Lúcio Albuquerque
Publicada em 04/01/2020 às 09h30
4 de janeiro de 1982. Em meio a uma enorme euforia, apesar de alguns segmentos repetirem a frase “Oh Céus! Oh Vida! Oh Azar! Isso não vai dar Certo” do personagem de desenho animado criado por Hanna & Barbera, aconteceu naquela data a instalação do Estado de Rondônia, formado por uma população de variadas origens que acreditou na “Terra sem homens para homens sem terra”.
Àquela altura eram 13 municípios – dois criados antes do Território Federal (1943), mais cinco na época do Território (1977) e seis em 1981, hoje são 52. A população, conforme o censo do IBGE de 1980 contava com 503 mil pessoas, o que provocou críticas duras entre o governador Jorge Teixeira, que naquela data assumia a direção da “mais nova estrela no azul da União), com o diretor local do IBGE, com Teixeira contestando a contagem.
Na história da criação do Estado vários personagens foram aos poucos sendo colocados de lado, praticamente permanecendo apenas, talvez pelo carisma e pela força de seu trabalho na região, desde antes de se constituir o Território, a figura do ex-governador e ex-deputado federal Aluízio Ferreira, e a dimensão do nome do último governador do Território e primeiro do Estado, Jorge Teixeira, acabou eclipsando outros que, também, tiveram enorme importância para que a ideia se tornasse realidade.
Já ouvi de algumas pessoas que o Teixeira foi quem mandou abrir a rodovia BR-364, uma estrada cuja proposta pioneira teria sido em 1937, quando o então administrador da ferrovia Madeira-Mamoré Aluízio Ferreira ideou uma estrada sando de Porto Velho buscando chegar a Mato Grosso. Já escrevi algumas vezes que cada governador, e para ficar só neles, deu um pouco, importante, de contribuição para que o Estado fosse criado. O próprio Aluízio, em 1962, último ano de seu terceiro e último mandato de deputado federal, teria sido o autor de uma proposta de criação do Estado.
Já em 1960, num fato que teve importância grande a participação do governador do então Território do Acre, coube ao governador Paulo Leal desafiar o presidente JK, que adorava ser desafiado, a construir o que Paulo classificou de “o outro braço da cruz”, no caso, a abertura da rodovia, inicialmente denominada BR 029, menos cinco meses depois considerada inaugurada – felizmente àquela altura o xiitismo ambiental estava bem distante, porque se tivesse nem Brasília teria sido construída e nós, da Amazônia Ocidental, continuaríamos sendo citados como habitantes do “inferno verde”.
Na década de 1960 até ao final da de 1970 uma figura, sem ser governador do Território, foi fundamental para que Rondônia alcançasse o status atual, como participante ativo da balança comercial brasileira o capitão Sílvio Gonçalves de Faria, á frente de meia dúzia de jovens técnicos realizou, através do Incra o que dizem ter sido a única reforma agrária que deu certo neste país.
Ainda no período 1971 a 1980 uma figura polêmica, três vezes deputado federal, Jerônimo Garcia de Santana agiu, às vezes de maneira errada, como se fosse o “grilo falante” na consciência dos governadores que se sucediam, e apresentou propostas de criação do Estado, apesar de acabar agravando sua biografia quando se retirou da sessão de votação do projeto de Lei 41/1981.
Ainda outro deputado federal, da ARENA paulista, Antonio Morimoto, teve papel importante para que o projeto de criação do Estado caminhasse bem nas muitas comissões da Câmara Federal, atendendo, segundo dizia, pedido do governador Jorge Teixeira a quem Morimoto acusou, a partir de 1982, de tê-lo traído na indicação dos três candidatos do PDS ao Senado.
Mas, conforme quem trabalhou, em cargos importantes, com os dois últimos governadores do Território, coube Humberto Guedes (1975/79) grande parte do mérito da criação do Estado. “Ele foi o primeiro governador que realmente pensou grande” já ouvi de vários dos que trabalharam com os dois.
Seria inadmissível não reconhecer o trabalho desenvolvido pelo último, Jorge Teixeira, e um mérito importante foi ter chegado aqui e anunciado que vinha com “a missão de transformar Rondônia em Estado”, frase que, conforme disse a ele, estava errada, porque apesar de conhece-lo desde o final da década de 1960 em Manaus, nunca soubera que ele seria detentor de dotes mágicos.
Teixeira, tantas vezes repetiu que iria “transformar” o Território em Estado que acabou ganhando a notoriedade, merecida, e convencendo até quem era contra ou tinha muitas dúvidas, a acreditar na ideia, e seu mérito também foi grande porque tornou quase impossível não crer, tantas vezes repetiu o mesmo discurso.
Trinta e oito depois daquele 4 de janeiro, no entanto, é preciso que a historiografia do Estado reconheça a grandiosidade que foi a contribuição imensa de cada um, especialmente dos presidentes Getúlio Vargas, JK, Ernesto Geisel e João Figueiredo que, cada uma seu tempo, tiveram ações decisivas para que o poema Céus de Rondônia se tornasse o hino oficial rondoniense.
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