EDITORIAL Rondônia: Marcos Rocha, um governador em lockdown Publicada em 06/06/2020 às 09:43 Porto Velho, RO – Na coletiva da última sexta-feira (05), Marcos Rocha buscou guarida moral no seu discurso desconexo a todo o tempo caçando com os olhos o empresário Francisco Holanda, conhecido como Chico Holanda, a quem elegeu, sem consultar os demais empresários, representante do “setor produtivo”. Faça-se justiça. Não só nele. Há outros tantos no palanque a fim de diluir a responsabilidade do ocupante da principal cadeira administrativa do Palácio Rio Madeira na tomada de decisões, mesmo que essa prerrogativa seja exclusivamente dele. No caso específico do comércio, o seu Luiz, só para dar um exemplo, dono de uma pequena bicicletaria lá no Marcos Freire, não faz a mínima ideia de quem seja Chico Holanda; Maria, costureira no Nacional, idem. Logo, Holanda representa a si mesmo, inclusive politicamente, porquanto não foi escolhido por quem quer que seja a fim de postar-se como expoente do segmento considerado como uma das molas propulsoras econômicas do Estado. Aliás, em determinada passagem do pronunciamento do governador, Chico Holanda deixa de ser Chico Holanda e passa a ser denominado como a encarnação do “setor produtivo”. Na visão de Marcos Rocha, Chico Holanda é a encarnação do setor produtivo / Reprodução Mas isso não é o pior. O pior vem a seguir: “Estou, sinceramente, sentindo um nó no peito. Porque é algo que eu não gostaria de fazer. Sentindo um nó no peito, porque amigos faleceram. Amigos... Pessoas que eu, ou nós aqui, que nos tornamos uma família, a gente conhecia. Então isso dói demais no coração. E isso eu não quero. Quero evitar que aconteça com outras pessoas”. Este trecho específico retrata o horror ao qual o rondoniense está submetido. Como dizem por aí: ele simplesmente se superou. É de chocar que o militar esteja com “nó no peito” só agora, quando 213 pessoas perderam a vida, e, entre elas, alguns conhecidos seus e do estafe administrativo. Aí, só aí, ele sentiu que era o timming para fazer algo, embora algo meia-boca, sem conseguir denominar as coisas pelo nome. Enquanto morriam os ilustríssimos desconhecidos, seus pais, suas mães, seus vizinhos, seus amigos, seus tios, suas tias, seus irmãos, suas irmãs, seus colegas de trabalho, enfim, caros (as) leitores (as), não havia agrura no peito de Marcos Rocha, portanto as coisas poderiam seguir como estavam, sem maiores preocupações. De todos os absurdos já ditos pelo chefe do Executivo estadual, não há dúvidas, este pedaço de discurso foi o mais atroz, insensível e desumano. Não é lockdown, segundo ele. Mas também não é isolamento restritivo, porque o tal Decreto [clique aqui e leia na íntegra], que abrange também Candeias do Jamari, já foi editado e publicado. Nele, fala-se, sim, em restringir a circulação de pessoas nas ruas. A situação desenhada por Marcos Rocha como “não tão pesada” para ser chamada como lockdown, exige dos cidadãos até mesmo uma Declaração de Serviço Essencial. O regramento fala, inclusive, na possibilidade de se promover sanções de ordem administrativa e penal. Decreto "leve" de Marcos Rocha ameaça cidadão que circular sem a Declaração de Serviço Essencial / Reprodução Não se discute se o intento é certo ou errado. É corretíssimo, até porque a situação do avanço de casos do novo Coronavírus (COVID-19/SARS-CoV-2) já acendeu o sinal de alerta há muito com contágio em massa e mais mortes do que se imaginava. Agora, uma liderança que se preze precisa chamar as coisas pelo nome, ter pulso firme, dizer a verdade -- doa a quem doer – mesmo que a decisão seja impopular. Tentar maquiar as coisas faz com que a população não entenda cem por cento o que está ocorrendo, e isto causa, só para se ter uma ideia, situações como a superlotação de supermercados em Porto Velho. Um