A “Vila de Rondônia” que virou cidade com ares de capital

A “Vila de Rondônia” que virou cidade com ares de capital

 Matutei um bom tempo reciclando as ideias para iniciar este texto lembrando o vilarejo solitário, que conheci em 1976 cortado pela estrada barrenta de chão batido, atual BR 364 e banhado pelo caudaloso rioMachado, em minha primeira aventura como repórter da revista “Veja” pelos ermos do então Território Federal de Rondônia.

  Nem sempre é uma tarefa fácil rememorar episódios de praticamente 40 anos passados para desenvolver uma narrativa por mais simplória que seja, margeando caminhos quando se quer retratar o progresso, sem esconder a tristeza e sofrimento vivido pelo outro lado. Mas, é assim mesmo, quando se relataa história e desenvolvimento de uma região e de um povo. Por que não há história sem gente. Gente, sem história é povo que não existe.

  Redigir sobre o progresso e desenvolvimento de Ji-Paraná (ou Vila de Rondônia), se olharmos para o hoje, o agora, vislumbrando somente o futuro, esquecendo o passado que consumiu boa parte da vida daqueles que desbravaram enfrentando, poeira, sol, mosquitos e doenças tropicais, saboreando o pão que o Diabo amassou com o pé, seria uma maravilha. 

  No final de janeiro de 1976, ninguém me contou, eu testemunhei em boa parte do trecho que separa os municípios de Ji-Paraná e Ouro Preto do Oeste, centenas de veículos atolados, entre eles ônibus da empresa da União Cascavel. Trabalhadores rurais e braçais, transportando trouxas de roupassujas, machado e enxada no ombro se deslocavam a pé rumo a “Vila de Rondônia”, ou aguardavam socorro as margens da rodovia.

 Como diria o poeta, foram estes “heróis sem medalhas” que escreveram a história de Ji-Paraná considerada por muitos, como a capital econômica do estado que mais cresce e se desenvolve na região Norte. O ex-governador, Paulo Nunes Leal, em suas memórias, o “Outro Braço da Cruz” revelaepisódios, tensos e outros hilariantes sobre a Vila de Rondônia e abertura da BR 364.

  Registrou o ex-governador, que gêneros e equipamentos para os trabalhadores que abriam caminho na mata formando a picada para as máquinas concluir o trabalho de abertura da estrada, eram jogados por meio de aeronaves. Na “Vila de Rondônia”, certa vez, descarregando os suprimentos um saco de machados de se rompeu antes de atingir o solo.

 Numa casa simples coberta de brasilit, uma mulher grávida de oito meses cochilava quando uma peça de machado vindo do espaço provocou um estrondo rebentando o telhado e caiu ao lado dela sala. O susto foi tão grande, segundo o relato que a criança nasceu antes da hora sendo salva pelos militares que administravam as obras da rodovia.

 O progresso é implacável. Os tempos são outros. A pacata “Vila de Rondônia” tornou-se uma cidade aconchegante com ruas largas e arborizadas, repleta de gente bonita. Todavia, a história não pode ser ingrata, esquecendo a importância dos pioneiros que ao longo das quatros últimas décadas transformaram Ji-Paraná no segundo maior município do Estado de Rondônia.

Autor / Fonte: José Luiz Alves

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