Larina Rosa
Publicada em 13/11/2024 às 11h44
*Por Larina Rosa
Porto Velho, RO – Chegou o penúltimo mês do ano comprovando que estamos cansados. Seja por causa da correria diária ou pelo esgotamento que vamos sentindo nessa época, novembro chegou apontando canseira coletiva. Mais cansado ainda é quem tem direito apenas uma folga por semana. Que tem de escolher entre descansar, passar um tempo com a família, cuidar de si, se divertir ou cuidar das tarefas de casa que não terminam nunca.
Nessa semana uma proposta de Emenda Constitucional apresentada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) que reduziria a jornada de trabalho legal sem redução salarial ganhou a atenção da internet e atraiu 1,5 milhões de assinaturas. A iniciativa do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), do vereador eleito carioca Rick Azevedo (PSOL) está na boca do povo e do Plenário da Câmara.
Isso porque essa é a realidade da metade da produção brasileira que trabalha em uma escola 6x1, ou seja, quando trabalham seis dias na semana e folga um. As mulheres que têm dupla jornada trabalham fora e cuidam da casa dos filhos são as mais prejudicadas. Com um sistema de transporte público precário elas passam a maior parte do tempo se deslocando até o trabalho chegando em casa apenas para dormir e repetidamente no dia seguinte trabalhar.
Acontece que algumas entidades empresariais e parlamentares estão criticando a proposta, pois segundo eles acarretaria prejuízos e aumento de desemprego. O mesmo discurso aconteceu quando surgiu o direito do décimo terceiro do trabalhador, férias anuais remuneradas, previdência social entre outros. Parece que condições mínimas de qualidade de vida do trabalhador aborrecem os patrões.
Enquanto isso o trabalhador beira o esgotamento, a jornada exaustiva diminui a produtividade e aumenta a rotatividade de funcionários da empresa, pois é difícil suportar essa batida de oito horas de trabalho que acontece na maioria das vezes de segunda a sábado. O fim da escala 6x1 é a oportunidade de o trabalhador descansar, estudar, se aperfeiçoar e se qualificar profissionalmente. O término da jornada pesada evita problemas de estresse e ansiedade entre os profissionais. Melhora o relacionamento familiar de milhares de crianças que não tem tempo com os pais.
E não adianta dizer que no nosso país não funciona. Entre as empresas que implantaram a semana de quatro dias por aqui, 60% dos funcionários aumentaram o engajamento e 71% apresentaram maior produtividade. Já em termos financeiros, as empresas que participaram do teste comprovaram crescimento na receita certificando que a nova escola pode ser economicamente executável.
E para quem continua com o discurso da onda de demissões e preços mais altos de produtos de serviços vamos pensar no consumo que aumenta nos dias de folga no comércio e no turismo.
Processos históricos são necessários para mudar nossa cultura, o esgotamento e número de doenças mentais são prova de que precisamos de uma mudança de rotina. A tecnologia avançou e ainda trabalhamos exaustivamente. Essa conta não faz mais sentido. Não podemos esquecer que todos nós temos direito a descanso e existe vida além do trabalho. Como no trecho da música do Titãs; “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente quer dinheiro e felicidade. A gente quer inteiro e não pela metade”.
Como vamos ser contra ao descanso de um trabalhador ou trabalhadora que precisa passar mais tempo com a família? Já é uma questão de sensibilidade e boa vontade reduzir o esgotamento de milhares de chefes de famílias e de gerações que estão por vir. Se o caminho não está dando certo vamos buscar outra alternativa, a vida é mais que trabalho e já estamos todos cansados de viver só para trabalhar.
*Jornalista rondoniense que acredita na luta contra a violência de gênero e igualdade de direito das mulheres
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2024/11/a-vida-e-mais-que-trabalho,204137.shtml