France Presse
Publicada em 12/09/2020 às 09h12
O Irã acusou neste sábado as autoridades do Bahrein de "cumplicidade nos crimes" de Israel ao normalizar suas relações com este país, um acordo anunciado na sexta-feira por Donald Trump, que desta maneira dá um passo adiante na transformação do cenário do Oriente Médio e no isolamento do Irã.
"Os líderes de Bahrein serão agora cúmplices dos crimes do regime sionista, assim como uma constante ameaça para a segurança da região e do mundo muçulmano", afirmou o ministério iraniano das Relações Exteriores em um comunicado divulgado neste sábado.
Na sexta-feira, o Bahrein se tornou o segundo país do Golfo a normalizar as relações com Israel, depois do acordo similar alcançado entre Israel e Emirados Árabes Unidos há menos de um mês, e o quarto Estado árabe a estabelecer os laços, após os acordos assinados por Egito em 1979 e Jordânia em 1994.
Trump chamou de "histórico" o acordo, que significa o ponto de partida para o restabelecimento de relações diplomáticas e comerciais plenas.
"Estão acontecendo coisas no Oriente Médio que ninguém poderia ter imaginado", disse o presidente americano.
De acordo com um dos conselheiros do rei do Bahrein, Khalid al Khalifa, o acordo vai estimular a "segurança, estabilidade e prosperidade" da região.
A Casa Branca afirmou que representantes do Bahrein participarão em uma cerimônia de assinatura programada para terça-feira em Washington, que também terá a presença do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que também celebrou o acordo.
"Estou emocionado de anunciar que esta noite alcançamos outro acordo de paz com mais um país árabe, Bahrein. Este acordo se une à paz histórica com os Emirados Árabes Unidos", declarou Netanyahu na sexta-feira.
Assim como a maioria dos países do Golfo, o Bahrein compartilha com Israel e Estados Unidos a mesma hostilidade a respeito do Irã. O regime acusa Teerã de utilizar a comunidade xiita no Bahrein contra a dinastia sunita governante.
O país é sede da V Frota dos Estados Unidos, do qual é muito dependente.
Mas neste sábado os bareinitas contrários à aproximação com Israel criticaram o acordo entre os países.
Nas redes sociais, as hashtags "Bareinitas contra a normalização" e "A normalização é uma traição" eram muito reproduzidas.
Ao contrário dos Emirados, a oposição à normalização pé profunda no Bahrein, cuja sociedade civil é muito ativa, apesar da repressão.
As autoridades dissolveram os principais grupos de oposição, incluindo o xiita Al-Wefaq, que tinha representação no Parlamento até 2011, por supostos vínculos com "terroristas" próximos do Irã.
"O acordo entre o regime despótico do Bahrein e o governo de ocupação sionista é uma traição total ao islã e ao arabismo", escreveu Al-Wefaq no Twitter.
- "Golpe" à causa palestina -
Depois de criticar o Bahrein, o governo do Irã também acusou Israel de ter provocado "décadas de violência, massacres, guerra, terror e derramamento de sangue na Palestina, oprimida, e na região".
Na mesma linha, a Turquia condenou o acordo de normalização das relações entre Israel e Bahrein e o chamou de "novo golpe" à causa palestina.
"É um golpe contra os esforços de defesa da causa palestina, vai fortalecer Israel em suas práticas ilegais contra a Palestina e a tornar permanente a ocupação dos territórios palestinos", afirmou o ministério turco das Relações Exteriores em um comunicado.
Segundo as autoridades de Ancara, o acordo se opõe à iniciativa de paz árabe, que pede a retirada completa de Israel dos territórios palestinos ocupados em 1967 em troca de uma normalização das relações, e também às resoluções da Organização de Cooperação Islâmica (OCI).
Até agora existia um consenso no mundo árabe de que a resolução do conflito israelense-palestino era uma condição prévia inegociável para uma aproximação diplomática com Israel.
A Autoridade Palestina e o movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza, chamaram o acordo de "punhalada pelas costas" e de "agressão" à causa palestina.
Ahmad Majdalani, ministro palestino dos Assuntos Sociais, afirmou que "quatro ou cinco países árabes estariam dispostos a assinar uma paz ilusória" (acordo de normalização) com Israel.
O ministro não revelou detalhes sobre quais países seriam, mas de acordo com fontes palestinas poderiam ser Omã, Sudão, Mauritânia e Marrocos.
Trump, no entanto, afirmou que o acordo também beneficiará os palestinos.
"Estarão em uma posição muito boa", disse. "Eles vão querer participar (das conversações) porque todos os seus amigos estarão lá", completou.
O presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi, elogiou o acordo, que chamou de "histórico".
Normalizar as relações entre Israel e os aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio, incluindo as ricas monarquias do Golfo, é um objetivo chave da estratégia regional de Trump.
"À medida que outros países normalizem suas relações com Israel, o que vai acontecer, estamos convencidos de que, com bastante rapidez, a região se tornará mais estável, mais segura e mais próspera", acrescentou o republicano, que disputará a reeleição em novembro.
Ao chegar à Casa Branca em 2017, Trump prometeu uma paz duradoura para israelenses e palestinos e no início do ano divulgou um plano para a região que foi imediatamente rejeitado pelos palestinos, que o consideraram favorável a Israel e que deixava de lado sua aspiração de ter um Estado que conviva ao lado de Israel com fronteiras justas e estáveis.
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