Professor Nazareno
Publicada em 26/09/2023 às 08h10
A atual situação em Porto Velho, capital de Roraima, é muito angustiante. Os rondonienses estão quase que sitiados em sua suja e imunda cidade. Aqui quase ninguém consegue sair por água, por rodovia ou mesmo de avião. Voltamos ao antigo Primeiro Ciclo da Borracha em meados dos anos 1800 quando para se viajar à capital do país, precisaria primeiro viajar de recreio para Manaus e somente de lá ir até o Rio de Janeiro. Por aqui praticamente não há mais aviões disponíveis para se viajar. Até há um ou dois voos regulares por dia, mas o problema é o preço que é de desencorajar qualquer um. As principais companhias aéreas do país diminuíram unilateralmente o seu atendimento aos cidadãos porto-velhenses alegando altas demandas judiciais contra elas. Já a classe política e as autoridades em geral fazem o que sempre fizeram nessas horas tristes: nada.
Hoje para o cidadão comum, aquele que não tem carro próprio, não há como sair tão facilmente assim de Porto Velho. Enquanto a rodoviária nova não sai, a atual está funcionando precariamente perto do porto do Cai n’água em meio à sujeira e à imundície caraterísticas da cidade. Ratos, urubus e muita carniça é a visão caótica de quem chega a esta capital. É preciso usar máscaras para aliviar um pouco a catinga daquele ambiente fétido e promíscuo. Parece até que ainda estamos em plena pandemia do Coronavírus. E como não tem eleições este ano, somente em 2024 é que vão inaugurar o novo terminal de passageiros. Pelo menos essa é a promessa que se escuta. Enquanto isso, turistas e visitantes têm que se conformar com o lodaçal. Se o cidadão chegar num dia de domingo, o tormento aumenta drasticamente, pois ali funciona um feira livre com toda a fedentina.
Porém a poucos metros daquela insalubre e caótica “rodoviária-feira” está o porto de passageiros no rio Madeira. Não se sabe, no entanto, qual dos dois lugares é mais sujo e fedorento. A concorrência é grande entre porto e rodoviária. Só que esse tal porto nada mais é do que um barranco íngreme, cheio de mato, restos de peixe, comida estragada jogada fora, porco e imundo e que não tem sequer um caminho para os passageiros irem até os barcos. O sebento porto de Porto Velho é a cara da própria cidade: sem a menor infraestrutura e que funciona ali desde os anos áureos dos ciclos da borracha na região. O porto rampeado que a Santo Antônio Energia doou à cidade está inoperante há muito tempo, enferrujando a céu aberto e sem data para voltar a atender com um pouco mais de decência os seus passageiros pobres. Nem por terra nem por água se pode sair de Roraima.
No aeroporto a situação é pior ainda, embora o ambiente por incrível que pareça tenha um pouco mais de limpeza. Conseguir um voo saindo daqui para Brasília, São Paulo ou outra cidade civilizada qualquer é só para os ricos, políticos e autoridades. O problema é o preço e as infinitas conexões que nos obrigam a fazer. Há casos de até 24 horas entre esperas e conexões para se chegar a São Paulo. Muita gente viaja a Manaus de barco ou vai até Rio Branco ou Cuiabá para tentar a sorte. Como eu não tenho dinheiro nem muitas necessidades, fico por aqui mesmo desfrutando as belezas da terra dos “destemidos pioneiros”. Essas “paragens do poente” nos oferecem coisas bizarras e surreais para se ver. Na Rondônia bolsonarista da extrema-direita, apesar da pobreza imensa de sua gente, ainda é possível ter portadores de deficiência sem direitos e até pessoas pobres sendo censuradas por que conseguem comer carne só uma vez na semana. Sair daqui para quê?
*Foi Professor em Porto Velho.
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2023/09/professor-nazareno-o-colunista-mais-polemico-do-norte-escreve-como-sair-de-porto-velho,172053.shtml