RFI
Publicada em 28/11/2020 às 09h02
O presidente argentino, Alberto Fernández, anunciou que, com exceção de duas cidades, a Argentina sairá oficialmente do isolamento social, considerado o mais prolongado do mundo. Fernández pediu que a população mantenha os esforços de proteção e não relaxe nos cuidados.
"Verificamos que, nas duas últimas semanas, a quantidade de casos caiu aproximadamente 30% no país. Vamos manter em isolamento social apenas em duas cidades: Bariloche e Puerto Deseado (as duas na Patagônia). Esta nova etapa vai até 20 de dezembro", anunciou o presidente Alberto Fernández, sublinhando que "a população deve continuar com o esforço porque o problema da pandemia não foi superado".
O pedido para que os argentinos continuem com os esforços chegou na noite desta sexta-feira, um dia depois das gigantescas aglomerações populares em torno do velório do ex-jogador Diego Maradona, organizado pelo próprio governo.
A cerimônia, no qual cerca de um milhão de pessoas não mantiveram distanciamento social nem cuidados de proteção, levou a oposição a denunciar penalmente o presidente Alberto Fernández por favorecer a propagação do coronavírus.
"As imagens que vimos do velório são o que devemos evitar. Claro que são um risco epidemiológico cujo impacto veremos dentro de sete ou dez dias", criticou o ministro da Saúde de Buenos Aires, Fernán Quirós.
Foi a vez do interior
O anúncio do fim da quarentena se aplica a dez das 24 províncias argentinas, a maioria no interior. Na região metropolitana de Buenos Aires, o fim da chamada "quarentena eterna" começou em 9 de novembro, depois de 233 dias de isolamento.
O fim da quarentena, no entanto, não acabou com as restrições. O transporte público, por exemplo, continua exclusivo para as atividades consideradas essenciais.
A extensão da quarentena ajuda a entender a drástica queda na popularidade de Alberto Fernández que, em março, tinha 67,8% de imagem positiva e agora tem 32,4%, segundo a consultora Giacobbe & Asociados.
“É um vertiginoso processo de desilusão”, define à RFI o analista político Jorge Giacobbe, autor do estudo, o mais recente publicado nesta semana.
"Os números indicam que a quarentena já não tinha sentido. O erro foi usar a quarentena como único recurso para controlar a pandemia. O governo ficou sem margem para continuar com o lockdown, enquanto os casos só aumentam", indica o analista.
O estudo também aponta que 64,2% dos argentinos concordam com a mudança de isolamento a distanciamento social. “Os argentinos estão exaustos. O cansaço social depois de oito meses chegou ao limite. A fase racional da quarentena já tinha acabado meses atrás”, conclui Giacobbe.
Aguentar até a vacina
O presidente também traçou a nova meta do país em relação à pandemia: vacinar a maior quantidade de pessoas possível entre janeiro e março quando começará o outono.
"Temos a vantagem de ver o que acontece com a pandemia no hemisfério Norte. Uma segunda onda com uma quantidade de contágios realmente alarmante. É muito possível que a Argentina deva enfrentar uma segunda onda. Por isso, quanto mais cuidados tivermos mais fácil será enfrentar o outono", comparou Fernández.
Para evitar esse espelho europeu, a Argentina pretende vacinar 13 milhões de pessoas.
"Quando março chegar, queremos que todos os grupos de risco estejam imunizados. O total de pessoas que deveríamos vacinar entre janeiro e março é de 13 milhões de pessoas, cerca de 25% dos argentinos. Esse é o esforço que devemos encarar agora", apontou o presidente.
Depois de março, a vacinação continuará com aqueles que não são grupo de risco. A vacina será gratuita para população, mas não obrigatória.
"Convoco todos a serem parte dessa epopeia que é cuidar da saúde. Vamos precisar de cerca de 20 mil voluntários. A Argentina, com todo esforço, pode vacinar entre 4,5 e 5 milhões por mês", calculou Fernández.
Apesar da quarentena mais prolongada e rígida do mundo, a Argentina é o nono país com mais casos, mesmo quando é um dos que menos testes faz. São 1,407 milhão de contagiados e 38.216 mortos.
Em relação à sua população, ocupa o 23.º posto, pior do que Brasil (28º), Peru (30º) e Chile (32º), países sul-americanos com mais alta taxa de casos. Em relação à sua população, a Argentina ocupa o 8º posto em número de mortos. O Peru aparece em 3º lugar e o Brasil, em 11º.
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