
Rondoniadinamica
Publicada em 22/02/2025 às 09h35
Porto Velho, RO – A política é um jogo de adaptação, onde o amor e o ódio transitam conforme os interesses e as circunstâncias. Confúcio Moura (MDB), ex-governador de Rondônia e atual senador da República, sempre cultivou uma imagem de moderação. Mas, ao longo das últimas semanas, a neutralidade deu lugar a posicionamentos claros. Confúcio declarou apoio às gestões petistas, elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), celebrou os 45 anos do Partido dos Trabalhadores e criticou a extrema-direita, que, segundo ele, provoca uma “cegueira” na população rondoniense.
O alinhamento explícito ao PT pode ser um movimento calculado para pavimentar uma possível candidatura ao governo do estado em 2026. Entretanto, ao deixar o muro e declarar-se favorável ao petismo, o senador se coloca em rota de colisão com um eleitorado majoritariamente conservador. Hoje, mais de 90% dos representantes políticos de Rondônia estão posicionados à direita ou à extrema-direita, e o “arsenal retórico” contra Confúcio deve ser pesado.
RELEMBRE:
Assista: Confúcio Moura elogia Lula, celebra 45 anos do PT e diz que extremismo de direita causa cegueira em Rondônia
E AINDA:
Confúcio defende concessão da BR-364 e retorno de Valdir Raupp à política de Rondônia
O adeus à neutralidade
No vídeo publicado no dia 19 de fevereiro, Moura rompeu qualquer resquício de ambiguidade. “Estou aqui como emedebista, disposto a dar o meu testemunho da grandeza desse partido, que é o Partido dos Trabalhadores”, declarou. O senador afirmou que Rondônia foi amplamente beneficiada por gestões petistas e que a atual administração de Lula segue a mesma linha. “Agora mesmo com o Lula. Portanto, Lula tem feito muito para o povo”, disse.
Em um estado que, em 2022, deu mais de 70% dos votos a Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, defender Lula e o PT não é apenas um posicionamento político, mas um desafio eleitoral. A citação à “cegueira” causada pelo extremismo de direita também gerou reações. O termo, ainda que tenha sido direcionado a um nicho específico, será inevitavelmente utilizado por opositores para reforçar a narrativa de que Moura desrespeita parte do eleitorado que um dia já o elegeu governador.
A reconciliação com Raupp e a construção de uma nova base
Além do alinhamento ao petismo, outro sinal da reconfiguração política de Confúcio foi a menção ao retorno de Valdir Raupp à política. No dia 20 de fevereiro, em visita a Vilhena, o senador defendeu que o ex-senador do MDB faz falta no cenário rondoniense. “O Raupp faz falta na política de Rondônia”, afirmou, ignorando completamente o embate histórico entre seus grupos políticos.
Em 2018, a relação entre ambos foi marcada por disputas internas, culminando em uma convenção partidária conturbada, com episódios de agressão física e conflitos entre apoiadores. Apesar disso, Confúcio parece disposto a reconstruir pontes dentro do MDB, o que pode ser um passo estratégico caso decida disputar o governo do estado.
O risco e o enfrentamento eleitoral
Se, por um lado, a nova postura confere a Moura um espaço mais definido no espectro político, por outro, pode representar um problema em um eventual embate eleitoral. Rondônia tem, historicamente, um eleitorado resistente ao PT e suas lideranças. Ao adotar um tom abertamente favorável ao partido, o senador automaticamente se torna um alvo fácil para opositores, que devem explorar seu passado recente de neutralidade e tentar deslegitimar sua nova posição.
Além disso, a oposição não se limitará ao discurso. Governadores emedebistas do passado, como ele próprio, já enfrentaram dificuldades para lidar com forças bolsonaristas. A candidatura ao governo pode colocá-lo sob fogo cruzado de setores influentes do agronegócio, da bancada evangélica e dos grupos políticos alinhados ao bolsonarismo.
A adaptação política é uma necessidade. O desafio de Confúcio será justificar essa mudança sem perder a credibilidade junto ao eleitorado. Se o movimento atual for apenas um teste de viabilidade, ele pode recuar. Se for um posicionamento definitivo, terá que se preparar para enfrentar um dos pleitos mais difíceis de sua trajetória.
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2025/02/confucio-reforca-tese-de-possivel-candidatura-ao-governo-de-rondonia-ao-declarar-amor-ao-pt-e-defender-volta-de-raupp,211366.shtml