G1
Publicada em 11/09/2024 às 15h40
Nesta quarta-feira (11), horas após o debate na rede de TV ABC, Kamala Harris e Donald Trump se reencontraram e trocaram um aperto de mãos educado em uma cerimônia em homenagem aos mortos no ataque de 11 de setembro, em Nova York.
A vice-presidente, que segundo analistas conseguiu desbancar o ex-presidente e candidato republicano com sua performance nesta terça, estava acompanhada do atual presidente, Joe Biden.
Além da cerimônia em Nova York, Harris e Biden ainda irão até os outros dois locais atingidos pelos aviões usados pelos terroristas para o ataque: Shanksville, na Pensilvânia, e o Pentágono, em Washington.
Em entrevista, Trump diz que debate foi 'manipulado'
Donald Trump responde pergunta durante debate da ABC News, em 10 de setembro de 2024 — Foto: REUTERS/Brian Snyder
Nesta quarta, em entrevista ao canal Fox News, Trump afirmou que o debate foi "manipulado" contra ele, mas não apresentou evidências da acusação.
"Foi um acordo manipulado, como eu presumi que seria. Você vê pelo fato de que estavam corrigindo tudo, mas não corrigiam ela", reclamou.
Trump também atacou a cantora e superestrela Taylor Swift por ter declarado apoio a Kamala Harris.
"Eu não sou fã de Taylor Swift... Ela é uma pessoa muito liberal. Ela parece sempre apoiar um democrata e, provavelmente, ela pagará um preço por isso em suas vendas no mercado", disse.
O primeiro debate de Kamala e Trump
O primeiro debate entre Donald Trump e Kamala Harris, na noite desta terça-feira (10), foi marcado por trocas de acusações em temas centrais da corrida à Casa Branca e pelo tom mais assertivo de Harris, que empurrou o adversário para a defensiva e conseguiu se impor até em temas mais confortáveis para Trump, como imigração e economia.
Enfática e expressiva, Kamala Harris investiu em ataques a Trump e procurou se desassociar de Joe Biden ao mesmo tempo em que defendeu seu governo. Com oratória segura, ela também evocou seu passado como procuradora-geral, deixando de lado dúvidas sobre se conseguiria lidar com acusações de Trump. Mesmo sem o apoio de sua equipe e do uso de anotações, que não puderam entrar no auditório do debate, ela deu respostas rápidas.
Segundo levantamento do jornal "The New York Times", Trump passou a maior parte do debate, de pouco mais de 90 minutos, se defendendo de ataques da adversária, ao contrário do enfrentamento que teve em junho contra o presidente Joe Biden. Na ocasião, o republicano foi quem mais fez ataques.
Donald Trump, que começou o debate repetindo o tom mais calmo que adotou no cara a cara contra Biden, também foi optando por falas mais agressivas ao longo do enfrentamento em reação a provocações constantes da adversária.
Ele tentou atrelar a democrata a Joe Biden, buscando tirar proveito do mau desempenho do presidente. "Ela é Biden. Ela está querendo se afastar de Biden, mas ela é Biden", disse.
"Claramente, eu não sou Biden, e certamente não sou Donald Trump. Estou querendo oferecer uma nova geração de líderes aos americanos", retrucou Kamala Harris. "Deixe eu te lembrar que você não está concorrendo com o Joe Biden. Você está concorrendo comigo."
A atual vice-presidente dos EUA disse ter passado os quatro últimos anos "limpando a bagunça de Donald Trump". Ela o acusou de deixar o governo com altas taxas de desemprego e com uma política externa desastrosa, além de ter criticado sua gestão da pandemia.
Kamala foi especialmente enfática e cresceu no debate ao ser questionada sobre aborto. Disse que seu adversário vai liderar um "plano nacional para banir o direito ao aborto", o que Trump negou.
O ex-presidente acusou a adversária de "querer fazer operações transgênero pelo país", chamou-a de "marxista" e disse que os EUA se tornarão "uma Venezuela com anabolizante" caso Harris vença. Ele também a acusou de ter um plano para "confiscar as armas de todo mundo", o que a democrata não só negou como retrucou dizendo que ela própria e seu candidato a vice, Tim Walz, têm armas.
"Kamala e eu somos portadores de armas. Nós não vamos retirar seus direitos protegidos pela Segunda Emenda (da Constituição). Só vamos impedir que seus filhos sejam baleados na escola", disse Walz, após o debate.
Também depois do debate, sua equipe se queixou das correções rede de TV ABC, que realizou o debate e fez checagens em tempo real. O próprio Donald Trump afirmou ter achado o mesmo e disse que o debate "foi um 3 contra 1".
