Metrópoles
Publicada em 10/05/2023 às 14h49
O papa Francisco relatou ter sido vítima de perseguição na Argentina enquanto era arcebispo de Buenos Aires. Segundo o pontífice, o governo da então presidente (hoje, vice) Cristina Kirchner teria dado “indicações” a pelo menos três juízes para condená-lo por condutas durante a ditadura no país, que durou de 1976 a 1983.
Em relato a jesuítas húngaros, no fim de abril, o papa lembrou que prestou um longo testemunho, em 8 de novembro de 2010, sobre as suspeitas de ter entregado dois padres acusados de terem ligações com a guerrilha às forças da ditadura. São eles: Orlando Yorio e Ferenc Jalics. Ele nega as acusações e diz que, anos depois, foi procurado pelos magistrados que dizem ter sofrido “pressões” do governo para acusá-lo.
“Alguns do governo queriam cortar a minha cabeça, e não levantaram tanto essa questão do Jalics [de origem húngara], mas questionaram toda a minha forma de agir durante a ditadura”, contou o pontífice. As informações são do jornal El País.
Segundo Francisco, a oitiva durou mais de quatro horas, e um dos juízes teria insistido “muito” no comportamento dele como arcebispo. “Eu sempre respondi com sinceridade. Mas, para mim, a única questão séria e fundamentada era a do advogado que pertencia ao Partido Comunista. E, graças a essa pergunta, as coisas ficaram claras. No fim, a minha inocência foi provada”, prosseguiu.
Francisco conta ainda que, no bairro onde trabalhavia, havia uma célula de guerrilha. No entanto, os dois jesuítas sequestrados não tinham nada a ver com eles. Eram pastores, não políticos.
“Quando Jalics e Yorio [os dois padres] foram presos pelos militares, a situação na Argentina era confusa, e não estava claro o que deveria ser feito. Fiz o que senti que tinha de fazer para defendê-los. Foi uma situação muito dolorosa”, lembrou o papa.
Suspeitas
Quando Francisco foi eleito papa, em 2013, muitos na Argentina defenderam que ele não havia feito o suficiente pelos detidos desaparecidos durante a ditadura. Ele também foi acusado de cumplicidade com os militares.
Segundo o líder religioso, apesar da incapacidade de condená-lo, os juízes o encontraram anos depois para revelar os motivos por trás das longas horas de depoimento, quando ele tinha assumido o cargo mais alto da Igreja Católica.
“Eu disse ao juiz: ‘Eu mereço ser punido cem vezes, mas não por isso.’ Disse a ele para ficar em paz com essa história. Sim, mereço ser julgado pelos meus pecados, mas, neste ponto, quero ser claro. Também encontrei outro dos três juízes, e me disseram claramente que tinham recebido indicações do governo para me condenarem”, revelou o papa.
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