Rede Brasil Atual
Publicada em 18/08/2020 às 09h24
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou hoje (13) nota pública em que denuncia a contaminação em massa pelo novo coronavírus entre trabalhadores da agroindústria, da mineração e construção civil. Estão sendo afetadas comunidades camponesas e povos tradicionais que trabalham nesses setores. Conforme a nota, amparadas por políticas equivocadas, as empresas descumprem protocolos de segurança, levando ao aumento da contaminação e de mortes pela covid-19.
Além disso, a violência no campo continua. Fazendeiros, grileiros de terra, escravagistas, madeireiros, mineradoras e empresas de energia não estão em quarentena. E para complicar, o incentivo governamental ao uso de agrotóxicos e ao desmatamento favorecem a dinâmica da produção de grãos, de minérios, madeira e energia, e desautorizam instâncias de fiscalização trabalhista e ambiental. O resultado são danos aos trabalhadores, inclusive com trabalho escravo, e também ao meio ambiente.
A nota traz dados da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (CONTAC-CUT), que estima a contaminação de pelo menos 200 mil dos cerca de 800 mil funcionários do setor. Metade desses trabalhadores foram infectados em atividades nas cadeias produtivas de aves, suínos e bovinos. Apesar de denúncias, não há medidas preventivas.
Recomendações ignoradas
A CPT destaca que as empresas do setor não se prepararam para seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) no enfrentamento à pandemia. Tanto que, até o último dia 7, o Ministério Público do Trabalho (MPT) já havia aberto processos na Justiça para interdição de 11 frigoríficos em seis estados, após denúncias de contaminação de funcionários. Seis deles chegaram a ser fechados, mas reabertos logo depois, mediante Termos de Ajustamento de Conduta – TACs. Outras 213 investigações estavam em curso em 22 estados para apurar denúncias semelhantes.
A JBS, maior empresa do ramo é também a que tem mais trabalhadores contaminados. Em Passo Fundo (RS), dos 400 empregados testados, 180 tinham a doença – situação que se repetiu em outras duas unidades no estado. Em Goiás, foram em torno de 700 contaminados na unidade de Rio Verde. Todo o município, um dos principais centros do agronegócio, somava 9.751 casos, com 140 óbitos, até o último dia 6. Em Rondônia, 60% dos casos de covid-19 em São Miguel do Guaporé são de funcionários da JBS. Entre eles, dois quilombolas, que levaram a doença para sua comunidade.
Construção civil
As comunidades camponesas têm sido contaminadas também pela atuação da construção civil. Na Bahia, trabalhadores foram infectados em canteiros de obras da Andrade Gutierrez, que está montando linhas de transmissão de energia no estado. São 34 casos em Nova Holanda, no município de Pilão Arcado, e outros 28 em Angico, município de Campo Alegre de Lourdes. Empresas construtoras de parques eólicos são grandes focos contaminação dos mais de 100 casos ocorridos em Pindaí e Palmas de Monte Alto, também na Bahia.
Em Minas Gerais, trabalhadores da empreiteira Cobra Brasil, em Jaboticatubas, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, foram contaminados. A empresa, que pertence ao Consórcio Mantiqueira Transmissora de Energia, do grupo Brookfield, instala linhas de transmissão por vários municípios, inclusive o Vale das Cancelas, distrito de Grão Mogol, no norte do estado. Nesta região, os direitos territoriais tradicionais da comunidade geraizeira estão sendo desrespeitados.
Mineração
Na mineração, até o último dia 5 havia 20.362 casos confirmados e 152 mortes pela covid-19 em Parauapebas (PA). A cidade, que se formou e cresceu em função da mineradora Vale, enfrenta um colapso no sistema de saúde, o que agrava a situação. No final de maio, o complexo minerador da Vale em Itabira (MG), a 105 quilômetros de Belo Horizonte, foi interditado, após fiscais do trabalho identificarem 200 funcionários infectados – 10% do total da unidade.
Para a CPT, os esforços do Estado, das empresas e de toda a sociedade devem priorizar a solidariedade com os cidadãos, famílias, comunidades e povos em situação de vulnerabilidade social, alimentar e sanitária. “Por que a questão é: até quando a sociedade vai suportar a tragédia em andamento sem agir à altura para uma mudança real?”, questiona a comissão.
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