Professor Nazareno
Publicada em 06/05/2024 às 08h09
Por causa das mudanças climáticas, o Rio Grande do Sul tem vivido dias tenebrosos neste início/meio de 2024. Chuvas torrenciais têm castigado o estado gaúcho em proporções jamais vistas. Cidades inteiras da paradisíaca Serra Gaúcha estão submersas. O número de mortos e desaparecidos já chega a mais de cem pessoas. Os prejuízos são incalculáveis. Em vez de estar passeando de Jet Ski, o presidente Lula foi ao estado, mandou ajuda e pôs vários de seus ministros à disposição do governador Eduardo Leite. Enquanto isso, o senador recém-eleito do Rio Grande, Hamilton Mourão, ex-vice presidente de Jair Bolsonaro, sequer deu uma só entrevista se solidarizando com seus eleitores. Mas de quem é a culpa por este terrível estado de calamidade que os gaúchos infelizmente estão vivendo? Há um causador para que isso esteja acontecendo?
Na verdade, os maiores responsáveis por esta tragédia são muitos. E Rondônia se encontra dentre eles. A criação deste jovem e caótico estado da região norte do país foi praticamente baseada na destruição da natureza. A partir da década de 1980, ironicamente para desafogar a região sul dos inúmeros problemas socais no campo por causa da recente mecanização agrícola, o governo militar resolveu transformar o então território de Rondônia em estado. Havia também a necessidade de aumentar na época o número de parlamentares da Arena, o partido que dava sustentação à cruel ditadura militar. E assim foi feito. Vastas extensões de florestas virgens foram devastadas. Índios foram mortos e muitos animais extintos. Rondônia foi um dos maiores desastres ambientais de toda a história da humanidade. Ainda assim, riqueza e prosperidade nunca deram as caras aqui.
Ao longo da BR-364, entre Cuiabá no Mato Grosso e Porto Velho, a devastação da exuberante cobertura vegetal local deu lugar a muitas cidadezinhas pobres. E é claro que toda esta agressão à natureza antes intacta trouxe problemas e turbinou as mudanças climáticas que estão sendo vivenciadas já nos dias atuais. O clima mudou e continua mudando em todo o mundo. O vento, agora quente e úmido, viaja para o sul do Brasil causando esses transtornos que gaúchos e catarinenses estão passando. A destruição da Amazônia é a consequente destruição do mundo civilizado. Mas as desgraças não param por aí. Em Rondônia estupraram o majestoso rio Madeira ao construir duas grandes hidrelétricas em seu calmo leito. O povo originário, enganado, influenciado e incentivado só pelos interesses capitalistas, aderiu ao projeto e hoje também já sofre as consequências.
Agredir a natureza em Rondônia é uma espécie de hobby. Do pequeno ao grande produtor, praticamente todos já devastaram o seu quinhão. E como se vê, não saciaram ainda a sua vontade. Está chegando agora o verão e com ele os grandes incêndios do que ainda resta de florestas. A fumaça vai nos acompanhar sem tréguas nos próximos meses. Mas como se todas estas desgraças não bastassem, os rondonienses, de novo incentivados pelos interesses escusos, bradam aos quatro cantos pela reconstrução da BR-319. Isso certamente gerará mais devastação ambiental, mais invasões de terras, mais derrubadas e muito mais problemas, principalmente em outras regiões do Brasil como estas enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul. Aqui, vê-se quase que diariamente pessoas pedindo a volta do garimpo poluidor no já estuprado e morto rio Madeira. Além de ajudar, Rondônia deveria era pedir desculpas aos gaúchos: destruir a natureza tem consequências.
*Foi Professor em Porto Velho.
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2024/05/rondonia-sacaneia-os-gauchos-por-professor-nazareno,189671.shtml