Sandra Cohen/G1
Publicada em 06/01/2025 às 11h02
A vitória eleitoral de Donald Trump em novembro passado será certificada nesta segunda-feira (6) pelo Congresso americano —num ritual que, quatro anos atrás, foi subvertido em insurreição e carnificina por simpatizantes do então presidente, inconformados com a sua derrota para Joe Biden.
A duas semanas da reestreia na Casa Branca, Trump tenta reescrever as cenas traumáticas do 6 de janeiro de 2021 no Capitólio, a que se refere como “um dia de amor”. Ele promete mudar o destino dos 1.600 réus, a quem chama de presos políticos, reféns, mártires e patriotas, acenando com o perdão presidencial no primeiro dia do segundo mandato.
Esses manifestantes agrediram 140 policiais, depredaram a sede do Congresso, saíram à caça do vice-presidente Mike Pence, que se recusou a cumprir ordens de Trump, para ameaçá-lo de enforcamento e forçaram os membros do Congresso a buscar refúgio e segurança.
A eleição do republicano, no entanto, mudou a narrativa do violento 6 de janeiro e parte do princípio de quem deveria ir para cadeia são os membros da Câmara que investigaram o motim no Capitólio, como os congressistas Ben Johnson e Liz Cheney. E o procurador especial Jack Smith, que desistiu de dois casos contra Trump depois de indiciá-lo, deveria ser, no seu entender, expulso do país.
Apoiadores radicais de Trump invadiram o Congresso americano em 6 de janeiro de 2021 para interromper a certificação do presidente eleito, o democrata Joe Biden — Foto: Reuters
Retórica de vitimização
Os manifestantes se sentem encorajados pela retórica da vitimização emanada pelo presidente eleito, e pelas teorias da conspiração propagadas pelas mídias de extrema direita, que responsabilizam a esquerda, os democratas e o FBI pela invasão do Capitólio.
Alguns acusados de envolvimento na rebelião pediram à Justiça autorização para comparecer à posse de Trump e argumentam que não são uma ameaça à segurança pública para estarem novamente em Washington no dia 20, no mesmo cenário que vandalizaram há quatro anos. Outros pedem o adiamento de seus processos, na certeza de que receberão o perdão.
“Se Trump perdoar os manifestantes de 6 de janeiro, ele usará o poder de perdão para apagar um ataque à Constituição e ao país. O propósito deste ataque era seu benefício pessoal —se tivesse tido sucesso, poderia ter permitido que ele permanecesse no poder após perder a eleição, contrariando todos os princípios da democracia americana”, avalia a pesquisadora Joyce Vance, do Brennan Center for Justice, vinculado à Universidade de Nova York.
Dois terços dos americanos são contrários ao perdão aos condenados, de acordo com uma pesquisa realizada pelo jornal “The Washington Post” com a Universidade de Maryland.
"Fazer isso de qualquer maneira seria uma afronta não apenas ao Estado de direito, mas também aos bravos oficiais que deram tudo de si naquele dia para manter a linha”, afirmou o jornal em editorial.
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