G1
Publicada em 23/08/2024 às 10h05
Em apenas um mês, Kamala Harris conseguiu o impensável: transformou a narrativa da eleição e refez rapidamente a unidade de um partido que estava dividido e caminhando para um desastre nas urnas. Mais do que os delegados que lotaram o estádio do Chicago Bulls, ela focou nos eleitores indecisos e independentes que assistiam pela TV ao discurso de aceitação como candidata democrata à Presidência dos EUA.
A ascensão repentina da vice-presidente americana catapultou o adversário Donald Trump para a defensiva, reduzindo sua campanha a insultos e mentiras. Kamala se apresentou como unificadora, tal como fez Biden na mesma posição, quatro anos atrás, ao encerrar a convenção democrata.
Ela imprimiu um estilo próprio — o da sobriedade, repleto de referências patrióticas. Foi direta e concisa, diferentemente de Trump, que se perdeu em frases desconexas na convenção republicana em Milwaukee.
“Nessa eleição, a nossa nação tem uma oportunidade para avançar adiante da amargura, do cinismo, uma chance de mapear um novo caminho para o mundo. Muitas pessoas de visões diferentes nos assistem. Vou pôr o país acima da minha pessoa. Eu serei uma presidente que vai nos unir em torno das nossas maiores aspirações.”
Nas palavras da candidata, o claro recado ao adversário, a quem fez questão de nomear diversas vezes como ameaça ao país: ela prometeu ser uma presidente que lidera e escuta, que é realista, prática, tem bom senso e luta pelo povo americano. “Do tribunal à Casa Branca, esse tem sido o trabalho da minha vida”, assegurou.
Boa parte do discurso foi dedicada a expor suas diferenças em relação a Trump e ao perigo que um segundo mandato do ex-presidente representaria para os americanos. “Imagine Donald Trump sem barreiras de proteção”, ponderou, referindo-se à decisão da Suprema Corte que assegurou a imunidade aos processos criminais.
Aos críticos — especialmente Trump — que a retratam como uma candidata vazia e pouco inteligente, Kamala ofereceu uma amostra da bagagem adquirida nos últimos quatro anos como vice-presidente de Biden.
Em resposta aos manifestantes que protestaram contra a guerra em Gaza, nas imediações do estádio, ela mostrou estar alinhada ao presidente: fez uma defesa contundente ao direito de Israel se defender do terror e lamentou a escala de sofrimento no território palestino nos últimos dez meses, sem atribuí-la a Israel.
A candidata reforçou a liderança global dos EUA e advertiu que, ao contrário de Trump, não abandonará a Otan e os aliados do país e lembrou que ditadores como Kim Jong-un torcem pela vitória do republicano.
Foi um discurso enxuto no qual Kamala Harris exibiu as credenciais de promotora durona, no papel que ela escolheu para exercer em sua carreira — o de representante do povo.
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