Discurso anti-imigração de Trump
Além dos ataques, o republicano insistiu em discursos voltados ao seu eleitorado, como o de que o país está sendo "invadido" por criminosos estrangeiros.
Em cinco ocasiões diferentes, Trump repetiu o discurso anti-imigração, desvirtuando de outros temas. Chegou a dizer que imigrantes estão comendo cachorros de norte-americanos, fala que foi seguida de uma risada alta de Kamala Harris e de uma correção quase imediata dos apresentadores.
Primeiro encontro frente a frente
O enfrentamento foi também o primeiro encontro entre o republicano e a democrata, que nunca haviam ficado frente a frente ao vivo. Antes mesmo do início do debate, quando entraram no estúdio, Kamala Harris adotou uma postura mais assertiva. Caminhou até o púlpito do candidato republicano, estendeu a mão e disse: "bom te ver".
Para Kamala Harris, o debate foi a primeira e, talvez, a única oportunidade de se apresentar para o público geral e de tentar fazer chegar ao eleitorado de Trump o discurso de que seu rival, um bilionário, só governará para si mesmo, enquanto ela, uma ex-procuradora-geral, seguirá pensando no povo. Uma pesquisa do "The New York Times" afirmou que 28% dos eleitores não sabem bem quem ela é.
Ao responder à primeira pergunta, sobre economia, ela disse "vim da classe média e seguirei governando para a classe média", enquanto, segundo Kamala, Trump "governará para ele mesmo". "Meus valores não mudaram", afirmou a democrata, que se esquivou ao ser questionada sobre se a economia do país estava melhor agora do que há quatro anos. Ela disse apenas que reduzirá taxas para a compra de imóveis.
Raça
Como esperado, Donald Trump evitou ataques pessoais a Kamala Harris, mas foi perguntado pelos apresentadores por que questionou a identidade racial da adversária durante um comício em julho.
"Eu não ligo para o que ela é, não podia me importar menos. Eu disse aquilo porque li que ela não disse que era branca", disse o republicano.
Harris, que também tem evitado explorar demais as questões de raça e gênero, aproveitou o momento para evocar o passado "racista" de Trump. "É uma tragédia que tenhamos alguém que queira ser presidente e que tenta usar a raça para dividir o povo americano. Não queremos essa abordagem, especialmente sobre raça", disse.
Guerra em Gaza e na Ucrânia
Quando os temas de Israel e da guerra em Gaza foram colocados no debate, as atenções se voltaram para Kamala Harris. Os comícios dela têm sido alvo de protestos pró-Palestina por conta do apoio que o governo de Joe Biden tem dado a Israel desde o início do conflito.
Em uma fala repetida e sem riscos, a democrata disse apoiar o direito de defesa de Israel, mas afirmou acreditar que "vidas inocentes demais foram perdidas em Gaza", e que, por isso, defende o acordo de cessar-fogo e a solução de dois Estados.
Trump foi mais enfático ao falar sobre o tema: "Se eu fosse presidente, a guerra nunca teria começado. Se eu fosse presidente, a Rússia nunca teria invadido a Ucrânia. Eu conheço o Vladimir Putin muito bem".
Ele também acusou Harris de "odiar Israel e a população árabe".
Aproveitando o gancho aberto pelo próprio adversário ao mencionar Putin, a democrata disse que "é sabido que ele admira ditadores" e afirmou que, se a guerra na Ucrânia tivesse ocorrido na gestão de Trump, o presidente russo estaria "sentando em Kiev olhando para a Europa" e teria "almoçado" o republicano.
Ainda sobre o conflito na Ucrânia, Trump disse que tem "um bom relacionamento" tanto com Putin quanto com presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e prometeu que dará um fim à guerra caso seja eleito. Já Biden, afirmou o republicano, não tem boa relação com nenhum dos dois.
Kamala isolada e em treinamento
Antes do debate, a vice-presidente democrata passou o fim de semana reclusa em intenso treinamento com especialistas em debates. A ideia era prepará-la para as regras rígidas do debate — os candidatos não puderam nem levar anotações nem se comunicar com suas equipes — e para um desempenho bem mais confiante e assertivo que o de Joe Biden, em junho.
Na ocasião, o atual presidente norte-americano, também sem anotações prévias ou comunicação com sua equipe, teve um desempenho muito ruim: confundiu temas, mostrou-se apático e deu o pontapé para uma enxurrada de pedidos para que desistisse da corrida eleitoral, o que ele acabou fazendo cerca de um mês depois.
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