Caso Nicolas Naitz: a linha de investigação que – quase – ficou para trás


O motoboy ainda não identificado / Divulgação

POR VINICIUS CANOVA

Porto Velho, RO – "Coração de mãe não se engana. Ele está vivo e vou encontrá-lo". Esse é o pensamento de Marciele Naitz Sampaio Pereira mais de 1460 dias após o desaparecimento de seu único filho. Quando deu à luz, tinha apenas 17 anos; atualmente, está com 21, ainda mora em Cujubim, é formada em Administração e trabalha numa loja local.

O histórico do mistério envolto ao sumiço da criança revela que o bebê Nicolas Naitz nasceu no dia 22 de maio, às 9h20, com 2,8 kg – de parto normal – no hospital Santa Izabel, em Candeias do Jamari.

Logo após o nascimento, o menino apresentava boas condições de saúde, segundo informou o obstetra tanto à mãe quanto à avó do rebento.

E não só isso. A técnica em enfermagem Marli Dahm acompanhou o traslado de Marciele – ainda grávida – de Cujubim a Candeias. Ela tem 20 anos de experiência profissional e garantiu à reportagem:

“Eu assisti ao parto do Nicolas, inclusive fui eu que tirei as fotos de quando ele nasceu. O bebê nasceu bem, chorou muito. Não precisou ser aspirado nem de oxigênio. Tenho certeza que o Nicolas está vivo em algum lugar”, disse.


Nicolas nasceu saudável, atesta enfermeira que acompanhou o parto / Divulgação

A opinião de Marli está ligada ao que, na visão dela, ocorreu após o nascimento.

“De repente, de uma hora para a outra, o médico disse que levaria a criança para Porto Velho. E me disse: ‘Eu levo o bebê e você segue com a mãe em outra ambulância. Eu estranhei a atitude dele, mas é como dizem: ‘Conduta médica não pode ser questionada”, revelou.

Cerca de nove horas depois, no entanto, o recém-nascido estaria morto, isto após passar pelos hospitais São Cosme e Damião e Regina Pacis, de Porto Velho.

Nesse meio tempo, inúmeras informações desencontradas convergiram às margens do dramático desaparecimento cujas incertezas perduram até hoje.


O parto de Nicolas não foi realizado na ambulância / Divulgação

Uma pediatra da instituição foi quem atestou o óbito de Nicolas apontando, como causas, “parto na ambulância”, “sepse neonatal”, o mesmo que infecção em recém-nascido e também “asfixia pré-natal”.

O apontamento equivocado patrocinado pela pediatra lhe rendeu o indiciamento por falsidade ideológica, mas, no dia 20 de novembro de 2014, a 1ª Câmara do Tribunal de Justiça (TJ/RO) anulou o procedimento sob entendimento de que não havia qualquer indício de prova que o justificasse.

O caso de Nicolas Naitz Silva ganhou as manchetes do noticiário rondoniense há pouco mais de quatro anos e, maior do que o tempo decorrido de lá até agora, só o número de perguntas sem respostas.

Entretanto, um fio solto quase ficou para trás. Quase...

Mistérios. Um personagem sem nome e ainda não identificado pode ser a peça-chave para resolver o quebra-cabeça, ou, no mínimo, diminuir drasticamente os questionamentos remanescentes.

Dar nome e rosto ao motoboy que andou pelos corredores da unidade hospitalar Regina Pacis, na Capital, de capacete, calça e jaqueta, enfim, completamente coberto da cabeça aos pés e ainda sem apresentar credenciais, soa como tarefa complexa após quase meia década.

Por mais errado e fora de protocolo que seja desfilar com o rosto coberto numa unidade de saúde, claro, seria possível abraçar a hipótese de descuido por parte do entregador e, em contrapartida, absorver paralelamente a ideia de negligência do estabelecimento privado que o respaldou sem questionar.

Mesmo assim, o sujeito poderia se anunciar de bom grado, espontaneamente, como sugeriu o ex-diretor-geral da PC/RO Pedro Mancebo. Em entrevista à Record em setembro de 2014, menos de três meses antes de a Homicídios concluir o caso, o delegado ressaltou a importância de identificar o motoboy desconhecido.

“A partir do momento em que uma pessoa entra e ninguém sabe quem é, entra e sai de capacete com um isopor que cabe perfeitamente uma criança, não se descarta a hipótese de a criança ter saído dali viva ou morta”, disse. Logo mais, complementou: “Se essa pessoa se viu nas imagens e nada deve, compareça à polícia para tirar as dúvidas”, conclamou sem sucesso. A tal pessoa nunca apareceu...


