódia. Entre elas estão o ex-deputado Pier-Antonio Panzeri e Francesco Giorgi, companheiro de Kaili.
Destituída na terça-feira (6) das funções de vice-presidente do Parlamento Europeu e detida na sexta (9), a deputada socialista de 44 anos disse, por meio de seu advogado em Atenas, que é "inocente" e que desconhecia a existência de sacolas cheias de notas, 150.000 euros em dinheiro vivo, encontrados pelas autoridades belgas em sua casa em Bruxelas.
Eva Kaili "não tem qualquer relação com o dinheiro encontrado em sua casa (...) ela não sabia da existência desse dinheiro", disse à AFP o advogado Michalis Dimitrakopoulos, insistindo em que sua cliente é "inocente".
O advogado, que disse ter falado várias vezes por telefone com a deputada detida, afirmou que “só o companheiro dela”, com quem vivia, pode dar “respostas sobre a existência desse dinheiro”.
O pai de Kaili foi localizado com uma mala com 750 mil euros em dinheiro. Também foram encontrados 600 mil euros na casa de Pier-Antonio Panzeri, ex-deputado socialista italiano que dirige uma ONG em Bruxelas.
O Catar negou as acusações, mas uma fonte judicial na Bélgica confirmou à AFP que o país está no centro da investigação belga.
- 'Ataque à democracia' -
Ante este escândalo que ameaça sua credibilidade, o Parlamento Europeu destituiu a deputada do cargo de vice-presidente. Esta sanção por "falta grave" foi aprovada quase por unanimidade pelos deputados presentes na plenária, com 625 votos dos 628 inscritos.
Eurodeputada desde 2014, após ter ocupado um assento no Parlamento grego entre 2007 e 2012, Kaili assumiu por 11 meses uma das 14 vice-presidências do Parlamento Europeu.
Segundo fontes do Pasok-Kinal grego, a liderança desse partido — já abalado em sua história por casos de corrupção — também pressiona a política a renunciar a sua cadeira de eurodeputada.
O líder do Pasok-Kinal, Nikos Androulakis, também membro do Parlamento Europeu, propôs na terça-feira passada, na assembleia plenária da Eurocâmara a criação de "um órgão especial encarregado de examinar os ativos dos eurodeputados e a forma como foram adquiridos".
Com este caso de Kaili, a presidente do Parlamento Europeu denunciou um "ataque" à democracia.
Este escândalo também chocou a Grécia, onde casos de corrupção assolam o país. Muitos gregos expressaram seu constrangimento ao ver a ex-apresentadora de televisão mergulhada na polêmica.
A Autoridade Grega de Combate à Lavagem de Dinheiro congelou os ativos financeiros de Kaili e de seus familiares.
A imprensa grega também destacou as relações entre Kaili e o conhecido magnata greco-russo Ivan Savvidis, dono, entre outros, do clube de futebol PAOK, de Salônica, e ex-deputado da Duma russa.
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