Sandra Cohen/G1
Publicada em 11/11/2024 às 11h05
Como candidato, Donald Trump bateu insistentemente na tecla da deportação em massa de imigrantes sem documentos. Presidente eleito, ele insistiu que não tem outra escolha que não seja executar a promessa. Mas a que custo? “Não há preço para tornar a fronteira forte e poderosa”, respondeu na quinta-feira em entrevista à rede NBC.
O plano para expulsar milhões de imigrantes é apresentado como a vitrine do segundo governo Trump, mas concretizá-lo impõe complexas barreiras logísticas a serem ultrapassadas. Especialistas questionam a sua viabilidade e o impacto que uma operação desse porte terá para a economia americana.
Estima-se que há 13 milhões de imigrantes sem documentos nos EUA. Se a cada ano forem deportados cerca de 1 milhão, conforme previu o vice-presidente eleito J.D. Vance, esta operação custará US$ 960 bilhões (cerca de R$ 5,56 trilhões) ao longo de uma década, de acordo com os cálculos do American Immigration Council.
A escala de deportação em massa demandaria uma estrutura muito além da que o governo dispõe atualmente. Requer a contratação de ao menos 10 mil funcionários e agentes, a construção de campos de detenção de imigrantes e agilidade nos tribunais de imigração para suportar expulsões e a enxurrada de ações judiciais contrárias a elas.
Trump se antecipou à meta e anunciou nesta segunda-feira o segundo nome de sua equipe: o linha-dura Tom Homan, que chefiou o Departamento de Imigração e Alfândega (ICE na sigla em inglês) no primeiro mandato, vai ser o czar da fronteira.
“Ele (Homan) será responsável por toda a deportação de estrangeiros ilegais de volta ao país de origem”, explicou o presidente eleito.
Horas antes ao anúncio da nomeação, Homan procurou atenuar, numa entrevista à Fox News, os efeitos do plano de Trump e esclareceu que os militares não sairão à caça de imigrantes ilegais para prendê-los. “Quando formos ao terreno, saberemos quem procuramos. Provavelmente, saberemos onde estão, e isso será feito de forma humana.” Vale lembrar que o novo czar atuou com firmeza na formulação da política de separação familiar, uma das mais polêmicas do primeiro governo de Trump.
Além dos limites éticos, um dos aspectos mais debatidos da deportação em massa é o seu impacto na economia americana, já que boa parte dos trabalhadores sem documentos concentra-se em indústrias de construção, agricultura e serviços.
Os defensores argumentam que a expulsão beneficiaria os trabalhadores americanos e melhoraria as suas condições de trabalho. Os críticos, contudo, são mais realistas. Alertam para a instabilidade econômica em indústrias que dependem da mão de obra imigrante e os efeitos devastadores gerados pela campanha de perseguição de funcionários em seus locais de trabalho.
Estado que concentra mais imigrantes em todo o país, a Califórnia, por exemplo, arrecadou em 2022 US$ 8,5 bilhões (cerca de R$ 49,25 bi) em impostos oriundos dessa parcela da população. Mais de um quarto dos residentes do estado tem origem estrangeira e quase metade das crianças tem um dos pais imigrantes.
Sob esse aspecto converge outra medida controversa prometida pelo presidente eleito: a extinção da cidadania automática para filhos de imigrantes nascidos nos EUA, assegurada pela 14ª Emenda da Constituição.
Trump prometeu, no primeiro dia na Casa Branca, emitir uma ordem executiva para acabar com o princípio constitucional, assim como reeditar a proibição de entrada nos EUA de cidadãos de países de maioria muçulmana.
Escoladas pelo primeiro mandato do presidente, organizações de defesas de imigrantes, como a American Civil Liberties Union (ACLU), preparam um roteiro de ações para desafiar as restrições que serão impostas no novo governo.
O princípio de defesa é básico. Como resumiu Lindsay Toczylowski, presidente da entidade Immigrant Defenders Law Center, a Constituição dos EUA prevalece e não desapareceu da noite para o dia.
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