Situação era alarmante há quase quatro anos / Foto: Marcos Freire (Decom)
Porto Velho, RO – O leitor pode não concordar, mas a realidade é que o rondoniense foi feito de trouxa ao aceitar – sem questionar – a instalação das usinas de Jirau e Santo Antônio no Rio Madeira.
Antes de o consórcio responsável iniciar as obras a politicagem já rolava solta; as críticas sobre impactos ambientais, inclusive, eram veementemente rechaçadas tanto por agentes públicos quanto por órgãos da própria imprensa, até mesmo nacional.
“É coisa de ‘ecochato’, de ONG endinheirada querendo mais e mais vintém”. Pois é.
Rondônia necessitava surfar na onda do desenvolvimento, da evolução, do progresso a qualquer custo. E como custou...
Desde então, passado o boom da construção com suas benesses econômicas passageiras, sobraram entulhos e mais entulhos de porcaria para limpar. O estrago feito é irremediável; entretanto, os desastres que estão por vir ainda podem ser prevenidos.
O arriscado caminho para Jaci em 2014 / Foto: Marcos Freire (Decom)
No final de 2017, a Assembleia Legislativa do Estado (ALE/RO) “empurrou com a barriga” o imbróglio do projeto que visa aumentar o reservatório da usina de Santo Antônio em 80 centímetros. Com isso, o consórcio poderia inserir mais seis turbinas para operar com ainda mais força no Madeirão. O bater do martelo ficou para o começo deste ano.
A necessidade chega à mesa dos parlamentares impulsionada por força estrondosa de um lobby reforçado e apressado: poderes políticos gravitacionais querem porque querem para ontem a aprovação do projeto, doa a quem doer.
Como doeu! Como dói! E como doerá!
Com a iminência de uma reedição da enchente histórica de 2014 já rascunhada nos primeiros dias de 2018, sendo a operação das usinas responsáveis ou não pela cheia, seria, no mínimo, irresponsabilidade autorizar um aumento no reservatório.
O alerta já apresentado pelo crescente nível do Madeira em janeiro impõe cautela à decisão do Legislativo. Há deputado dizendo, inclusive, que dar aval ao projeto seria “crime contra a humanidade”, e resguardadas as devidas proporções, diga-se de passagem, no mínimo poderia ser visto como um atentado às regiões ribeirinhas, comunidades margeadas pelo rio: é brincar demais com a vida alheia.
Tanto Ministério Público do Estado (MP/RO) quanto Ministério Público Federal (MPF/RO) já se posicionaram contra as pretensões tratadas no projeto.
O Estado de Rondônia espera, até hoje, as contrapartidas exigidas pela construção das usinas: principalmente as compensações sociais que nunca vieram; logo, o consórcio não teria nada a exigir, muito pelo contrário. Está na hora de começar a pagar suas dívidas com o Estado e sua população.
Enchente do Madeira alaga áreas em Jaci / Foto: Marcos Freire (Decom)
Para se ter uma ideia, o distrito Jaci Paraná foi praticamente engolido pela cheia histórica há quase quatro anos. O local praticamente desapareceu com o avanço da lâmina d’água sobre a BR que leva da área urbana de Porto Velho até a região.
Se um novo abalroamento assim ocorrer agora, o distrito deverá ser reconhecido como a Atlântida de Rondônia, submergido pelo Madeira. Na última reunião convocada pelo Ibama em Jaci, a empresa responsável pela usina de Santo Antônio não apareceu para prestar esclarecimento sobre os impactos à comunidade.
Atlântida: faltam só os candirus para Jaci emular cidade perdida de Platão
Os responsáveis também não aparecem quando convocados para fazer o mesmo até na ALE/RO, ignorando aos chamados de deputados interessados em saber se irão prestar as devidas contrapartidas ou não. O silêncio diz tudo. E se Atlântida é a cidade perdida de Platão; definitivamente Jaci será o distrito sumido de Santo Antônio.
Há responsabilidade muito grande nas mãos dos parlamentares de Rondônia. Resta saber com que tipo de cheia estão preocupados: com a dos bolsos ou a do Madeira?
Autor / Fonte: Rondoniadinamica
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