G1
Publicada em 09/08/2024 às 10h09
A ex-embaixadora da Nicarágua no Brasil expulsa na quinta-feira (8) pelo Itamaraty em retaliação à expulsão do embaixador brasileiro em Manágua, será ministra do governo do presidente Daniel Ortega, segundo o governo nicaraguense.
Fulvia Castro, que estava à frente da diplomacia nicaraguense no Brasil havia apenas três meses, será nomeada Ministra de Economia Familiar, segundo anunciou a vice-presidente nicaraguense, Rosario Murillo, também esposa de Ortega.
A expulsão dos dois embaixadores foi a culminação de uma crise diplomática sem precedentes entre Brasil e Nicarágua. Na quarta-feira (7), o governo nicaraguense determinou a expulsão do agora ex-embaixador brasileiro em Manágua, Breno Souza da Costa.
A decisão foi uma retaliação à ausência do diplomata na celebração oficial dos 45 anos da Revolução Sandinista -- o presidente nicaraguense, Daniel Ortega, é um ex-guerrilheiro do movimento sandinista (leia mais abaixo).
O Itamaraty afirmou que o embaixador brasileiro foi instruído a não comparecer ao evento porque o Brasil congelou em abril as relações com a Nicarágua por um ano em retaliação à prisão de padres e bispos no país por Ortega ter se negado a soltar um bispo cuja libertade o Vaticano pedia e o Brasil tentava mediar.
A ex-embaixadora nicaraguense já deixou Brasília, ainda de acordo com o Itamaraty.
"Fulvia Castro Castro está na rota para nossa Nicarágua, onde desempenhará a função de ministra de Economia Familiar a partir da sua chegada", declarou Murillo.
Crise Brasil-Nicarágua
A expulsão dos embaixadores também foi um indicador de como as relações entre os governos de Lula e Ortega, antigos aliados, vêm se deteriorando nos últimos anos.
Na quarta-feira , uma fonte do Itamaraty disse ao g1 que a Embaixada do Brasil na Nicarágua recebeu uma queixa formal na semana passada do governo local, que também ameaçou expulsar o embaixador.
O governo da Nicarágua ainda não havia se manifestado sobre a expulsão até a última atualização desta reportagem, mas, também na quarta, a imprensa local noticiou a decisão de Manágua de expulsar o diplomata brasileiro com base em fontes do governo local.
A expulsão de um embaixador brasileiro é um gesto grave nas relações diplomáticas entre dois países e indica a piora nas relações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o governo do nicaraguense Daniel Ortega, de quem Lula já foi aliado.
Em 2022, o governo de Daniel Ortega iniciou uma ofensiva contra a Igreja Católica do país, confiscando imóveis, dissolvendo ordens jesuítas e prendendo padres e bispos que denunciavam a guinada autoritária do líder esquerdista.
O Brasil tentava atuar como mediador entre o Vaticano e Manágua e pedia que o governo nicaraguense que soltasse bispos presos no país desde 2022. No entanto, decidiu romper com o governo nicaraguense após Ortega se negar a soltar o bispo católico Rolando Álvarez, um dos principais críticos da gestão de Ortega.
Álvarez foi preso pela primeira vez em 2022. Depois, com a mediação do Brasil e a pedido do Vaticano, foi solto, mas o governo exigiu que ele deixasse a Nicarágua. O bispo se recusou e, por isso, foi preso novamente.
O fracasso nessa negociação aprofundou o afastamento entre Lula e Ortega. O Vaticano, na ocasião, rompeu relações com a Nicarágua e passou a classificar o país como uma ditadura.
Há 17 anos no poder, Ortega também é acusado por críticos de ditador e nepotismo -- sua própria esposa, Rosario Murillo, é a vice-presidente do país e, no ano passado, e ele já nomeou diversos parentes para seu governo.
O ex-guerrilheiro alega que seu governo é do povo e defende a soberania do país dos "ataques" dos Estados Unidos.
Segundo o índice V-DEM, que mede o status das democracias pelo mundo, a Nicarágua é uma autocracia. O presidente é Daniel Ortega, reeleito para o quarto mandato em 2021, em eleições apontadas pelos Estados Unidos como nem justas nem livres.
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