Em setembro de 2014, diretor da PC/RO falou sobre a importância de se identificar o motoboy / SicTV

A repercussão do vídeo vazado à Internet em agosto de 2014, um mês antes das declarações de Pedro Mancebo à imprensa, faria qualquer pessoa em sã consciência sair em disparada para se defender, deixando clara sua inocência no episódio às autoridades.

No Judiciário, a família contesta decisão de um juiz que condenou o Estado de Rondônia a pagar R$ 90 mil à família pela "perda".  À época, Rondônia Dinâmica publicou matéria a respeito (https://goo.gl/SoMtBC) e, logo mais, notícia sobre a impressão dos familiares acerca da sentença (https://goo.gl/25e9c8).

Atualmente, Marciele não dorme mais. Além do sono prejudicado por pensamentos e perturbações constantes, chora todos os dias. Pensar em Nicolas causa sensações variadas que começam numa alegria amena ao pensar no filho junto dela e na possibilidade de encontrá-lo bem e com saúde, passa por rompantes de agonia, terror e medo ao relembrar todo o corrido ainda sem desfecho e, finalmente, termina numa tristeza letárgica a aplacar todos os seus sentidos.


Trecho da sentença de Edenir Sebastião Barbosa: ele rechaçou também a tese do motoboy

O ninho preparado para o bebê ruiu com o estresse do caso. Há dois anos, a mãe e o pai se separaram. Ademar da Silva Severino quis seguir a vida mesmo sem esquecer o filho. Propôs a Marciele, então, que tivessem outras crianças, tentassem viver de formas alternativas da melhor maneira possível enquanto aguardam informações sobre o paradeiro do primogênito.

Ela, relutante, não quis. Só irá pensar num futuro familiar com novos ramos quando estiver com o pequeno Nicolas em seus braços – coisa que ainda não teve o prazer de experimentar. Assim, romperam.

“Eu nunca vou desistir. Mesmo com coisas horríveis sendo ditas para mim, como, por exemplo, a sugestão de uma delegada que atuou no caso. Ela queria que eu esquecesse o Nicolas. Disse que eu era nova e poderia ter mais filhos. Além disso, falou diversas vezes a outras pessoas: ‘O que essa menina quer que eu faça? Será que vou ter de parir um filho pra ela ficar quieta?”, revelou. 


Antes de morrer, médico atestou incolumidade da gravidez de Marciele / Divulgação

Coincidência mortal

A pedido de Marciele, o médico Mauro Arantes Costa Resende atestou, seis dias após o nascimento de Nicolas, a incolumidade da gravidez. Ele foi responsável pelo pré-natal e deixou claro que a mãe do menino, sua paciente, apresentou boas condições de saúde durante todo o acompanhamento clínico. As ultrassonografias realizadas “evidenciavam feto com boa vitaliciedade e crescimento adequado”.

Além do mais foi exposto, logo ao final do documento, que “a paciente não apresentou nenhuma intercorrência obstétrica durante o pré-natal”.


Mauro Arantes é assassinado em Cujubim; tese de latrocínio não foi confirmada / Divulgação

Porém, no dia 12 de abril de 2016 o médico foi executado em Cujubim (https://goo.gl/FpFMk5). Autoridades chegaram a indicar características de latrocínio, pois Mauro Arantes teria reagido à tentativa de assalto.

A morte também não esclarecida de Arantes ocorreu dias antes de ele ser intimado a depor como testemunha à Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA).

O que não fecha é: Mauro Arantes foi o mesmo médico que informou à técnica Marli que encaminharia a criança a Porto Velho, sem mais nem menos, determinando que ela acompanhasse a mãe, também remanejada, em outra viatura rumo à Capital.  

Para Marciele, é outro mistério.

“Antes de acontecer o suposto latrocínio, ele me ligou e disse: ‘Marciele, não desista, pois o seu filho está vivo”. Ela retrucou: “Como você tem tanta certeza?”.

A resposta nunca veio.


Outra passagem na decisão da esfera cível; juiz questiona linha do entregador / Divulgação

Investigações e inquérito contestado

Flávio Rodrigues, agente da Polícia Civil (PC/RO), coordenou os trabalhos de investigação nos autos do inquérito sob comando da delegada Noelle Caroline Xavier. A última saiu da delegacia ainda em 2015; o primeiro, também removido a outro setor – mais recentemente.

