G1
Publicada em 05/09/2024 às 10h55
Diferentes partidos de esquerda criticaram o presidente da França, Emmanuel Macron, pela escolha de Michel Barnier como novo primeiro-ministro após mais de um mês de demora para a escolha do titular do cargo.
O bloco de esquerda foi o mais votado das eleições legislativas francesas, realizadas em dois turnos entre junho e julho. Porém, como não conquistou a maioria absoluta dos assentos, ela não teve força suficiente para nomear, sozinha, independente da vontade de Macron, um novo primeiro-ministro.
O Partido Socialista afirma que vai se opor o novo premiê.
Jean-Luc Mélenchon, liderança histórica da esquerda do país, afirmou que a eleição legislativa foi "roubada do povo".
"O presidente decidiu negar oficialmente o resultado das eleições legislativas que ele mesmo convocou. Não será a Nova Frente Popular [NFP, a aliança de partidos de esquerda], que saiu vencedora das eleições, que terá o primeiro-ministro. A eleição, portanto, foi roubada do povo francês. A mensagem [do povo] foi negada", declarou.
A deputada Mathilde Panot, do partido França Insubmissa, também parte da NFP, disse que "52 dias após o governo ser derrotado nas urnas, Macron continua a ver a si mesmo como um autocrata".
"Ao nomear Michel Barnier, o presidente se recusa a respeitar a soberania popular e a escolha feita na cabine de votação", disse a parlamentar. A frente de esquerda convocou protestos para o próximo sábado (7).
O Partido Socialista afirma que a nomeação "não dispõe nem da legitimidade política, nem da legitimidade republicana" e que a situação "é de extrema gravidade". Por isso, a sigla anunciou que vai se alinha à oposição de seu governo.
Já a Renovação Nacional, principal partido de extrema direita, afirmou que vai aguardar o discurso de inauguração de Barnier para tomar uma decisão quanto ao seu posicionamento.
Escolha de Michel Barnier
Após meses de paralisia política, da ascensão da extrema direita e de uma vitória surpreendente da esquerda, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta quinta-feira (5) ter escolhido o conservador Michel Barnier para ser o novo primeiro-ministro do país.
Com a nomeação, Macron, que sofreu uma dura derrota política em junho, quando seu partido teve um desempenho ruim nas eleições para o Parlamento Europeu, conseguiu driblar tanto a extrema direita como a esquerda do país e fez uma manobra arriscada para seguir governando.
Isso porque Barnier, político de centro-direita, é aliado de Macron — na França , presidente e primeiro-ministro governam em conjunto, mas não precisam, necessariamente, ser aliados, já que cada cargo é eleito em eleições diferentes.
Se o premiê fosse um opositor ao presidente, no entanto, a França teria o chamado governo de coabitação, Macron acabaria perdendo autonomia para governar, e seu cargo ficaria limitado a poucas funções dentro da França.
Veterano na política francesa, Barnier, que já foi por quatro vezes ministro da França e chegou a tentar a presidência do país, se tornará o premiê mais velho da história do país europeu. Aos 73 anos, ele sucede Gabriel Attal, que foi o mais novo da história no mesmo cargo.
A França havia ido às urnas em junho para escolher um novo premiê em eleições antecipadas pelo próprio Macron após seu partido ter um desempenho ruim nas eleições europeias. No pleito, que elege deputados de todos os países da União Europeia para constituir o Parlamento Europeu, a extrema direita francesa saiu vencedora.
Na ocasião, um bloco formado por partidos da esquerda saiu vencedor, mas sem alcançar os votos necessários para formar maioria no Parlamento e nomear um primeiro-ministro. As negociações para a formação dessa maioria ficaram paralisadas por conta da realização das Olimpíadas em Paris.
Na retomada das conversas, em agosto, a esquerda sugeriu um nome para ocupar o cargo, mas Macron rejeitou a proposta e decidiu escolher um nome à revelia dos partidos com os quais negociava — o que é permitido por lei na França.
Mas, apesar de estar amparada pela Legislação francesa, a decisão de Macron pode ter um alto custo político. Ao escolher um próprio primeiro-ministro, o presidente pode ser alvo de uma moção de censura no Parlamento. Caso seja reprovado, ele tem de deixar o governo.
A aposta de Macron depende agora do Parlamento, que terá maioria da esquerda, a vencedora do pleito. O Legislativo francês estava com atividades suspensas e deve ser retomado nos próximos dias.
Na semana passada, Macron foi chamado de "autocrata" pela esquerda francesa ao rejeitar o nome sugerido pelo bloco vencedor. O presidente argumentou que a sugestão do bloco esquerdista atendia apenas aos interesses deles próprios.
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2024/09/esquerda-chama-macron-de-autocrata-e-diz-que-vai-se-opor-ao-novo-primeiro-ministro-da-franca,198842.shtml