POLÍTICA Instabilidade política reaviva temor de crise da dívida na Itália Publicada em 18/07/2022 às 09:14 O anúncio da renúncia do chefe de Governo, Mario Draghi, e o aumento das taxas de juros pelo Banco Central Europeu (BCE), reavivou os temores de uma crise da dívida na Itália, onde financistas e políticos analisam o spread entre os títulos alemães e italianos. Após a decisão do BCE em junho de cortar as medidas de apoio monetário e de compra de ativos (para conter a inflação), o spread - a diferença entre as taxas de juros da Alemanha e da Itália em dez anos - subiu 245 pontos, seu nível mais alto em dois anos. O anúncio do BCE de novos planos para combater o aumento do spread fez com que caísse, mas a renúncia de Draghi, rejeitada pelo presidente, disparou novamente o prêmio de risco italiano. - Em que situação está a Itália? - Além das tensões políticas, na Itália "existe um risco específico devido ao tamanho de sua dívida, sua baixa taxa de crescimento e sua dependência do gás russo", disse à AFP Gilles Moec, economista-chefe da seguradora e administradora AXA Group. A Itália tem uma dívida de 2,7 trilhões de euros (quase o mesmo valor em dólares), a segunda maior da zona do euro depois da Grécia em relação ao seu PIB (150%), apesar da relação dívida/PIB ter começado a diminuir. Em termos de crescimento do produto interno bruto, o país está há anos na fila de trás na zona do euro: entre 1999 e 2019, cresceu apenas 7,9%, em comparação com 30,2% na Alemanha, 32,4% na França e 43,6% na Espanha. Após a pandemia de coronavírus de 2020, o país conseguiu crescer 6,6% em 2021. E o Banco da Itália prevê um crescimento de 3,2% para 2022, embora esse número possa ser de 1% se a Rússia cortar o fornecimento de gás como resultado das sanções pela guerra na Ucrânia. - Areia movediça política - A Itália é a maior beneficiária do plano de recuperação econômica lançado na Europa após a covid-19, com 191,5 bilhões de euros, e conta com esse dinheiro para relançar sua economia, mas terá de aceitar uma série de reformas impostas pela União Europeia. A possível saída de Draghi, no entanto, complicaria a realização das reformas, e as tensões dentro da coalizão governista poderiam levar a eleições antecipadas. A taxa de juros a dez anos estava abaixo de 0,5% quando "Super Mario" se tornou presidente do conselho de ministros, em fevereiro de 2021. Mas agora está em 3,4%. "Se o governo Draghi cair amanhã, não consigo imaginar o que aconteceria com o diferencial", diz Franco Pavoncelo, professor de ciência política da Universidade John Cabot, em Roma. Uma vitória para as forças da extrema-direita, ou para os populistas, degradaria a situação, como já aconteceu em 2018, quando a Liga de Matteo Salvini e o Movimento Cinco Estrelas governaram juntos. - BCE ao resgate - "Foi a pressão sobre a Itália que convenceu o BCE a criar uma ferramenta" para limitar as diferenças de custo de financiamento entre as economias mais fracas do euro, aponta Gilles Moec. Com esta ferramenta, o BCE procura conter a especulação e evitar uma crise da dívida como a de 2012. Para o economista-chefe do banco italiano Unicredit, Erik Nielsen, o súbito aumento das taxas em junho foi pura especulação: "não responde a um problema real de insolvência". "A Itália é vista como o país mais vulnerável, por isso há especulações", acrescentou. Mas a chegada de forças antissistema no governo italiano pode complicar a situação, já que os países ditos "austeros" do norte da Europa não veem com bons olhos a ajuda do BCE aos Estados eurocéticos. - Crise semelhante à de 2012? - Para o economista Jesús Castillo, do banco de investimento Natixis, um aumento das taxas de juros não perturbaria as finanças públicas italianas: "Para que haja problemas de solvência, têm que subir muito rapidamente e por muito tempo". Além disso, os títulos da dívida da Itália têm duração média de sete anos, portanto, o aumento das taxas não afeta diretamente a dívida. Por outro lado, o país está numa situação melhor do que em 2012. "Os fundamentos econômicos continuam compatíveis com a sustentabilidade da dívida de longo prazo", garante Castillo. Fonte: AFP Leia Também Instabilidade política reaviva temor de crise da dívida na Itália Justiça britânica decidirá sobre nomeações de Juan Guaidó ao Banco Central da Venezuela Mercado financeiro prevê inflação de 7,54% em 2022 Trabalhadores em Educação de Rondônia participam da II Conferência Nacional Popular de Educação Sisu: prazo para a inscrição na lista de espera termina nesta segunda-feira Twitter Facebook instagram pinterest