pronunciamento dúbio, onde não se sabe se é ou não é, se vai ou se não vai, coloca o povo na rota de colisão com os efeitos mórbidos e letais da pandemia, pois não dá para levar a sério a imputação de gestores que transitam entre a bajulação direcionada ao discurso político do Planalto e uma mínima preocupação com a saúde local durante uma das maiores crises sanitárias de todos os tempos. No Brasil, 36 mil pessoas já morrem, mas a preocupação de Rocha é não caracterizar o panorama de maneira que desagradaria o presidente da República (sem partido). Mas, mesmo que sejam medidas enérgicas e temporariamente necessárias, elas não importam em nada se a fiscalização não seguir o ritmo do papel. Na manhã deste sábado (06), enquanto este editorial é redigido, a vida transcorre como sempre foi nas ruas da Capital, com trânsito livre e as portas do comércio em geral escancaradas. Por fim, e sobre outro assunto, Marcos Rocha voltou ao tema dos kits rápidos de Coronavírus insinuando que órgãos de imprensa teriam mentido para prejudicá-lo, chamando de invenção notícias verificadas antes da publicação. “Nós compramos kits, compramos exames. Exames que, por sinal, falaram que não existiam. ‘Ah, tem corrupção’. Não foi isso o que falaram na rede social aí?”. “Aí depois que viram o exame, falaram que não era autorizado pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Aí ficou autorizado pela Anvisa”. “As pessoas querem inventar uma história, inventar uma mentira pra vender. Isso é sujo. Isso é sujo. Quem faz isso é sujo, não é verdade?”. Decreto também traz assinaturas de Fernando Máximo e Júnior Gonçalves / Reprodução Ele só esqueceu de dizer à plateia, formada essencialmente por jornalistas, que os testes não tinham mesmo registro na Anvisa, e que há, sobre eles, procedimento instaurado no Ministério Público (MP/RO) para apuração de possíveis ilegalidades relacionadas à intenção do Estado em pagar às pressas R$ 10,5 milhões à empresa BuyerBR. No discurso, Júnior Gonçalves tentou tirar a responsabilidade das costas do governador / Reproução A BuyerBR é representada por Maíres de Carli no contrato firmado pela gestão Marcos Rocha. Maíres, por outro lado, é ex-vice-presidente da RCC Alimentos, uma empresa em processo de fechamento e que já pertenceu aos irmãos Gonçalves, Júnior, secretário-chefe da Casa Civil, e Sérgio, chefe da Superintendência Estadual de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura (SEDI). Ninguém disse que há corrupção, e o governador sabe disso. Mas foi apontado, sim, essa aparente coincidência para que os órgãos de fiscalização e controle digam se está tudo normal ou não. Qual o problema nisso? Site Rondoniaovivo salvou captura de tela da matéria publicada e deletada da SECOM / Reprodução Além do mais, Rocha não pode dar lição de moral sobre informações. O Governo de Rondônia simplesmente mandou deletar matéria no site institucional da Superintendência Estadual de Comunicação (SECOM), sem veicular mea-culpa ou errata posterior. Difundiu uma informação oficial, excluiu do site, e calou-se, deixou o erro ser propagado intencionalmente. Questiona-se: quem é baixo? Quem é sujo, então? A sociedade não está trancafiada, mas o governador, este sim, está em lockdown desde que assumiu o cargo em janeiro de 2019. Fonte: Rondoniadinamica Leia Também Sindicatos questionam perdão da dívida da Energisa com Rondônia Rondônia: Marcos Rocha, um governador em lockdown Emenda do Deputado Luizinho Goebel garante 5 mil toneladas de calcário para produtores Nota de Pesar – Câmara de Porto Velho lamenta a morte do vereador Pastor Edésio Fernandes MDB prepara pré-candidatos para as eleições em Porto Velho, Pimentel entre os nomes para disputar a prefeitura, porque teste preventivo do Covid-19 pode evitar óbitos Twitter Facebook instagram pinterest