Eles trabalharam diuturnamente de maio a outubro de 2014; depois disso, o inquérito foi retirado da DEPCA pelo ex-diretor da PC/RO e encaminhado à Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes Contra a Vida (Homicídios).


Agente Flávio Rodrigues não acredita que o caso tenha sido encerrado / Divulgação

O delegado responsável pela Homicídios à ocasião era Jeremias Mendes de Souza, ora diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DEPOM). Naquela época, o delegado concluiu o inquérito dando termo à situação. Na versão dele, Nicolas Naitz teria sido incinerado por engano pela empresa Amazon Fort (https://goo.gl/51fCde)

O promotor de Justiça Alan Castiel Barbosa não aceitou a conclusão policial e encaminhou o inquérito de volta à DEPCA onde, segundo Márcia Gazoni, atual delegada titular, está prestes a exaurir a cota de diligências solicitada pelo Ministério Público (MP/RO). O promotor não quis conversar com a reportagem "para não atrapalhar as investigações". 

Na visão de Rodrigues, se as imagens do motoboy não fossem publicadas em tempo hábil e o MP/RO não interferisse reencaminhando os autos do inquérito à DEPCA, a investigação teria sido encerrada sem que se esgotassem outras linhas de apuração, como a do motoboy – por exemplo.

O relatório ignorado pela Homicídios

Rondônia Dinâmica teve acesso, exclusivamente, e é a primeira vez que um veículo de comunicação fala a respeito disso, a um relatório de 66 páginas elaborado pelos agentes da PC/RO Elsedir Leite Araújo e Humberto Johnson de Castro Inácio, destacados pela direção-geral para investigar paralelamente os acontecimentos no Regina Pacis – onde o bebê com certeza entrou como comprovam as imagens do circuito interno da unidade hospitalar.

Resumidamente, informações que desmentem o quesito “parto na ambulância”, informação inicial oficializada através da médica responsável pelo Atestado de Óbito. Por isso, não há certeza absoluta e incontestável sobre como – e em que estado – Nicolas saiu do hospital.

O documento foi assinado no dia 10 de outubro de 2014; pouco mais de dois meses após o relatório ser protocolado, recebido e rubricado pelo delegado Jeremias Mendes, a Homicídios encerrou o caso com a conclusão de incineração por engano. Mendes não anexou o relatório ao inquérito – o que só ocorreu após intervenção do MP/RO no caso.

Procurado pelo Rondônia Dinâmica, Elsedir Leite limitou-se a dizer: “Eu não sei por que o delegado não mencionou [o relatório] na conclusão dele”.

Ele sugeriu, ainda, que a reportagem procurasse Raimundo Mendes, delegado diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE) para que este desse seu posicionamento acerca do assunto.

Antes da sugestão do agente, o jornalista responsável pela matéria tentou contato com Mendes diretamente via WhatsApp; a mensagem foi recebida e lida, mas o delegado bloqueou o contato sem responder ao questionamento exposto.


Relatório não foi juntado ao inquérito pelo delegado Jeremias Mendes / Divulgação

Mas documentalmente, Araújo e Inácio não só consideraram o entregador peça-chave para dirimir questões, como também propuseram série de diligências à autoridade policial que poderia render a identificação do homem – ainda não revelada, segundo a delegada Márcia Gazoni.

Os agentes concluíram, na linha de investigação ignorada pela Homicídios, que houve, “na verdade”, a prática dos crimes de ocultação de cadáver e associação criminosa. Eles asseveraram no relatório que no dia em que Nicolas nasceu e desapareceu, pelo menos dois funcionários trocaram de plantão com outras pessoas sem maiores explicações.

Ao final, sugeriram a bilhetagem das linhas telefônicas de dois homens e também que fosse solicitada à Justiça Mandado de Busca e Apreensão na casa de um deles porque, segundo os investigadores, trabalhou e foi proprietário de pelo menos três pizzarias em Porto Velho, onde no mínimo duas funcionaram em sua residência. 

A ideia dos policiais era apreender a motocicleta, capacete, casaco, calça de chuva e a mochila de entrega do motoboy utilizada no dia em que fora flagrado pelas câmeras de circuito interno do Regina Pacis.

Segundo Flávio Rodrigues, essas diligências nunca foram solicitadas.


Delegado Jeremias Mendes, que encerrou o caso em 2014 / Divulgação

“Um dos melhores trabalhos...”

