R7
Publicada em 18/04/2023 às 10h48
Os intensos combates que começaram há três dias entre o Exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR) no Sudão matou pelo menos 185 pessoas e deixou cerca de 1.800 feridos, segundo o chefe da missão da ONU no país, Volker Perthes.
Dois hospitais da capital, Cartum, foram esvaziados "enquanto foguetes e balas crivavam suas paredes", disseram os médicos, que alegam ter ficado sem bolsas de sangue e material para cuidar dos feridos.
Médicos e organizações humanitárias alertaram que em algumas áreas de Cartum a eletricidade e a água estão cortadas e que há interrupções de energia nas salas de cirurgia.
Os pacientes, alguns deles crianças, e suas famílias "não têm comida nem água", declarou uma rede pró-democrática de médicos.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) suspendeu a ajuda no domingo (16) após a morte de três membros de sua equipe nos combates da província de Darfur (oeste), apesar de mais de um terço dos 45 milhões de sudaneses precisar de ajuda humanitária.
Por causa da situação, a ONU suspendeu as operações no país, disse o porta-voz do secretário-geral, Stéphane Dujarric, ressaltando que "não vai pedir ao seu pessoal que vá trabalhar quando, claramente, a segurança não está garantida".
"Esta é a primeira vez na história do Sudão desde sua independência (em 1956) que se observa tal nível de violência no centro de Cartum", declarou à AFP Kholood Khair, fundadora do centro de pesquisas Confluence Advisory.
A capital sudanesa "sempre foi o lugar mais seguro do Sudão", mas agora "há combates por todos os lados, inclusive em áreas densamente povoadas, porque os beligerantes acreditam que um alto número de civis mortos deterá o outro lado", acrescentou.
Desde o sábado (15), a população está entrincheirada em suas casas, a maioria sem água encanada ou eletricidade.
Na segunda (17), Estados Unidos e Reino Unido pediram o "fim imediato" da violência no Sudão, como já o tinham feito a Liga Árabe e a União Africana.
No mesmo dia, um comboio diplomático americano foi alvo de tiros, informou o secretário de Estado, Antony Blinken.
"Todos os nossos funcionários estão a salvo e ilesos", disse Blinken, que chamou a ação de "insensata".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também pediu aos dois generais que "parem imediatamente com as hostilidades", que podem ser "devastadoras para o país e toda a região". Um pedido similar foi apresentado pelos chefes da diplomacia do G7, reunidos no Japão.
Disputa pelo poder
O conflito no Sudão envolve o comandante do Exército, general Abdel Fatah al Burhan, líder de fato do país, e seu número dois, o general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como "Hemedti", comandante das Forças de Apoio Rápido (FAR).
Em outubro de 2021, eles se juntaram para dar um golpe que tirou os civis do poder.
Desde o sábado (14), intensos tiroteios não param e a aviação tem como alvo, no coração de Cartum, o quartel-general das FAR, um grupo de ex-milicianos que participaram da guerra na região de Darfur e posteriormente se tornou o reforço oficial do exército.
"Burhan está bombardeando civis, vamos caçá-lo e levá-lo à Justiça", disse o general Daglo no Twitter.
O Exército, por sua vez, afirmou no Facebook que "o momento da vitória final está muito próximo".
As FAR alegam ter tomado o aeroporto e entrado no palácio presidencial, o que o Exército nega.
Por sua vez, o Exército afirma controlar o quartel-general de seu Estado-Maior, um dos principais complexos do poder em Cartum.
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