Geovani Berno
Publicada em 19/11/2020 às 14h16
Para quem me conhece sabe que sou obeso desde a infância. Não lembro de me olhar uma única vez no espelho nestes meus 51 anos e ver uma silhueta esbelta, esguia. Digamos assim, dentro dos padrões normais.
E este fato me trouxe muitos dissabores em toda minha vida. Na escola era sempre o último a ser escolhido no time de futebol; nas aulas de educação física o último a concluir os exercícios, as corridas; era o rei dos apelidos como rolha de poço, baleia entre outros mais “carinhosos”; sobre namoradas, nem vou tocar no assunto, pois seria deprimente. Comprar roupas para gordo há 30, 40 anos nem se fale...
Com certeza, se tiver algum outro obeso lendo o artigo irá se identificar em muitos pontos. Já chorei muito, me rebelei demais com os apelidos e acabei por me conformar e a conviver com este “sofrimento” chamado obesidade. Mas nem por isso saí por aí atirando em ninguém e nem pensei em bobagens para comigo mesmo.
Nestes anos (e que me lembro desde os 8 anos, por aí) lembro de minha mãe me levando a especialistas para tentar regimes milagrosos que me fizessem emagrecer. Até em aula de ginástica olímpica eu fui fazer, mas só ganhei um pouco da agilidade e elasticidade que guardo até hoje, mas o peso continuou. É evidente que já estive em alguns momentos mais gordo, noutros menos gordo. Mas depois que passei os três dígitos (e isso foi lá pelos 15 anos) não lembro de algum dia ter baixado. E assim cheguei a inacreditáveis 147kg.
Neste momento percebi que era hora de mudar e consegui com remédios e acompanhamentos chegar próximo dos 100kg novamente, mas sempre que parava o efeito sanfona retornava e o peso ia bater em 125kg rapidinho. E assim foi minha vida. Até que...
Em 2018 após umas férias com a família no sul vi umas fotos e não gostei do que vi. E resolvi que era chegado o momento de uma atitude. Fui controlando a comida, cortando um carboidrato aqui, um refrigerante ali e assim fui parando de engordar e iniciei uma perda e me entusiasmei.
E numa pesquisa por receitas saudáveis na net (sim, a internet é uma poderosa ferramenta de coisas boas também) encontrei algo que mudou minha forma de ver e consumir alimentos: a estratégia lowcarb. Veja que não chamei de dieta, mas de estratégia, pois é uma forma de trabalhar o alimento em seu organismo de uma forma que ele produza menos o hormônio insulina (que injeta reservas em forma de gordura em nosso corpo) e fazendo com que nosso organismo busque nas nossas reservas a energia necessária para manter o motor funcionando.
Não vou fazer aqui uma apologia à lowcarb. Isso deixo para cada um pesquisar e avaliar. Mas o que quero dizer é que a forma de alimentação é saudável, de utilização de alimentos naturais, sem adição de conservantes, de alimentos processados (que são ricos em carboidratos, conservantes e sal). E para que tudo funcione só precisa que você entenda o mecanismo e mude hábitos eliminando a quase totalidade de carboidratos e açúcares, que só nos fazem mal. Se eu não gosto mais de alimentos “ruins”? Amo um pão, arroz, macarronada. Isso não quer dizer que nunca mais irei comer. Faço isso até com certa frequência, mas sempre com parcimônia e retornando para a estratégia lowcarb imediatamente.
E foi assim, sem grandes sacrifícios, comendo super bem e de forma correta e equilibrada que saí de 127kg em 2018 e cheguei aos 99,8 kg (sim, venci os três dígitos) em novembro de 2020. Foi muito tempo? Não, fiz de forma suave, sem tropeços, sem desistir no meio do caminho. E lembro que tivemos uma pandemia e que fui obrigado a abandonas a academia e mesmo as caminhadas ficaram de lado por um longo período e mesmo assim, quando foi liberado continuei nas caminhadas e eliminei 11kg de março até agora.
Portanto, deixo aqui este depoimento em forma de incentivo para inspirar a todos que se atreverem a ler estas linhas a saber que sim, é possível mudar de vida, mesmo convivendo em uma casa em que os demais mantém os hábitos “normais” de alimentação. Basta querer. E peço sempre a Deus para que me mantenha com disposição e persistência em manter este novo estilo que escolhi de vida e que em 2021 nos liberte desta pandemia para que possa voltar a academia com segurança para ganhar musculatura, pois a idade cobra e as pelancas aparecem (hehehe).
Fica só o alerta que uso como meu mantra: um obeso é um doente crônico e como no AA usam o lema que compartilho para nós, mas voltado à comida: só por hoje, não! E assim vamos vencendo...
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2020/11/vencendo-preconceitos-e-a-obesidade-por-geovani-berno,90576.shtml