RFI
Publicada em 09/05/2023 às 08h54
Os jornais franceses desta terça-feira (9) destacam as comemorações do fim da Segunda Guerra Mundial na Rússia, que ocorrem um dia depois do que no resto na Europa. A guerra na Ucrânia rouba a cena da data que marca o aniversário da capitulação da Alemanha nazista em 1945.
"Em Moscou, as cerimônias do 9 de maio sob alta segurança" é o título de uma matéria do jornal Le Figaro. O diário informa que o chamado "Desfile de Vitória" mobiliza cerca de 10 mil soldados em Moscou, após atentados e sabotagens atribuídos pelo governo russo à Ucrânia nos últimos dias. "A ameaça culminou no último 3 de maio, com a explosão de dois drones, derrubados sobre o Kremlin, com garantias das autoridades russas de que o presidente Vladimir Putin teria sido visado", diz Le Figaro.
O jornal ressalta que o "Dia da Vitória", que tradicionalmente exalta a participação das tropas soviéticas na derrota da Alemanha de Hitler, é uma forma de reforçar ainda mais o discurso de que a Rússia luta contra a Ucrânia nazista de Volodymyr Zelensky. Para o diário, resta saber se Putin se contentará com sua "leitura revisionista" ou se utilizará o desfile militar desta terça-feira para anunciar uma nova escalada a partir dos territórios invadidos.
O jornal Libération compila algumas trágicas estatísticas da guerra na Ucrânia que a Rússia esconde: 750 mil homens mobilizados, 350 mil fora de combate atualmente, entre eles 80 mil mortos. Um "desastre militar", no qual Putin adota uma "postura defensiva", diz o artigo assinado por Serge July, co-fundador do diário. Para ele, não restam dúvidas que o presidente russo tem interesse que a guerra perdure o máximo de tempo possível para vencer os ucranianos e os países aliados no cansaço. O jornalista afirma que uma boa forma de manchar ainda mais a "operação especial russa" seria, neste 9 maio, que Kiev lançasse sua esperada ofensiva.
Ansiedade e rejeição entre os cidadãos russos
"Rússia, o moral a meio-mastro" é a manchete do jornal La Croix, que traz uma reportagem especial sobre a angústia e as dúvidas da classe média russa diante da continuação do conflito. O correspondente do diário em Moscou conversou com psicólogos que explicaram que o sentimento de ansiedade e rejeição aumenta entre a população, principalmente após a decisão do governo de convocar em massa seus cidadãos para lutar na Ucrânia.
A matéria destaca que, apesar do apoio aparentemente incondicional de grande parte da população russa à chamada "operação especial", uma oposição silenciosa é identificada, principalmente entre a classe média moscovita jovem, instruída e com espírito liberal. Os psicólogos relatam uma espécie de "paralisia" entre seus pacientes, que frequentemente confessam se sentir abandonados pelo Estado, "entre medo e ansiedade", com um forte aumento do uso de medicamentos antidepressivos, álcool e drogas.
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