Rondoniadinamica
Publicada em 28/09/2024 às 10h26
Porto Velho, RO – Na reta final da corrida eleitoral pela Prefeitura de Porto Velho, os sete candidatos que concorrem ao cargo têm suas campanhas marcadas mais pelas alianças políticas e bolhas ideológicas em que estão inseridos do que por propostas concretas para a cidade. As eleições, em vez de serem uma oportunidade para o confronto de ideias e soluções para os problemas da capital rondoniense, estão sendo conduzidas sob a influência de quem apoia quem, esvaziando o debate programático e técnico.
Um exemplo dessa dinâmica pode ser observado na candidatura de Euma Tourinho, do MDB. A ex-juíza tem sido alvo de questionamentos nas redes sociais em função do apoio prestado pelo senador Confúcio Moura, também do MDB, que é criticado por sua proximidade com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Moura, único representante de Rondônia na bancada federal a apoiar o presidente Lula, tem sido associado à esquerda (ele já se declarou centro-esquerda), e Euma, por tabela, acaba sendo alvo de tentativas de vinculação ideológica, mesmo que sua trajetória não tenha necessariamente ligação com esse espectro político. Além disso, vídeos gravados ao lado da ministra Simone Tebet antes do início da campanha foram utilizados por opositores para reforçar essa narrativa, ainda que descontextualizados. Dessa forma, os ataques em torno de Euma Tourinho giram muito mais em torno de suas alianças do que em relação às suas propostas para Porto Velho.
Outro candidato, Léo Moraes, do Podemos, optou por seguir um caminho diferente, sem apoios de grandes figuras políticas. Após deixar a direção do Departamento de Trânsito de Rondônia (Detran/RO), Moraes se lança na disputa sem contar com o apoio de líderes como o governador Marcos Rocha, do União Brasil. Sua campanha, sem grandes alianças, é baseada em uma estratégia de redes sociais, mas isso faz com que, no cenário atual, a sua candidatura pareça isolada em um ambiente onde a força das coligações partidárias e dos apoios externos têm peso significativo.
A candidata da situação, Mariana Carvalho, do União Brasil, ilustra bem o outro lado desse cenário. Contando com o apoio do governador Marcos Rocha, do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Cruz, e do atual prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves, Mariana ainda recebeu o respaldo público do ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a realizar um comício em seu favor na capital. Com esses apoios de peso, Mariana se coloca como a principal candidata para a sucessão de Hildon Chaves, mas o foco em sua campanha recai mais sobre os nomes que a apoiam do que sobre suas propostas para continuar o trabalho da atual gestão ou implementar novas políticas.
Na ala da esquerda, dois candidatos competem pelo apoio dos setores progressistas: Samuel Costa, da Rede Sustentabilidade, e Célio Lopes, do PDT. Enquanto Costa acusa Lopes de esconder sua ligação com o presidente Lula e com partidos de esquerda como o PCdoB, Lopes, de fato, é quem conta com o apoio do PT na capital. Apesar disso, Samuel Costa se apresenta como o candidato com um discurso mais alinhado ao progressismo militante. Assim, o debate entre os dois também acaba sendo mais uma questão de quem está mais próximo ou distante do governo federal do que de discussões sobre políticas públicas ou estratégias de desenvolvimento local.
Os candidatos Benedito Alves, do Solidariedade, e Ricardo Frota, do Novo, seguem estratégias de campanha focadas em seus posicionamentos ideológicos e críticos ao sistema, sem contar com apoios de grandes figuras políticas. Alves tem se destacado por criticar o uso de recursos do Fundo Eleitoral, e, para isso, até montou um vídeo aparecendo junto com o coach Pablo Marçal, do PRTB, postulante em São Paulo; isto enquanto Frota mantém um discurso conservador e liberal, com ataques frequentes a setores da esquerda e a estrutura política tradicional. Ambos se posicionam como alternativas fora do mainstream político, mas suas candidaturas, sem grandes alianças, parecem secundárias em um ambiente dominado por apoios de figuras influentes.
O cenário eleitoral em Porto Velho, portanto, está marcado por uma falta de confronto direto entre as ideias e propostas dos candidatos. A dinâmica das campanhas é dominada pelas alianças políticas e pelos apoios que os candidatos conseguem angariar, seja de líderes estaduais, federais ou de partidos com influência no governo federal. Em meio a isso, as discussões sobre saúde, educação, infraestrutura e segurança ficam em segundo plano, ofuscadas pelo jogo de poder e pelas estratégias de associar cada candidato a figuras de destaque na política nacional ou local.
Esse cenário revela um problema persistente no processo eleitoral em Porto Velho. Em vez de se focarem nas propostas e qualificações técnicas dos candidatos, muitos eleitores acabam baseando suas escolhas nas alianças e apoios que os postulantes ao cargo conseguem reunir. A lógica do “diga-me com quem andas e te direi quem és” parece prevalecer sobre a avaliação das ideias e capacidades de cada candidato. Isso é especialmente preocupante em um momento em que a cidade enfrenta desafios significativos que exigem soluções técnicas e inovadoras. A política de alianças, nesse contexto, não apenas enfraquece o debate público, como também empobrece a escolha do eleitor, que perde a oportunidade de conhecer em profundidade o que cada candidato realmente pode oferecer à cidade de Porto Velho.
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