Professor Nazareno
Publicada em 06/04/2023 às 08h37
Professor Nazareno*
É a nova rodoviária que estão querendo fazer em Porto Velho, Roraima. Pelos desenhos já publicados, percebe-se que o sinistro empreendimento é muito feio, sem jeito, disforme, desengonçado e que se parece mais com uma daquelas casas mal-assombradas da Idade Média. Uma construção em estilo “meio gótico”, cavernoso mesmo. Coisa típica de Porto Velho. Há mais de quarenta anos que tenho a suprema infelicidade de morar nesta currutela fedorenta e sempre ouvi falar que iriam construir “muito em breve” um novo terminal de passageiros. E agora parece que a coisa vai finalmente sair do papel. Não sou arquiteto, mas não vi no “projeto” nada de atrativo para uma nova estação de ônibus em pleno século XXI. Aquilo só será usado por gente pobre, lisa e desassistida, que é maioria na cidade. Nada há ali que chame a atenção. É que não estamos na Europa!
A construção, de aspecto medonho e assustador, vai ser erguida no mesmo lugar da atual rodoviária ali bem no meio da segunda capital mais suja e imunda do Brasil. Na Jorge Teixeira entre D. Pedro e Carlos Gomes. Mas será que vão canalizar o podre, letal, insalubre e fedido Canal dos Tanques que margeia a obra? Será que vão construir lá dentro uma parada para os ônibus urbanos que quase inexistem na “capital das sentinelas avançadas”? Para onde vão mendigos e noiados que “enfeitam” o lugar? E como 2024 é ano de eleições municipais, é bem capaz que a sua inauguração coincida com a campanha eleitoral. Porto Velho tem um porto rampeado no rio Madeira, mas que vive a maior parte do tempo fechado. As pessoas que vêm de Manaus ou até mesmo do baixo Madeira quase sempre têm que se equilibrar para escalar o barranco íngreme e escorregadio. Um perigo!
O aeroporto da cidade, dizem com toda a pompa e orgulho, é internacional, só que não faz um voo sequer nem para Guayaramerín/Bolívia, única experiência no exterior para muitos porto-velhenses. O “campo de pouso” daqui deve ter um ou dois voos diários e sempre está às moscas. Mobilidade urbana também inexiste na pior capital do Brasil em IDH. Aqui é difícil viver com dignidade e decência, mas de igual maneira não há como chegar e nem sair de forma que não seja também tão humilhante. Quase tudo por aqui é estranho, surreal. Porto Velho sempre se orgulhou de ter o ginásio Cláudio Coutinho, mas que até hoje não serve para absolutamente nada, uma vez que por aqui não existe nenhum esporte na cidade que valha a pena ser disputado naquele abandonado e também feio lugar. Teatro há logo dois: Banzeiros e o das Artes. Nunca assisti a uma peça teatral neles.
A “Porto Velho Bus Station” vai concorrer de igual para igual em feiura e em mau gosto com os viadutos tortos, íngremes e ainda mal acabados da cidade, com a ponte escura do suicídio, que para nada serviu até hoje, e com as inúteis “passarelas do atraso” lá no Espaço Alternativo. As lindas estações de trens e ônibus nas mais civilizadas capitais da Europa enchem os olhos de seus usuários. Limpas, asseadas, luxuosas, práticas e muito seguras. Mesmo em algumas cidades do sul do país e até pelo interior de Rondônia não se vê tamanho “desmantelo e horror” numa obra que demorou quase meio século somente para sair do papel. Deviam ter feito antes uma pesquisa com várias opções e modelos para serem escolhidos pelos usuários. Democracia serve para isso também. E quem tiver coragem e necessidade de vir a Porto Velho terá medo, mas voltará no tempo. O ideal é a rodoviária ficar ali pelo Cai n’Água mesmo. Até que iria combinar com a cidade porca.
*Foi Professor em Porto Velho.
(Leia o blogdotionaza.blogspot.com)
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