O delegado Jeremias Mendes conversou com a equipe do Rondônia Dinâmica e contou suas impressões sobre o caso; revelou detalhes das investigações e relatou, ainda, por que descartou a hipótese de o motoboy ter participado da trama. Com 24 anos de polícia, Mendes alega ser a autoridade que mais trabalhou na Homicídios, conquistando o índice favorável de 75% de casos solucionados.

Sobre Nicolas Naitz, disse:

“Um dos melhores trabalhos que tive a satisfação de realizar”.

Mendes asseverou, ainda, que  o inquérito tem duas partes.

“Quando eu assumi, fiz um despacho: ‘A partir desta data, assumo a investigação. Existem três linhas de investigação, vou explorar todas elas. Quando analisei, decidi seguir pela linha do Hospital de Base”.

Foi enfático também ao falar sobre o entregador flagrado nos corredores do Hospital Regina Pacis:

“Esse negócio de motoboy não existe. Isso é conversa, não existe isso daí”.

Acerca do relatório elaborado pelos investigadores Elsedir Leite Araújo e Humberto Johnson de Castro Inácio Sobre, pontuou: “Não, não, não, não. Furado. Ilusão pura”.

Rondônia Dinâmica – Por que o senhor recebeu o relatório, mas não o juntou ao inquérito?

Jeremias Mendes – O relatório foi juntado depois, não por mim. Mas olha, quando me passaram o inquérito a investigação deveria estar ali. Essa investigação era do passado, não era minha. Eles não trabalharam na minha equipe, nada.

RD – Mas o senhor leu?

JM – Eu li. Analisei tudo. Mas quando tive acesso ao relatório eu já tinha descartado a linha do motoboy. E por que eu iria juntar uma coisa se eu já tinha achado o fio da meada ? O inquérito precisa ser enxuto, com coisas críveis. Não dá pra juntar tudo. Se surgir uma denúncia, primeiro checamos. Se não tiver nada a ver com o caso, fica de fora. É isso. Não tem mistério. É preciso juntar só o essencial.

RD – Mas nem pra descartar?

JM – Eu já tinha explorado a linha do Regina Pacis. Entrei, investiguei, ouvi as pessoas, ouvi as enfermeiras, ouvi os médicos, todo mundo. Pronto. Não fiquei satisfeito, não era ali! Agora, quando comecei a averiguar a do Hospital de Base entendi que era ali mesmo o negócio.

RD – O senhor não concorda que saber a identidade do motoboy ajudaria a eliminar dez quaisquer dúvidas remanescentes sobre essa vertente?

JM – Mas o que tem a ver o motoboy? Por que eu vou atrás de motoboy se eu sei e ouvi pessoas que pegaram o corpo e o colocaram no necrotério? Eu descartei de imediato. Não chegamos a pegar o crânio, porque nunca ninguém vai achar, é óbvio.

RD – Mas como é um caso praticamente envolto a provas testemunhais, não seria de bom alvitre descartar o motoboy?

JM – Eu descartei. Eu descartei, fui ouvido em Juízo e falei a mesma coisa que estou dizendo pra você aqui. Falei para o juiz: “Excelência, eu descartei a possibilidade”. E assumo toda a responsabilidade se alguém achar esse corpo um dia. E podem me chamar de mentiroso publicamente caso aconteça. 

RD – O caso está encerrado, então?

JM – Está encerrado. Pode mexer. Não existe outra situação.

RD – Na sua visão, por que o MP/RO não deixou o caso ser encerrado com sua versão dos fatos?

JM – Ah, cada um... Agora eu pergunto: foi analisado? Foi analisado?

RD – O promotor não analisou?

JM – Não sei. Não sei... Tanto é que eu fui chamado para uma reunião e depois pediram pra eu não ir. Chamaram a delegada-geral para a reunião, a família e o MP/RO.  Aí falaram: “Não chama o delegado, não”. Por quê? Nunca participei de reunião para discutir sobre o assunto com o MP/RO. Nunca. Porque se eu estivesse lá eu diria: “A situação é essa, essa e essa. Não existe outra possibilidade”.  Você pode chamar quem quiser pra debater sobre esse assunto. E estou à disposição.

RD – Só para encerrar o assunto motoboy, o senhor não acha que houve, no mínimo, uma quebra de protocolo?

JM – Ah, exatamente. E a delegada anterior explorou isso, tanto é que indiciou a médica. Aqui em Rondônia, velho, vou falar a verdade pra você, eu fui ao hospital, chamei o diretor do Hospital de Base, e é preciso observar a mudança que ocorreu lá após esse fato. Era tudo bagunçado.

