Sandra Cohen/G1
Publicada em 04/07/2024 às 10h42
Num indicativo de que jogou a toalha e já se conformou com a derrota, o primeiro-ministro britânico fez um apelo aos eleitores para que impeçam uma supermaioria dos trabalhistas nas eleições desta quinta-feira (4). Para os conservadores liderados por Rishi Sunak, falta apenas avaliar o tamanho do desastre neste acerto de contas com o partido moribundo e desgastado por 14 anos no poder.
Com uma vantagem de 20 pontos sobre os conservadores nas pesquisas, a expectativa é que o Partido Trabalhista, de Keir Starmer, possa obter uma maioria equivalente à conquistada em 1997 pelo Novo Trabalhismo de Tony Blair, de 418 das 650 cadeiras do Parlamento.
Daí o apelo de Sunak, que soou fantasioso: “Se apenas 130 mil pessoas mudarem a sua direção de voto e nos apoiarem, podemos impedir que Starmer alcance essa maioria absoluta”, calculou o premiê. Na véspera das eleições, um de seus ministros mais leais — Mel Stride, do Trabalho — previu uma vitória esmagadora dos trabalhistas, “maior até do que a de 1997”.
Do campo conservador, outras vozes ecoaram o fracasso da campanha. Suella Braverman, ex-ministra do Interior, disse, num artigo ao “Telegraph”, que a vitória não deveria ser mais o objetivo dos chamados tories: “A votação de quinta-feira agora é sobre formar uma oposição forte o suficiente. É preciso ler o que está escrito: acabou. Precisamos nos preparar para a realidade e a frustração de ser oposição.”
Cauteloso, o candidato trabalhista, que deverá ser consagrado mais tarde o novo premiê britânico, desdenhou essas manifestações apocalípticas do campo opositor e atribuiu-as a uma manobra para confundir o eleitor, dando a sensação de que o jogo está definido antes mesmo da abertura das urnas. “É mais do mesmo, realmente uma supressão de votos. É tentar fazer com que as pessoas fiquem em casa em vez de sair e votar”, advertiu Starmer.
Mas, a contar pela estabilidade das pesquisas de opinião nas últimas semanas, a mudança de ventos, com a vitória trabalhista, é dada como certa. Jornais como “Financial Times”, “The Guardian”, “Independent” e até mesmo o tabloide “The Sun”, de Rupert Murdoch, que sempre apoiou os conservadores, deram apoio aos trabalhistas.
Eleição no Reino Unido acontece nesta quinta; centro-esquerda é favorita para conquistar maioria e indicar primeiro-ministro
Em seu editorial, o “FT” considerou que o Reino Unido deve escolher entre um partido conservador polarizador, que limitou seu apelo a um segmento cada vez mais restrito da população, e um partido trabalhista, que parece querer governar para todo o país. “Os riscos de permanecer com os titulares exaustos superam os de trazer um novo governo. Grande parte do país anseia por um novo começo. O Partido Trabalhista deve ter a oportunidade de oferecê-lo.”
Os cinco governos tumultuados do Partido Conservador desde 2010 traduzem o cansaço do eleitor, que em 14 anos, enfrentou a dramática saída da União Europeia, os cortes de gastos em serviços públicos e assistência social, a pandemia do coronavírus e escândalos em série envolvendo seus líderes.
A insatisfação no país gira em torno do fraco crescimento econômico, do alto custo de vida, da preocupação com o sistema público de saúde e da desconfiança nos governos conservadores para solucionar a crise migratória.
Este desgaste conservador coincidiu com a aproximação dos trabalhistas ao centro. Após a dramática derrota eleitoral em 2019, o moderado Keir Starmer foi eleito líder, substituindo Jeremy Corbyn, representante da ala esquerdista do partido. Ele assumiu o leme e o direcionou para o centro, promovendo um expurgo dos setores radicais.
“Este expurgo transformou o Partido Trabalhista em uma imagem espelhada dos conservadores: obsequioso em relação às grandes empresas, defendendo a austeridade em casa e o militarismo no exterior”, analisou o jornalista britânico Oliver Eagleton, autor do livro “The Starmer Project”, em artigo publicado no “New York Times”.
Com esses argumentos, o novo líder trabalhista atraiu conservadores moderados e insatisfeitos, enquanto Sunak, isolado, perdeu os mais radicais para a extrema direita, do populista Nigel Farage.
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