AFP
Publicada em 24/07/2020 às 14h53
O devastador balanço econômico da pandemia de COVID-19 no mundo poderá desencadear novas ondas migratórias quando as fronteiras forem reabertas, alertou a Cruz Vermelha.
"Em muitos países, observamos cada vez mais os efeitos colaterais da pandemia nos meios de subsistência e na situação alimentar", explica o secretário-geral da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICR), Jagan Chapagain, em entrevista à AFP.
As medidas de confinamento e o fechamento das fronteiras para conter o vírus destruíram os meios de subsistência da população em muitos países e podem levar mais milhões de pessoas à pobreza.
"Ouvimos algumas pessoas dizerem que têm que escolher entre o vírus e a fome", comenta Jagan Chapagain.
"Muitas pessoas que perdem seus meios de subsistência podem se sentir obrigadas a se mudar, quando as fronteiras começarem a abrir", acrescenta.
"Portanto, não será uma suspresa ver um aumento em massa da migração nos próximos meses e anos", enfatiza.
Ao pedir um apoio internacional urgente para "aliviar esse desespero", ele destaca que, "além do imperativo moral, os argumentos econômicos também entram em jogo".
"O custo de cuidar dos migrantes durante o trânsito e quando chegam ao país de destino é muito maior do que apoiar as pessoas em seus meios de subsistência, educação e necessidades de saúde em seu próprio país", afirma.
- Migrar pela vacina -
Jagan Chapagain, chefe da FICR desde fevereiro, também teme que as desigualdades na saúde diante da pandemia obriguem mais pessoas a emigrar.
"As pessoas podem sentir que têm mais chances de sobreviver do outro lado do oceano", diz, acrescentando que outro fator importante nesses deslocamentos seria "a disponibilidade das vacinas".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) trabalha para alcançar um "acesso universal, rápido e igualitário" das futuras vacinas contra o coronavírus.
Alguns países embarcaram, porém, em uma verdadeira disputa pelas vacinas, como os Estados Unidos, cujo governo pediu milhões de doses com antecedência.
"Se as pessoas virem que a vacina, por exemplo, está disponível na Europa, mas não na África, o que vai acontecer? Vão querer ir para o lugar onde as vacinas estejam disponíveis", explica o nepalês.
A pesquisa avança, com aproximadamente 200 projetos de vacinas em desenvolvimento, dos quais cerca de 20 estão na fase clínica, ou seja, são testados em humanos.
Mas, enquanto alguns esperam que uma vacina segura e eficaz possa ser encontrada este ano, será preciso muito mais tempo para produzir doses suficientes para toda humanidade.
Chapagain condenou recentemente os esforços de alguns países para garantir que sua população seja a primeira vacinada.
Ressaltou ainda que "o vírus atravessa fronteiras" e que vacinar apenas a população de um país sem vacinar a dos demais ao mesmo tempo "não faz qualquer sentido".
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