Vinicius Canova
Publicada em 07/04/2020 às 07h57
Porto Velho, RO — Hoje é Dia do Jornalista, e, honestamente, não há muito o que comemorar. Somos atualmente o que os professores eram ontem, bem ali em 2019, ou seja, alvos fáceis da cólera construída pela ignorância, esta alimentada rotineiramente por beócios com trânsito livre na internet. Veja, não estou falando das críticas, essenciais ao aperfeiçoamento e à manutenção da democracia plena: me refiro, certamente, às investidas hidrófobas patrocinadas por gente rançosa e avessa a sinapses cognitivas. Contra o tipo, não há vacina; em suma, esqueça remédio ou prevenção.
Ponto, esta é a questão resumida no aspecto "de fora para dentro".
Porém, e é aí que o bicho pega -- não para mim, porque não sou corporativista nem cunhei um único vintém em parceria com quem quer que seja, à exceção daqueles que me abraçaram desde o começo --, a pior chaga relacionada à profissão é endógena.
O que se faz por estrelismo e dinheiro dentro do ramo, a despeito de ser uma minoria privilegiada e de alcance por vezes exponencial, logo danosa, não se concebe mais como escalada natural do ofício. Por outro lado, chamar de prostituição seria comparação acintosa às cortesãs, que, diferentemente dos vendilhões, vão direto ao ponto ignorando sabiamente a conversa fiada: ali a carne é crua.
E se você acha exagero medir dois ou três pelo todo, basta recordar da analogia natural relacionada à única maçã podre com o condão de estragar o pomar o inteiro.
Ser profissional em nosso combalido filão é andar sozinho e vendado, segurando uma pequena centelha em uma das mãos enquanto a outra tateia as paredes esburacadas da censura, da burocracia, dos interesses escusos, da corrupção ético-moral, da delinquência estatal e dos que te veem como mola propulsora de arroubos obtusos, imoralíssimos. Não existe assepsia que dê conta de tantas armadilhas, exceto o calejamento próprio da experiência advinda com o passar dos anos.
E a missão, apesar de tudo, ainda é atravessar esse corredor no escuro e fazer com que a luz chegue ao [à] leitor [a]. As informações apuradas, as fontes checadas, os dados obtidos, enfim, tudo aquilo que conseguimos apesar do arcabouço incessante de arapucas lançadas contra nós tornam essa empreitada, aí sim, motivo de orgulho.
Lembrando sempre que as piores artimanhas foram distribuídas em nossa trajetória por nós mesmos, quais sejam: o ego inflado e o narcisismo imperativo, e, sabemos, ambos compelem qualquer personalidade frágil ao furto do protagonismo voltado à notícia.
É preciso fazer mais do que replicar a frase erroneamente atribuída a George Orwell.
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O desumano profissional que praticava jornalismo - 26/03/2019
O momento, a meu ver, é de reflexão e autocrítica, sim. Porque àqueles que esqueceram seu papel e se postaram à frente dos fatos, bem, ainda há tempo de repensar os passos falseados e evitar um futuro pautando e acoimando matérias de outros veículos de comunicação.
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