AFP
Publicada em 15/12/2020 às 14h59
O líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, reivindicou nesta terça-feira (15) o sequestro de centenas de estudantes de ensino médio no noroeste da Nigéria, longe do habitual feudo deste grupo jihadista, o que revela sua expansão.
"Sou Abubakar Shekau e nossos irmãos estão por trás do sequestro em Katsina", anunciou em uma mensagem de voz o líder do grupo que também está por trás do sequestro em 2014 de mais de 200 meninas em Chibok, caso que provocou uma onda de indignação mundial.
Ao menos 333 adolescentes permanecem desaparecidos desde o ataque na sexta-feira passada contra uma escola no estado de Katsina, noroeste da Nigéria, a mais de 100 quilômetros do território do Boko Haram. Habitualmente, o grupo atua nas proximidades do lago Chade.
Este número de 333 estudantes sequestrados foi dado pelo governador de Katsina e confirmado na segunda-feira por fontes militares, mas não parece definitivo, já que alguns deles podem ter escapado e depois se perdido.
No Twitter, o governador Aminu Bello Masari afirmou que há "negociações" com os sequestradores "para garantir a segurança" dos adolescentes e "permitir seu retorno às suas casas".
Mais de 100 homens armados, em motos, atacaram na sexta-feira à noite a escola rural na cidade de Kankara.
Muitos adolescentes conseguiram fugir e se refugiaram em uma floresta próxima, enquanto outros foram alcançados, separados em vários grupos e levados pelos assaltantes, relataram habitantes ouvidos pela AFP.
Em um primeiro momento, o sequestro foi atribuído a grupos armados, chamados de "criminosos", que aterrorizam a população nesta região instável. Nela, os sequestros para pedidos de resgate são frequentes.
"O anúncio da reivindicação pelo Boko Haram destruiu toda a esperança que tinha de voltar a ver meu filho em breve", disse à AFP um pai de família, que se identificou somente como Ahmed, e que se reuniu com outros pais perto da escola agora vazia.
- Expansão jihadista -
Muitos especialistas e observadores da região alertaram sobre uma possível aproximação entre esses "bandidos" e os grupos jihadistas que propagam sua influência em toda região do Sahel, desde o centro do Mali até o lago Chade, ao norte do Camarões.
O presidente Muhammadu Buhari condenou o ataque e ordenou o reforço das medidas de segurança em todas as escolas.
Os centros de ensino foram fechados no estado de Katsina.
A Presidência afirmou, no sábado, que o Exército localizou "o refúgio dos bandidos" e que havia uma operação militar em andamento.
A segurança é frágil no norte da Nigéria desde a eleição do presidente Muhammadu Buhari em 2015, apesar de sua declaração de que a luta contra o Boko Haram seria a prioridade de seu mandato presidencial.
- Atrocidades -
O grupo jihadista de Abubakar Shekau cometeu inúmeras atrocidades nas últimas semanas. Reivindicou o massacre de dezenas de trabalhadores agrícolas perto de Maiduguri, a capital do Estado de Borno. Também assumiu a autoria de um "bárbaro" ataque no fim de semana passado contra uma aldeia perto de Diffa, no vizinho Níger, onde ao menos 28 pessoas morreram, a maioria queimadas vivas.
O chefe de Estado nigeriano, de 77 anos, anunciou que falaria na Assembleia Nacional sobre a insegurança no país, antes de recuar, ao negar ao Parlamento "poder constitucional para dar lições ao presidente em seu papel de comandante-geral das Forças Armadas", justificou seu ministro da Justiça, Abubakar Malami.
O conflito jihadista já causou 36.000 mortes, principalmente no nordeste do país, e cerca de dois milhões de deslocados. Expandiu-se para o Chade, Camarões e Níger, países vizinhos da bacia do lago Chade.
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