RFI
Publicada em 31/08/2020 às 14h48
O novo primeiro-ministro libanês, Moustapha Adib, prometeu nesta segunda-feira (31) formar em "tempo recorde" uma equipe ministerial composta de "especialistas" e pessoas "competentes" e responsáveis para a implementação de "reformas" há muito esperadas no país.
Embaixador do Líbano na Alemanha, Adib, foi eleito primeiro-ministro depois de receber o maior número de votos nas consultas parlamentares, obtendo apoio de 90 dos 120 deputados.
A nomeação de Adib, de 48 anos, foi anunciada em um comunicado divulgado pela televisão estatal. O novo primeiro-ministro se reuniu, em seguida, com o presidente Michel Aoun e o porta-voz do Parlamento, Nabih Berri.
O ex-professor de ciências políticas conta com o apoio de pesos pesados em sua comunidade sunita e dos principais partidos políticos xiitas e cristãos. Embora não seja ele próprio filiado a um partido político, é próximo do ex-primeiro-ministro Najib Mikati, de quem foi chefe de gabinete, entre 2011 e 2014
Mustapha Adib se comprometeu a trabalhar por "reformas" que, segundo destacou, os cidadãos libaneses esperam há muito tempo.
"A tarefa que aceitei se baseia no fato de que todas as forças políticas são conscientes da necessidade de formar um governo em tempo recorde e de começar a aplicar as reformas, tomando como ponto de partida um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)", afirmou em um discurso exibido na televisão.
"O tempo não é para palavras e promessas, mas para ação", completou.
Reconstrução de Beirute é prioridade
Após a devastadora dupla explosão no porto de Beirute, em 4 de agosto, que provocou pelo menos 188 mortes, a comunidade internacional aumentou a pressão sobre os políticos libaneses para que adotem um programa ambicioso de reformas em um país que enfrenta uma crise política, econômica e social.
A reconstrução da capital é uma prioridade para o novo governo, assim como fomentar a retomada da economia do país, também destruída. O mais importante, segundo prometeu o novo primeiro-ministro, é dar esperanças a um povo atingido por sucessivas crises durante quase um ano.
A explosão no porto de Beirute causou entre US$ 6,7 bilhões e US$ 8,1 bilhões em prejuízos e perdas econômicas, de acordo com uma estimativa divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Mundial. Segundo esse mesmo levantamento, o Líbano precisa urgentemente de US$ 605 milhões a US$ 760 milhões para se recuperar.
Os setores mais gravemente afetados são habitação, transportes e patrimônio cultural (incluindo monumentos religiosos e arqueológicos, teatros e bibliotecas), especifica o relatório do Banco Mundial publicado na véspera da segunda visita do presidente francês, Emmanuel Macron, ao país.
Apoio francês
A escolha de Mustapha Adib ocorre no momento em que Emmanuel Macron viaja ao país, onde é esperado nesta terça-feira (1º). Em sua segunda visita à capital libanesa desde o desastre, o presidente francês quer estimular a formação de um governo capaz de decidir sobre as reformas mais urgentes face ao colapso econômico do país.
Horas antes da chegada de Macron, o poderoso partido xiita Hezbollah também declarou estar pronto para discutir o novo “pacto político” proposto pelo presidente francês.
O governo precedente do Líbano renunciou após a explosão no porto de Beirute. Após a escolha de Moustapha Adib, resta esperar pela composição do novo governo. Para o partido do presidente Michel Aoun, Movimento Patriótico Livre (CPL na sigla em francês), será necessário recorrer aos atuais partidos políticos.
“Mesmo que haja uma mudança, isso não quer dizer que os partidos não representem mais a população. Parece um pouco utópico dizer que queremos um governo totalmente independente, porque de onde vamos tirar essas pessoas, elas virão de paraquedas governar?," questiona Martine Najem, vice-presidente da CPL.
Para Samy Gemayel, presidente do partido Kataeb e que renunciou ao seu mandato como deputado, após a explosão de 4 de agosto, será importante contar com eleições legislativas antecipadas no Líbano.
“Quando temos uma crise econômica dessa magnitude, uma explosão dessa magnitude, quando vivemos isso que estamos vivendo é natural que nos voltemos às pessoas e peçamos a opinião delas para que decidam o que querem," afirma.
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