Rondoniadinamica
Publicada em 01/02/2023 às 09h30
Porto Velho, RO – São situações completamente diferentes embora ligadas pelo cordão das consequências trágicas das mortes violentas.
Entretanto, há dez anos, 2013, o Brasil foi atingido por uma maré de solidariedade e comoção quando 242 jovens morreram após o incêndio ocorrido na Boate Kiss, em Santa Maria.
Os responsáveis, tanto dono da casa noturna, músicos e um produtor, foram sentenciados à cadeia em 2021 com penas variando de 18 a 22 anos de reclusão; o poder público, políticos, autoridades fiscalizatórias que detinham a obrigação legal de avaliar o estabelecimento, ficaram de fora na condenação do Júri.
Ninguém está preso, lado outro, porquanto o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ/RS) anulou a deliberação.
Com isso, a Netflix criou uma minissérie documental, lançada exatamente no dia 27 de janeiro, quando a tragédia alcançou uma década, relembrando a catástrofe em memória das vítimas criticando no roteiro, veementemente, bombeiros, Administração Pública e até o Ministério Público (MP/RS).
O Brasil, então, se emocionou ao conhecer, ainda que parcialmente, a personalidade de alguns dos jovens representados pelo elenco escolhido. E o assunto voltou à mesa.
A sociedade passou a conhecer também o drama dos familiares, açoitados, perseguidos, pressionados, porém valentes e perseverantes.
Lutaram bravamente para honrar seus filhos. E os atos de bravura certamente se proliferarão a fim de contagiar as pessoas com a força necessária para enfrentar a vida quando o destino foi cruel como com eles naquela data horrenda e sem fim.
Até Rondônia lembrou, em partes. Até Confúcio Moura, do MDB, falou sobre o assunto.
O emedebista, que era governador à época, falou sobre o caso da Boate Kiss em suas redes sociais.
Ele reproduziu uma imagem da minissérie em que personagens se abraçam em frente às fotos das vítimas e, dentro da arte, há os dizeres: “Não podemos ser o país da sublimação das tragédias”. No corpo da postagem, a mensagem:
“Nos acostumamos a trocar uma dor pela outra como trocamos de roupa. As imagens iniciais das tragédias têm poder de encantar e mobilizar grandes campanhas de donativos. Enquanto isso, o debate mais aprofundado sobre a tragédia que passou é jogado para debaixo do tapete. O Estado brasileiro deve resolver seus problemas e deixar à sociedade apenas o voluntarismo da empatia, do amor ao próximo, da solidariedade espontânea e da caridade como valores que nos fazem verdadeiramente humanos.
Senador Confúcio Moura”.
Confúcio usa imagem da série sobre a Boate Kiss para falar sobre tragédias / Reprodução-Facebook
Moura era governador quando a estudante de jornalismo Naiara Karine da Costa Freitas foi estuprada e morta no fatídico 24 de janeiro de 2013.
Seu secretário de Segurança era Marcelo Bessa.
O caso, triste, horrendo, foi “solucionado” na seara legal. Mas remanesceu a dúvida nos autos, que, reproduz o Rondônia Dinâmica, apontava na direção de um mandante, um financiador.
Essa figura jamais foi revelada apesar de todos os burburinhos e suposições da ocasião. Até 2019, como anotou o G1, a Polícia Civil (PC/RO) “não conseguiu identificar suposto mandante do crime”.
Jamais fora esclarecido sequer se a hipótese foi dissecada, levada a termo, passada a limpo, e, se descartada, também não foram expostos os motivos que levaram as autoridades a fazê-lo.
E, como na situação de Santa Maria, a família de Naiara Karine também foi atingida de maneiras às quais a sociedade local jamais pôde entender.
Um Estado que não sublima tragédia jamais poderia ter permitido que membros de seu povo fugissem por falta de segurança, especialmente nestas condições, com tanto pesar e sofrimento envolvidos.
Se estivesse viva, Naiara Karine seria comunicadora, logo, uma colega de ofício, e estaria com 28 anos, muito provavelmente junto ou pelo menos próxima a seus pais, que, por falha das autoridades, tiveram de ir embora a fim de preservar o restante de suas respectivas trajetórias.
Confúcio esqueceu. Rondônia talvez tenha esquecido em sua maioria, mas nós, do Rondônia Dinâmica, não.
E se existe mesmo uma figura oculta nessa história toda capaz gerar todo esse caos na vida das pessoas determinando que terceiros barbarizassem uma jovem como o fizeram, esta ainda há de se encontrar com a espada afiada da Justiça, seja amanhã, seja daqui a dez anos.
Em memória de Naiara Karine da Costa Freitas.
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