Vinicius Canova
Publicada em 28/08/2019 às 10h27
Porto Velho, RO – É preciso atenção redobrada dos órgãos de fiscalização e controle: a malandragem está de volta – e muito mais aprumada esteticamente falando, nos trinques, de narizinho novo afilado e lipoaspiração na pança.
A graça não é de hoje.
Alguns políticos de Rondônia, incluindo ex-agentes públicos outrora munidos de mandato eletivo, gostam de, por vaidade, ignorar seus dividendos salariais a fim de usar verbas indenizatórias para repaginar o físico – e o ego.
Tecnicamente, e dentro dos ditames da lei, isso não só é escabroso, imoral, repugnante e obsceno, como, por óbvio, traz consigo as marcas da improbidade administrativa e do possível crime de falsidade ideológica.
Explico o segundo ponto: alguns serviços voltados à verba indenizatória são registrados através de notas frias como demandas relacionadas à saúde, quando, na realidade, o que está se cobrindo com o dinheiro suado do contribuinte são procedimentos estéticos. Se a nota é fria, ou seja, traz dados inverídicos sobre serviços realizados ou não, o prestador expedidor do documento é partícipe do esquema, não há dúvidas.
E não há como responsabilizar os gestores dos Poderes nem o Portal Transparência de cada órgão público. E por quê? Repito: porque a nota é fria não por ser falsa, mas sim porque os dados encartados ao documento não traduzem a realidade. E não há como fiscalizar cada uma delas, pois pressupõe-se o preenchimento de boa-fé. Aliás, é um caso que, se trazido à baila, deverá ser analisado inclusive pelo Conselho Regional de Medicina (CRM).
Exemplo: digamos que o registro oficial aponta cirurgia de apendicite, talvez a retirada da vesícula biliar ou mesmo intervenção gastrointestinal. Pronto, estamos falando de saúde. Logo, o dinheiro gasto pelo agente público precisa ser ressarcido. É a lei, batamos o pé ou não. Só que quando o tipo aparece em público, oras, em vez de esparadrapos e gemidos de dor típicos da recuperação de cirurgias invasivas como as citadas, surge uma espécie de Ken Humano (foto) excursionando o nariz retinho talhado a erário. Ah, sim, é fácil identificar: é só prestar atenção ao ambiente e verificar quem está andando com o pescoço torcido para ser visto de perfil.
No passado, um ex-parlamentar precisou fazer acordo na Justiça, entabulado via Ministério Público (MP/RO), porque o sujeito, espertalhão, é claro, usou o mesmo modus operandi para bancar uma dentição zerada – também com dinheiro público. O sorriso ficou perfeito, mas acabou amarelado após o MP/RO descobrir e denunciar a marmotagem: ele já está devolvendo mês a mês.
Não é só para se recauchutar que essa galera tira uma onda com dinheiro alheio. Um ex-governador, à época vice, usou caminhonete do Estado para curtir uma pescaria com amigos. Houve acidente com morte à ocasião e, anos depois, ele foi condenado a ressarcir o estrago do automóvel – um bem público.
Ele coçou do próprio bolso? Claro que não. A Justiça autorizou que a condenação fosse executada diretamente na fonte de renda do ex-chefe do Executivo. E qual a fonte? A maldita pensão vitalícia concedida a ex-governadores e viúvas. Na última coluna, falei sobre a suspensão temporária do benefício, e a tendência é que ele seja extinto de vez.
E agora, como fica o restante do pagamento? Outra pergunta que o próprio MP/RO deveria responder.
Só é de se lamentar que não exista bisturi para ajustar caráter nem sutura para remendar cretinice.
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2019/08/narizinho-afilado-lipoaspiracao-na-barriga-e-denticao-completa-custeada-com-o-seu-dinheiro-as-estripulias-mais-bizarras-de-alguns-politicos-de-rondonia,55116.shtml