INVESTIGAÇÃO Ex-braço direito de Torres cita pressão para ligar PT a facções criminosas no 2º turno Publicada em 06/10/2023 às 16:24 Uma anotação encontrada no celular da delegada da Polícia Federal Marília Ferreira, ex-braço direito de Anderson Torres, afirma que "havia uma certa pressão" após o primeiro turno das eleições para que ela indicasse uma relação do PT com facções criminosas. O texto escrito em primeira pessoa descreve a mobilização do Ministério da Justiça diante da "preocupação" de Torres com o Nordeste –em especial com a Bahia, estado que deu a Lula (PT) mais de 72% dos votos válidos, o segundo maior percentual do país. O texto estava no bloco de notas do celular de Marília, entregue pela Apple à CPI do 8 de janeiro. Não é possível saber a data em que ele foi escrito. O relatório da Apple diz apenas que as cinco notas do celular são do período entre 31 de dezembro de 2021 e 18 de agosto deste ano. "Havia uma preocupação do ministro com o Nordeste e ele falava muito na Bahia, pois havia visto no mapa com o planejamento do primeiro turno que havia muito pouca distribuição de equipes no interior da Bahia. Desde antes do primeiro turno a DINT [Diretoria de Inteligência] recebia dezenas de vídeos e postagens de pessoas, a maioria delas fake news, sobre compra de votos e ligação do PT com facções criminosas", diz trecho do texto. "Toda notícia ou informe que chegava, tentávamos fazer a confirmação, pedindo o BO [boletim de ocorrência] ou consultando o centro de inteligência respectivo. Então, algo que estava arraigado ali na SEOPI [Secretaria de Operações Integradas do ministério] era essa relação do PT com compra de votos, e sempre comentávamos sobre isso", continua. Marília e Torres estão no centro das investigações que apuram se a PRF (Polícia Rodoviária Federal) montou centenas de blitze no segundo turno para atrapalhar eleitores petistas e favorecer Jair Bolsonaro (PL). A suspeita da PF é de que a operação tenha sido planejada a partir de um levantamento feito por ela com os locais em que Lula teve mais de 75% dos votos no primeiro turno. O ex-diretor da PRF Silvinei Vasques está preso de forma preventiva desde agosto. "Havia uma certa pressão para que eu fizesse um relatório que indicasse a relação do PT com facções criminosas, pois havia alguns indicativos disso, mas não fizemos porque não havia comprovação", diz outro trecho do texto. Procurada pela reportagem, a defesa de Marília afirmou em nota que desconhece a suposta anotação. "A defesa técnica não teve acesso e desconhece essa suposta anotação. Se ela existir, é sigilosa e seu vazamento deve ser apurado." Marília foi diretora de inteligência do Ministério da Justiça no governo Bolsonaro e acompanhou Torres de volta à Secretaria de Segurança do Distrito Federal após a vitória de Lula. Ela era a responsável pela inteligência da secretaria em 8 de janeiro, dia dos ataques golpistas contra as sedes dos três Poderes. A anotação localizada no celular de Marília também detalha uma suposta pressão de Torres para que a Polícia Federal reforçasse o efetivo no segundo turno das eleições. O ex-ministro chegou a dizer, segundo o texto, que trocaria o então diretor-geral da corporação, Márcio Nunes, se Bolsonaro fosse reeleito. De acordo com o registro, Torres reclamou que a PF estava fazendo "corpo mole" e que, por isso, a própria Secretaria de Operações Integradas planejaria as ações. O texto descreve ainda uma reunião entre as equipes do ministério e da corporação sobre os indícios de compra de votos no Nordeste. "Márcio perguntou se havia relatório de inteligência sobre isso, eu disse que ia tentar ver se conseguíamos demonstrar o incremento de crimes eleitorais para que houvesse justificativa de aumento de efetivo em relação ao segundo turno. Porém, conversei com o Tomás [supostamente Tomás Vianna, ex-coordenador de inteligência do ministério], e concluímos que não havia esse incremento." A anotação também diz que o ministro "chegou a comentar que gostava muito do Márcio mas que não era uma pessoa muito firme para aquele momento e que numa eventual vitória nas eleições ele trocaria o DG [diretor-geral]". "Márcio não queria cumprir a determinação dele, e acabou não cumprindo, pois os planejamentos não foram seguidos." A defesa de Torres não quis se manifestar. "A defesa do ex-ministro Anderson Torres tomou conhecimento deste fato pela imprensa. Não teve acesso oficial aos documentos ou perícias e, por isso, prefere se manifestar nos autos em momento oportuno", declarou o advogado Eumar Novacki, em nota. A CPI também localizou entre as imagens do celular da delegada o print de uma tela em que aparece o tuíte escrito por um usuário em 29 de outubro, um dia antes do segundo turno. O texto dizia: "Até o ônibus oriundo de Santo-Sé, na Bahia, que transporta pacientes que fazem tratamento médico em Salvador foi retido pela Polícia Rodoviária Federal. Eles estão tocando o terror para aumentar a abstenção no Nordeste! É criminoso! O TSE precisa agir urgentemente!". Fonte: Noticia ao Minuto Leia Também Ex-braço direito de Torres cita pressão para ligar PT a facções criminosas no 2º turno Hildon Chaves chama população para o Dia D da Multivacinação, neste sábado (7) UNIR vai às escolas com projetos de Ciência e Tecnologia Ônibus que transportava migrantes capota e deixa quase 20 mortos no México Estratégias contra o crime organizado são debatidas em evento nacional com participação do MPRO Twitter Facebook instagram pinterest