Wania Ressutti/Secom
Publicada em 15/08/2020 às 09h49
Representando todas as entidades de assistência técnica e extensão rural do país, os vice-presidentes das cinco regiões brasileiras debateram, na quinta-feira (13), em uma transmissão ao vivo, as inovações, dificuldades, conquistas e consequências que cada entidade vem enfrentando para superar as calamidades causadas pela proliferação do coronavírus. O encontro foi promovido pela Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) com o objetivo de conhecer como cada entidade está se comportando com o chamado “novo normal”.
Mediante o debate fica claro que, não importa se é no Sul do país, no Nordeste ou mesmo no Norte, umas mais e outras menos, mas as dificuldades apresentadas não são diferentes. As situações vividas são comuns e cada um teve que buscar alternativa de forma a levar seus serviços aos produtores rurais familiares.
Sabe-se que a agricultura familiar é a grande responsável pela distribuição de alimentos do país e, mesmo mediante essa pandemia que abalou vários segmentos, o agricultor familiar foi o grande responsável para que esse alimento não faltasse na prateleira do supermercado nem na mesa do consumidor. E, para isso, os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) continuaram presentes, mesmo que virtualmente, procurando assistir e dar suporte às famílias rurais, buscando alternativas para que seus produtos pudessem ser produzidos e comercializados.
Para a presidente da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural do Maranhão (Agerp) e vice-presidente da Asbraer para a região Nordeste, Loroana Santana, o início foi muito difícil, muitas famílias perderam seus entes queridos. Segundo explica, houve descontinuidade de grande parte do trabalho de forma brusca, sem contar muitos servidores que se afastaram fisicamente do trabalho. Mas um dos maiores entraves foi a dificuldade para o escoamento da produção, onde se viram obrigados a buscar alternativas para superar os problemas apresentados.
Nesse aspecto, o presidente da Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (Emater-RO) e vice-presidente da Asbraer para a região Norte, Luciano Brandão, apontou aspectos negativos e positivos. “Passamos por várias dificuldades e ainda estamos nos readaptando”, disse Luciano Brandão.
Outro aspecto apontado por Luciano Brandão refere-se à distância entre os municípios. “Rondônia é gigantesco, se formos medir, de Cabixi, no sul do Estado, até Nova Califórnia, bem mais ao norte, ou seja, são 1.500 quilômetros de distância, além de que, muitos desses lugares ainda têm grande dificuldade de acesso à internet, mas, por outro lado, foi preciso nos reinventarmos, para dar continuidade a um trabalho que não podia parar”, destacou Luciano.
Nada vai substituir a visita presencial, mas as ações presenciais e digitais terão que andar juntas.
A extensão rural e, principalmente, a assistência técnica sempre foram feitas de forma presencial, corpo a corpo, o que tornava inviável a presença nas atuais 115 mil propriedades de agricultura familiar existentes em Rondônia. “Dessas 115 mil propriedades, a Emater só conseguia atender 20 mil, mas com a implementação de plataformas digitais ampliamos nosso leque e conseguimos chegar a outros produtores”, explica Luciano Brandão, enfatizando que nada irá substituir a visita presencial, mas que é preciso entender que, futuramente, essas ações presenciais e digitais terão que andar juntas.
Praticamente, em todo o canto do país tem um escritório da Ater pública ou uma equipe prestando serviços e assistindo ao produtor rural familiar. E isso tem sido ponto positivo, inclusive para outras áreas, como por exemplo as áreas sociais e de educação que se associam às entidades de Ater para atendimento no campo.
AÇÕES VOLTADAS AO PRODUTOR
O presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e vice-presidente da Asbraer para a região Sudeste, Gustavo Laterza, entende que não se deve abrir mão da essência, que é a atividade presencial forte, continuada e com muita interação com as famílias, mas vê que é preciso usar a tecnologia, o contato digital a favor da Ater pública. “Nós trabalhamos todo o contexto essencial humano da família”, diz, enfatizando que o extensionista sempre esteve presente na vida do produtor familiar rural.
Para a presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e vice-presidente da Asbraer para a região Sul, Edilene Steinwandter, é preciso lembrar que nem todos os lugares têm acesso à tecnologia e esse, com certeza, é um setor que necessita receber atenção especial. Ela diz que apesar do distanciamento ter impossibilitado executar as ações conforme planejado, os serviços de Ater não pararam e o agricultor continua recebendo assistência.
Conforme definido pelo presidente da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO) e vice-presidente da Asbraer para a região Centro Oeste, Pedro Leonardo de Paula Rezende, o importante é que houve uma grande conscientização por parte da comunidade. Rezende relata que sua maior dificuldade foi na realização das metodologias e assim como disse Luciano Brandão, a Ater pública tem que se esforçar cada vez mais para realizar seus atendimentos em ações coletivas, sem prejuízo para o agricultor. Na região Centro Oeste, a metodologia de interação através de aplicativo teve acréscimo de 48% nos acessos. “Representou um crescimento na utilização de atendimento remoto, mas nada substitui o atendimento presencial”, complementa Rezende
Os participantes da videoconferência acreditam ser notório que, assim como diversas camadas sociais a cadeia produtiva da agricultura familiar, os pequenos produtores rurais tiveram impacto importante no setor econômico. Além do mais houve um decréscimo, em várias regiões, na contratação de crédito rural, o que deve impactar a economia de uma forma geral, mas a perspectiva é que através da readequação das metodologias e dos atendimentos e mediante a consolidação desse “novo normal”, as coisas comecem a tomar novos rumos positivos.
A maioria das entidades já está retomando gradativamente as atividades, seguindo o que rege os decretos de seus estados e municípios e buscando, da melhor forma, garantir a Ater de forma segura para todos. “Todo dia é um novo desafio. Hoje a gente chega na propriedade e observamos que o produtor já está usando máscara, técnico também e todos tomando os devidos cuidados”, finaliza Luciano Brandão, salientando que a Emater-RO retomou grande parte de sua atividade presencial no último dia 3.
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