Geovani Berno
Publicada em 18/12/2020 às 16h05
Quando eu era adolescente morria de medo de uma guerra nuclear. Afinal, vivíamos tempos difíceis de uma longa Guerra Fria e a iminente deflagração de um conflito armado assustava a todos com a possível destruição da vida humana na Terra, ou com poucos sobreviventes vivendo as sequelas de água, ar e alimentos contaminados por radioatividade. O cenário seria catastrófico.
No entanto, em pleno século XXI, não foram as bombas atômicas que cruzaram os céus e destruíram tudo. Foi um vírus. Um mísero e invisível vírus que fez o mundo parar. Alguém poderia imaginar uma 5ª Avenida em Nova York às moscas, uma avenida Paulista sem circulação de carros, Disneylândia fechada. Torre Eiffel, fechada. Muralha da China, fechada. Europa toda, fechada. Indústrias paradas. A Terra parou.
Toda a população mundial foi convidada a se recolher em seus lares. Mesmo quem não tinha lar, não circulava pelas cidades. O medo, o pavor, o pânico tomou conta da população e por longos dias ficamos aprisionados. Surgiram novas formas de trabalho. Empresas fecharam as portas definitivamente. Empregos sumiram em dias. Milhões de desempregados. A “bomba” atômica havia sido finalmente lançada.
Ela não poluiu o ar, a terra e a água, mas por onde passa, o vírus contamina e deixa um rastro de mortes e doentes. Ataca de forma sorrateira e muitas vezes mortal a muitos descuidados, já debilitados com doenças crônicas. Levando para o túmulo sem direito a velório, a historicidade dos nossos antepassados mais velhos. E assim, a Terra parou e choramos.
Por um tempo conseguimos frear seu avanço em vários países com ações enérgicas de alguns governantes e colaboração da população. Mas em outros países, estados e municípios se relaxou e o estrago foi e está sendo grande. Novas ondas surgiram, afinal em eleição não se transmite coronavírus. E as aglomerações das reuniões estão sendo refletidas até hoje com números cada vez mais altos e crescendo em ordem exponencial. E a Terra está parando...
Mas eis que surge a ciência para nos salvar e desenvolve uma vacina em tempo recorde. E muitos governantes não entendem o porquê da população estar tão eufórica em querer vacinar. Em querer ser imunizada para não mais ser um vetor de transmissão e ou de morte. E, com a vacina, renasce a esperança da possibilidade de dias melhores. De podermos voltar ao aperto de mãos, ao abraço, ao beijo carinhoso...
Pois é, eu cresci, cheguei aos 51 e hoje não tenho mais medo da bomba atômica. Tenho medo de sentar ao lado de alguém que possa me trazer os fluídos da morte. Que Deus e as máscaras e o álcool gel me protejam, pois estou viajando para encontrar minha mãe. Encontrá-la e não poder abraçá-la por alguns dias mantendo distanciamento será cruel, mas necessário para nossa saúde. Até a volta com saúde. E vacina. Que assim seja.
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