Professor Nazareno
Publicada em 03/11/2023 às 09h06
Professor Nazareno*
Porto Velho, a capital de Roraima, nunca teve um hospital de pronto-socorro honrado. Há quase 40 anos funciona na zona sul da cidade um arremedo de clínica de urgência e emergência que tem feito as vezes de uma instituição pública de saúde. Sempre viveu lotado e nunca deu conta totalmente das demandas que ali chegam. O João Paulo Segundo de Porto Velho parece com o Al-Ahli Arab, um dos hospitais da Faixa de Gaza. O velho açougue porto-velhense é como um campo de concentração daqueles da Segunda Guerra Mundial. Só que em vez de matar judeus, mata os pobres. Em Gaza, por exemplo, os hospitais públicos de lá, mesmo em tempos de guerra como agora, cuidam quase sempre de palestinos, árabes e também de cidadãos judeus. O velho pronto-socorro daqui foi criado por acaso e até hoje já desafiou oito governadores, prefeitos e todos os políticos.
Mas os otimistas dizem que os problemas podem estar mais perto do fim. Como estamos em um ano pré-eleitoral as promessas para sanar o caos já começaram. Há uma possibilidade de esta capital ter em um futuro muito próximo “uma penca” de hospitais de pronto-socorro para atender aos seus pobres e miseráveis pacientes. Fala-se em três ou até mesmo em quatro novas unidades de atendimento por aqui que surgirão “assim do nada”. Só que a tão badalada construção do HEURO, Hospital de Emergência e Urgência de Porto Velho, pelo governo do Estado, parece que vai terminar mesmo em “beiju de caco”. Inventaram até um nome pomposo em inglês só para enganar os trouxas: “Built to Suit”, que numa tradução livre pode significar “construído para se adequar”. Só que até agora não se adequou a absolutamente nada e sua construção pode até parar. Né incrível?
Outra possível enganação política aos pacientes desassistidos de Porto Velho pode já estar a caminho: é o pronto-socorro municipal. A prefeitura da cidade já canta aos quatro cantos que tem pelo menos 50 milhões de reais para iniciar a construção do novo logradouro público de saúde. Dizem que deve ser construído ali perto da maternidade municipal no bairro Embratel. Uma prefeitura que em oito longos anos desarborizou quase toda a cidade, não construiu nada de esgotos e saneamento básico, não limpou a cidade da imundície característica, não entregou a EFMM aos moradores, deixou o porto rampeado enferrujar a céu aberto, não construiu uma praça sequer, fez na zona Norte uma rua toda torta, sem árvores e diz que vai entregar uma nova rodoviária durante as eleições de 2024, não é nada confiável. O eleitor de extrema-direita continua sendo alvo de lorotas.
O terceiro açougue de Porto Velho poderia ser o João Paulo Segundo mesmo ali na Avenida Campos Sales. Com o HEURO na zona Leste e o pronto-socorro municipal próximo ao centro, a zona Sul da imunda cidade poderia ficar com o seu antigo hospital. Afinal de contas muita gente já está devidamente acostumada às humilhações, correrias, mortes e privações vividas naquele lugar. Mas por incrível que pareça, há uma quarta opção de açougue para Porto Velho. O ex-governador Confúcio Moura começou a construção de outro ali por trás do Hospital de Base na zona Norte. Toda a fundação com inúmeros pilares e algumas plataformas estão abandonados no tempo testemunhando a incompetência e a má vontade dos nossos políticos em atender aos pobres e necessitados. Porto Velho tem vários palácios suntuosos, fóruns judiciais, há ricas instituições públicas, Assembleia Legislativa, CPA, Ministérios Públicos. Mas não tem um só açougue decente.
*Foi Professor em Porto Velho
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2023/11/a-cidade-dos-quatro-acougues,175163.shtml