Rondoniadinamica
Publicada em 22/07/2023 às 09h30
Porto Velho, RO – Não há filme no mundo capaz de superar o “plot twist” apresentado pelo Brasil no decorrer desta década em termos de política.
O cineasta M. Night Shyamalan, realizador de “O Sexto Sentido”, teria inveja se concebesse com dose de intimidade a realidade do brasileiro.
Do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, do PT; passando pela condução de Michael Temer, do MDB; chegando ao mandato de Jair Bolsonaro, do PL; e desembocando, finalmente, no terceiro mandato de Lula, também petista, o período já é histórico por sua pluralidade singular de autoridades no Poder.
A República foi virada do avesso no quesito espectro político: balançou-se da esquerda à extrema-direita, passando, claro, pelo centro. Ou Centrão, com C maiúsculo, como preferir o (a) leitor (a).
A ironia não para por aí. Agora, na condição de oposição, políticos do polo destro como Jaime Bagattoli, do PL, novo senador da República, estão dispostos a buscar uma ferramenta bestializada por eles em discursos, campanhas, textos e entrevistas: o instituto dos Direitos Humanos.
Mais especificamente o órgão internacional relacionado ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
"A postura do Brasil diante dos Atos do Dia 8 de Janeiro me motivou a integrar um grupo de parlamentares, formado por senadores e deputados federais, no qual assinamos um documento direcionado ao Comitê de Direitos Humanos na ONU. Nele, denunciamos as violações de direitos e tratamento desumano vividos por quase 1,2 mil pessoas presas injustamente pelo simples direito de se manifestarem", anunciou.
O pecuarista assinou o documento que foi protocolado por seu colega Eduardo Girão no país errado.
Segundo o Correio Braziliense, “Um grupo de parlamentares errou, por alguns milhares de quilômetros, o local onde deveria entregar um manifesto ao que consideram uma violação aos direitos dos presos pela invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro. Chefiados pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), os congressistas foram à sede das Nações Unidas, em Nova York, quando, na realidade, deveriam ter seguido para Genebra, na Suíça”.
Segue o jornalístico:
“O grupo de parlamentares foi entregar o manifesto ao embaixador do Brasil nas Nações Unidas, Sergio Danese. Com Girão estavam os também senadores Carlos Portinho (PL-RJ) e Magno Malta (PL-ES), além do deputado Marcel Van Hatten (Novo-RS) — todos bolsonaristas e críticos ferozes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
E encerra:
“Em casos de alguma denúncia por violação a direitos humanos, primeiramente tem de ser peticionada ao Comitê de Direitos Humanos da ONU — cuja sede é em Genebra. O erro de endereço cometido pelo grupo de parlamentares foi informado pela colunista Bela Megale, de O Globo, e confirmado pelo Correio. Mesmo assim, Girão, Malta, Van Hatten e Portinho fizeram questão de postar, nas redes sociais, o encontro com Danese. O documento levado pelo grupo foi assinado por 52 congressistas e tem aproximadamente 50 páginas”.
E se a patacoada, si, já não traduz “o mais puro suco da política tupiniquim”, é sintomática a hipocrisia do grupo liderado por Girão e apoiado pelo senador Bagattoli com sua assinatura.
Isto porque o Messias [nome do meio de Bolsonaro] da patota, em suas inúmeras declarações, praticou, reiteradamente, manifestações que tanto apoiavam violações aos direitos humanos quanto as incentivavam.
A lista é extensa:
“O erro da ditadura foi torturar e não matar” (2008 e 2016)
“Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff […] o meu voto é sim” (2016)
“Ele merecia isso: pau-de-arara. Funciona. Eu sou favorável à tortura. Tu sabe disso. E o povo é favorável a isso também” (1999)
“Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, se um dia nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil, começando com o FHC, não deixar para fora não, matando! Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente.” (1999)
“A atual Constituição garante a intervenção das Forças Armadas para a manutenção da lei e da ordem. Sou a favor, sim, de uma ditadura, de um regime de exceção, desde que este Congresso dê mais um passo rumo ao abismo, que no meu entender está muito próximo (1999)
“Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre. Vou botar esses picaretas para correr do Acre. Já que gosta tanto da Venezuela, essa turma tem que ir para lá” (2018)
“Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria” (2018)
O restante pode ser acessado clicando aqui.
Em suma, violações de direitos humanos, se praticadas ou incentivadas por aliados políticos, especialmente se perpetradas pelo aliado-mor, a figura ascendente do todo, não importa. O negócio é fingir indignação para tentar “mitar” com a “bolha”.
Não vai colar.
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