RD – A conclusão Hospital de Base/Amazon Fort é mais plausível, então?

JM – É isso. É ali que está. E quem é o culpado?  Não sou eu quem vai decidir. Os dois são culpados, mas quem vai responsabilizar é o Judiciário através da atuação do MP/RO. Mas como eu disse, sobre o meu trabalho você pode marcar debate, reunião ou qualquer coisa a respeito dessa investigação. Eu estou convicto. Não segui a linha do motoboy porque isso nem me interessou. Não me importa quem seja. Se houve falha na entrada, é um problema administrativo deles. A mulher lá falou que pegou...


O depoimento de Antônia Orleane à Justiça / Reprodução

RD – Que mulher?

JM – A ex-funcionária da Amazon Fort, que apalpou o saco [refere-se a um dos sacos com vestígios hospitalares saídos do Hospital de Base) e sentiu o bebê. Ela ficou tão indignada com aquilo que pegou o telefone e passou a fazer denúncias anônimas. Ela falou para mim e está no depoimento. Mas ela não podia falar abertamente, estava proibida. A acareação com outras pessoas comprovou tudo isso de maneira natural, uma conversa franca e saudável. Uma vontade incessante de esclarecer a situação. E aí você vê que tudo era verdade.

RD – O relatório, então, não tem base?

JM – Os caras escreveram 66 páginas só de imaginação, porque de concreto não tinha nada. Não tinha nada. “Poderia”, “supostamente”, enfim, só ilusão. Entendeu? Eu trabalho com fatos! Além do mais, por que eles não apresentaram o motoboy, então?

RD – Na sua visão, não está na hora de encerrar o caso e deixar a família seguir a vida?

JM – Eu não sei por que não acabou de vez, mas fiquei indignado quando o inquérito voltou.


Rildo Silveira, perito / Divulgação

Rildo Silveira, a PF e o PLID

O perito em crimes de abuso sexual ítalo-brasileiro Rildo Silveira, do Rio de Janeiro, também especialista em investigação de crimes de pedofilia, decidiu comprar a luta de Marciele e de toda a família Naitz a fim de encontrar uma resposta definitiva sobre o que ocorreu com o bebê Nicolas. Ele é cadastrado na Assistência Judiciária Gratuita (AJG), vinculada à 32ª Vara Federal. Para o perito, o caso deve ser investigado como sequestro a partir de agora.

Gratuitamente, Silveira passou a trabalhar reunindo informações para apresentar tanto à Polícia Federal (PF) quanto ao Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (PLID), órgão do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. O dossiê (https://goo.gl/cBuJHB), como ele chama o documento, já foi protocolado nos dois órgãos.

Paralelamente às diligências realizadas em Rondônia, o investigador evita criticar os trabalhos desenvolvidos até aqui, mas garante, de antemão, que de acordo com suas convicções profissionais houve uma série de equívocos que poderiam ter sido evitados.

Sua ideia, no entanto, é criar novas linhas de investigações até que as possibilidades sejam exauridas.

Ele crê, diferentemente da posição oficial do delegado Jeremias, que a linha do Regina Pacis, principalmente em relação ao motoboy, é primordial para que a resposta sobre o paradeiro de Nicolas seja esclarecida de uma vez por todas.


Cadastro do caso Nicolas no PLID / Divulgação

“Precisamos saber quem é o motoboy. E não apenas isso, é necessário compreender tudo o que ocorreu no hospital particular. Porque as imagens são gritantes”, disse.

Logo em seguida, sacramentou:

“E a história do crânio não me convenceu porque ainda que o incinerador da Amazon Fort estivesse defeituoso, queimando e não incinerando, conforme relatado no inquérito, mesmo assim seria o suficiente para não deixar vestígios. O crânio dos recém-nascidos é frágil, cheio de membranas e cartilagens. Não aguentaria o mínimo contato com fogo”, destacou. Vamos analisar tudo, nos mínimos detalhes”, concluiu.


Silveira protocolou o dossiê na Polícia Federal do Rio / Divulgação

O enigma, portanto, continua em aberto. Silveira, Flávio Rodrigues, o MP/RO, o PLID, a PF/RJ, e, principalmente, a insistência de Marciele, são as razões encarnadas a ilustrar o ensinamento do filósofo francês René Descartes: “Se você estiver mesmo atrás da verdade é necessário que, pelo menos uma vez em sua vida, duvide, tanto quanto for possível, de todas as coisas”.

Autor / Fonte: Vinicius Canova / Rondoniadinamica

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