Carolina Cimenti, Luisa Belchior, TV Globo e g1
Publicada em 27/09/2024 às 15h18
Por determinação do Itamaraty, a Missão do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) não acompanhou o discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante a Assembleia Geral da ONU.
A comitiva brasileira, segundo fontes diplomáticas e da Missão do Brasil na ONU, se retirou antes de que Netanyahu fosse chamado, como uma forma de protesto. Israel trava uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza há quase um ano e, desde a semana passada, começou a bombardear o Líbano em conflitos contra o Hezbollah. Mais de 700 pessoas já morreram nos ataques.
O ato da diplomacia brasileira foi anterior à retirada em massa de outras delegações, em maioria de países árabes, quando Netanyahu foi chamado pelo presidente da sessão (veja vídeo acima). A intenção, ainda de acordo com as fontes, era fazer uma saída discreta, o que, na diplomacia, é um ato de protesto leve a algum país — neste caso, a Israel.
A retirada, segundo fontes da Missão do Brasil da ONU, foi uma orientação do governo brasileiro. O Itamaraty confirmou e disse que quis fazer o protesto por conta da morte de dois brasileiros nos ataques do Líbano e da crise humanitária na Faixa de Gaza.
Na quinta-feira (26), a delegação do Brasil compareceu ao discurso do presidente da Autoridade Nacional da Palestina (ANP), Mahmoud Abbas — a Palestina é reconhecida como um Estado pela organização e por 142 países que integram a ONU, entre eles o Brasil.
Discurso
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, mostra um mapa do Irã e aliados com a inscrição"a maldição" durante discurso na Assembleia Geral da ONU, em 27 de setembro de 2024. — Foto: Eduardo Munoz/ Reuters
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse nesta sexta-feira (27) que Israel está vencendo a guerra e que busca a paz, mas que enfrentará inimigos como o Irã até o final.
"Não há nenhum lugar no Irã que Israel não posssa alcançar", disse o líder israelense, em discurso na Assembleia Geral da ONU.
A fala do premiê de Israel, atualmente em guera na Faixa de Gaza e no Líbano, era uma das mais esperadas da Assembleia Geral, em que líderes dos 193 países da ONU fazem discursos. Quando ele foi chamado na sessão, dezenas de membros de delegações abandonaram o plenário da ONU (veja vídeo abaixo), e houve aplausos e vaias. O presidente da sessão teve de pedir silêncio.
O premiê disse desejar "a bênção de uma reconciliação histórica entre árabes e judeus", mas indicou que seguirá com os bombardeios no Líbano. "Enquanto o Hezbollah escolher o caminho da guerra, Israel não tem outra opção", afirmou.
Israel vem bombardeando regiões do Líbano há uma semana, em uma nova página do conflito no Oriente Médio que já deixou mais de 700 mortos. O governo israelense afirma que o alvo é o Hezbollah, grupo extremista financiado pelo Irã que nasceu no Líbano com o intuito de lutar contra Israel.
Sem mencionar a proposta feita pelos Estados Unidos, seu principal aliado, sobre um cessar-fogo no conflito contra o Hezbollah, alegou que está lutando também pelo Ocidente.
"Não estamos só nos defendendo. Também estamos defendendo vocês contra um inimigo comum que ameaça nosso modelo de vida", discursou, em referência ao Irã. "Israel vem tolerando essa situação intolerável por quase um ano. Bem, eu vim aqui hoje para dizer que já chega", disse.
"Eu não pretendia vir aqui este ano. Meu país está em guerra, lutando por sua sobrevivência. Mas depois de ouvir mentiras contra meu país por muitos aqui, resolvi vir", disse. "Israel busca a paz, torce pela paz, e vai tornar a fazer a paz. No entanto, enfrentamos um inimigo selvagem e precisamos combatê-lo".
No discurso, ele acusou o Irã de ter bombardeado Israel diretamente pela primeira vez, com mísseis lançados na quinta-feira (26) direto do território iraniano. E disse que está preparado para uma guerra contra o país. "Se vocês atacarem a gente, nós te atacaremos", afirmou.
A delegação do Irã foi uma das que se levantaram do plenário antes do início do discurso de Netanyahu.
O premiê afirmou no discurso que, em quase um ano de guerra na Faixa de Gaza, Israel já matou ou capturou "mais da metade dos 40.000 soldados do Hamas" e afirmou estar "pronto para apoiar uma administração civil local comprometida com a paz".
"Essa guerra pode ter um fim agora. Tudo o que falta é que o Hamas se renda, entregue as armas e devolva os reféns", afirmou. "Não queremos ver uma só pessoa, uma só pessoa inocente, morrer. Isso é sempre uma tragédia".
Citou ainda uma passagem na Bíblia que diz que "a alternativa de Israel não falhará". "Essa promessa antiga sempre foi mantida, e seguirá sempre mantida".
"Ano passado, eu disse aqui que enfrentamos a mesma escolha atemporal que Moisés colocou diante do povo de Israel há milhares de anos, quando estávamos prestes a entrar na terra prometida. Moisés nos disse que nossas ações determinarão se deixaremos às gerações futuras uma bênção ou uma maldição, e essa é a escolha que enfrentamos hoje, a maldição da agressão incessante do Irã, ou a bênção de uma reconciliação histórica entre árabes e judeus.
Uma semana de ataques
Nove pessoas de uma mesma família morreram em um bombardeio à cidade de Shebaa, no sul do Líbano, nesta sexta-feira (27), que deixou 25 mortos no total. Quatro delas eram crianças, segundo o prefeito da cidade, Mohammad Saab.
Do outro lado, as Forças Armadas de Israel disseram que o Hezbollah lançou mísseis contra a cidade de Haifa, a terceira maior de Israel e que virou alvo do grupo extremista desde o início da escalada dos conflitos entre as duas partes.
A escalada da troca de ataques entre Israel e o Hezbollah — que já acontecia de forma constante desde o início da guerra na Faixa de Gaza, há quase um ano — ocorreu após explosões em série de pagers e walkie-talkies de membros do Hezbollah, que acusam Israel pelo ataque.
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