Rondoniadinamica
Publicada em 15/06/2019 às 10h36
Porto Velho, RO – Desde que os brasileiros descobriram o embate secular entre direita e esquerda, o debate público relacionado à política tornou-se absurdamente minguado, raso, pouco propositivo e altamente beligerante.
De 2014 para cá, Karl Marx, por exemplo, deixou de ser uma ou duas páginas nos livros de história sobre mais-valia e tornou-se, na visão de muitos, a encarnação do mal: o começo da degradação mundial.
Marx nasceu e morreu no século XIX. Enquanto respirou, contestou teoricamente o sistema capitalista – e também foi ativista. Nestas paragens tupiniquins, no entanto, a peleja polarizada desencadeou-se de maneira escrachada e desordenada 131 anos após sua morte.
A partir daí, a disputa pela reeleição de Dilma Rousseff (PT) travada contra o tucano Aécio Neves já inspirava os primeiros sinais de insurgência coletiva.
Ex-deputado federal, Carlos Magno também foi do PPS: pela lógica, comunista
Com a deposição de Dilma em 2016, a situação agravou-se de tal maneira que a população decidiu descartar, junto com esquerda, membros tradicionalíssimos da direita.
Aqui não se faz juízo de valor acerca das motivações que impulsionaram a massa. Observa-se, na realidade, que o ranço voltado aos agentes públicos de maneira genérica abriu alas para novidades duvidosas: e em muitos casos grande parte desses novatos detinha como arcabouço postulatório apenas um punhado de frases feitas, chavões ridículos elevados à máxima potência.
E essa é apenas uma das inúmeras consequências de um debate político enfraquecido, moribundo, putrefato: muitos desses neófitos "vazios" chegaram ao Poder, lamentavelmente com apoio irrestrito de segmentos importantes da imprensa.
Cassol brigou, junto com Bolsonaro, pela liberação da fosfoetanolamina: a píliula do câncer. Mas, pela lógica, o ex-governador é comunista
Em Rondônia, há um exemplo prático: Porto Velho já respira a atmosfera tóxica de eleições, embora o pleito esteja a mais de um ano para ocorrer.
Vinícius Miguel, ex-Rede Sustentabilidade e hoje mandatário regional do Cidadania, antigo PPS, passou de pedrada à vidraça em pouquíssimo tempo.
Quando resolveu disputar o Governo do Estado em 2018, o professor não fazia ideia do seu capital eletivo: portanto, meteu a cara e, não apenas surpreendeu, como foi o candidato mais bem votado na Capital rondoniense – desbancando em muitos votos inclusive o atual governador Coronel Marcos Rocha (PSL).
Hoje, passou a alvo de críticas contumazes nas redes sociais – muitas delas apócrifas, patrocinadas por páginas “sem dono”, onde não há, oficialmente, alguém que responda por elas. Não são todas, obviamente: há quem dê as credenciais e faça questão de responder pelos posicionamentos, e isso faz parte do jogo democrático. Afinal, na vida pública não se vive só de elogios.
O ex-senador Moreira Mendes e seus três filhos já foram do PPS: pela lógica, todos comunistas
Mas qual o motivo das ofensivas contra o dirigente partidário? Vinícius Miguel seria um comunista disfarçado, apoiador do ex-presidente Lula. Ele nega as duas coisas.
A prova cabal desses comentários seria a própria legenda assumida pelo advogado, o PPS, ou, melhor dizendo, Partido Popular Socialista.
O vocábulo Socialista, que integrava a nomenclatura da sigla que hoje se chama Cidadania, estaria ali, desnudado e pra quem quisesse ver, a fim de provar as tendências marxistas de Vinícius Miguel.
Rondônia Dinâmica teve acesso à ficha de filiados do PPS, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Logo, se Vinícius Miguel é comunista, socialista ou coisas que os valham, também teriam de ser alguns membros proeminentes – já desligados – da legenda:
O ex-governador Ivo Cassol e sua esposa Ivone, por exemplo. Além deles, o ex-deputado federal Carlos Magno. E também são comunistas, por esta lógica barata, o ex-senador Moreira Mendes (falecido) e seus três filhos: Rodrigo, Ricardo (Cacá) e Guilherme Erse.
Cahúlla foi candidato à reeleição ao Governo de Rondônia pelo PPS em 2010: pela lógica, ele também é comunista
João Cahúlla, outro ex-governador, também já integrou as hostes do PPS.
O histórico de todas as pessoas apontadas dentro do contexto político não implica, de maneira alguma, em ligação imediata com a esquerda: qualquer pessoa em sã consciência, minimamente razoável, não vincularia três ruralistas – e o ruralismo é apenas o critério mais latente de descaracterização –, e seus familiares ideologicamente alinhados aos seus respectivos patriarcas, a predileções marxistas.
A pergunta é: o cidadão vai continuar engolindo a esparrela e elegendo criadores de bordões? Que venha, então, 2020.
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