Rondoniadinamica
Publicada em 11/06/2020 às 09h55
“O insensato cruza os braços e se deixa consumir a si mesmo” – Eclesiastes 4:5
Porto Velho, RO – A Bíblia virou colcha de retalhos para recital de bordões na boca da nova classe política tupiniquim, e, diga-se de passagem, isto tanto lá no Planalto quanto aqui no Palácio Rio Madeira.
Mas há uma passagem preferida, genérica, que se usa à exaustão a fim de repelir inclusive os fatos:
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
Começando assim, qualquer pronunciamento, não importa sobre o que seja, já inicia com nítida intenção de buscar no transcendentalíssimo mistério o salvo-conduto popular, visando a construção de uma película narrativa impermeável.
O problema é: chega uma hora, especialmente depois de pouco mais de um ano de mandato, que as palavras, ordinárias ou pretensiosamente sacrossantas, tanto faz, passam a se contrapor de maneira escancarada à realidade.
Aí não tem rebanho que resista quando a pele do cordeiro cai e surge diante dele a nítida imagem predatória do lobo com sua bocarra cheia d’água e de dentes caninos protuberantes, prontíssima para o bote.
Em suma, não é que o chefe do Executivo seja corrupto, até porque, por ora, não se pode dizer isso, seria até leviano; porém, e isto é inegável, já não convence mais com os discursos cheios de promessas vãs que desembocam num rio turvo de inanição gerencial.
Em sua visão, a culpa é sempre dos outros e tudo o que se publica é mentira: há, a cada veiculação oficial do governador, frise-se, a exposição de um inimigo invisível, inominado, enfim, agente do caos não palpável à espreita e com intenção de tomar o poder à força.
Vamos e viemos, oras: os agentes da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) não foram à Secretaria de Estado da Saúde (Sesau/RO) para tomar chá com biscoitos. Mesmo que seja temerário fazer juízo de valor sem o desenlace jurídico da Operação Dúctil.
Uma fala específica durante a coletiva de Imprensa concedida ontem (10) é sintomática e ilustra cem por cento a incoerência de Rocha não só como administrador, mas especialmente na condição de policial militar.
“Eu sou um oficial. Sou um policial. E eu aprendi sempre, a minha vida inteira, [sic] era prender bandido. Então não será diferente”.
Em 2018, Marcos Rocha disse, ainda durante a campanha, que recebeu pelo menos quatro propostas de propina. Isto teria ocorrido enquanto ocupou a Secretaria Municipal de Educação durante o mandato de Dr. Mauro Nazif (PSB) como prefeito de Porto Velho.
Ele, orgulhoso, garantiu ter rechaçado todas as investidas espúrias enquanto excursionava seu “heroísmo” diante da plateia.
Esqueceu-se, no entanto, que era seu dever ter dado voz de prisão em todas as oportunidades onde fora suspostamente assediado por criminosos.
À ocasião, Rondônia Dinâmica levantou o questionamento, que, por sua vez, foi usado pelo adversário dele à época, o tucano Expedito Júnior, no último debate antes do segundo turno das eleições.
A resposta? “Eu estava com o pé operado, às vezes acontece...”.
Em vez de fazer uma autocrítica, explicando a si mesmo, por exemplo, por que não pegou um telefone e discou 190 se o problema era só o pé operado, o candidato processou o jornal -- e perdeu. A conduta desesperada demonstrou, já naquela época, que o governador é avesso às liberdades de imprensa e expressão, direitos sacramentados no Carta Magna Cidadã de 1988, importantíssimos à manutenção da democracia.
Sobre esse ego inflado e a incapacidade de receber críticas como todos os outros atores políticos do mundo, também existe um versículo para encaixar. Caso se atenha à passagem abaixo, é provável que o governador dê descanso ao livro de João, e passe a aprender com o guerreiro Rei Davi, pai do sábio Salomão.
“Quem pode perceber os próprios erros? Purifica-me dos que ainda não me são claros” – Salmos 19:12
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