De pai para filho; de marido à mulher, e de irmão para irmã
Porto Velho, RO – Uma peculiaridade interessante na política rondoniense é a expressão da vontade dos eleitores no sentido de contribuírem para a perpetuação de conhecidíssimos clãs regionais no protagonismo do Poder – e nos mais variados cargos.
Exemplos não faltam: o ex-governador Ivo Cassol, ainda Senador da República pelo PP, emplacou a irmã, Jaqueline Cassol, também progressista, ao cargo de deputada federal. Cassol, embora tenha fama de “dedo podre”, ou seja, de azarar candidatos que eventualmente recebam o seu apoio em disputas eleitorais, incluindo familiares, obteve êxito no caso de Jaqueline em 2018.
Os “Muletas”, cujo sobrenome é, na realidade, dos Santos, voltam à Assembleia Legislativa (ALE/RO) com Cássia Gomes dos Santos, a Cássia dos Muletas (Pode). Cássia é esposa do ex-deputado estadual João Batista dos Santos, o João da Muleta. A família engloba outros atores da vida pública já fora de atuação, a exemplo de José Amauri dos Santos, também ex-deputado, e José Joaquim dos Santos, o Zezinho do Maria Fumaça, ambos irmãos de João. Além da árvore genealógica, o trio tem em comum inúmeros problemas com a Justiça, por conta disso Cássia, o nome limpo da família, foi lançada para concorrer ao pleito. O primeiro, deficiente físico, chegou a ser chamado pela imprensa de “João da Mutreta” dadas as reiteradas incursões nas penumbras ilícitas do Legislativo à época em que ocupou assento como parlamentar na Casa de Leis.
Jean Carlos Scheffer Oliveira, o Jean de Oliveira, reeleito pela terceira vez como deputado estadual, e Márcio José Scheffer de Oliveira, eleito vereador por Porto Velho em 2016, são filhos do ex-presidente da Assembleia Legislativa (ALE/RO) José Carlos de Oliveira, o Carlão de Oliveira. Carlão também conserva um passado tumultuado em decorrência do cargo exercido; no entanto, Jean e Márcio seguiram por outros caminhos, longe de escândalos e polêmicas reciclando, ao menos por ora, a atividade dos Oliveira em mandatos eletivos.
O mesmo vale quando se aponta a carreira meteórica do jovem deputado federal eleito Léo Moraes (Pode), com passagens bastante elogiadas tanto na ALE/RO quanto na Câmara Municipal.
Leonardo Barreto de Moraes é filho do ex-secretário de Segurança Pública e ex-deputado estadual Paulo Moraes, que faleceu no final de outubro de 2015, e da ex-presidente da Câmara de Vereadores de Porto Velho, Sandra Moraes. Léo Moraes atribui aos seus pais o aprendizado e o sucesso obtidos em seus mandatos, mantendo distância de problemas com o Ministério Público (MP/RO) e, consequentemente, longe da atuação do Poder Judiciário.
Esposa do condenadíssimo Marcos Donadon, também ex-presidente do Legislativo envolvido em escândalos de corrupção, e cunhada de Natan, o primeiro deputado federal a obter a proeza histórica de ser preso no exercício do mandato desde a Constituição de 88, Rosângela reelegeu-se deputada estadual pelo PDT.
Já o ex-vice-governador, empresário e médico psiquiatra Aparício Carvalho é pai dos tucanos Mariana Carvalho, deputada federal reeleita, e do vereador ex-presidente da Câmara da Capital, Maurício Carvalho, candidato a vice-governador derrotado nas eleições do ano passado na chapa composta com Expedito Júnior, também do PSDB.
Colecionando derrotas personalíssimas desde a sua cassação como senador da República, Expedito Júnior, por sua vez, teve sucesso logo de cara ao eleger e reeleger o filho Expedito Goncalves Ferreira Netto, o Expedito Netto, hoje no PSD. Diferentemente de Cassol, o talento que não tem para si sobra quando o assunto é passar a linha de chegada apoiando outras pessoas. Além do filho, é responsável pela ascensão de Hildon Chaves (PSDB) à Prefeitura de Porto Velho.
Vale lembrar que o casal Valdir e Marinha Raupp foi defenestrado nas urnas e, por conta disso, o outrora fortíssimo sobrenome passa a se apagar paulatinamente de agora em diante na linha de frente, o que não impede a dupla de pleitear e ocupar cargos em quaisquer escalões da República por conta de sua experiência e dos relacionamentos conquistados em décadas de atuação política ininterruptas – até agora.
Os Gurgacz ainda se mantêm no Congresso Nacional porque Acir, embora condenado pelo Supremo e cumprindo pena no semiaberto, não deve ser cassado por seus pares e, como fora obtida autorização para o trabalho, deverá concluir seu mandato, que encerra apenas em 2022. Airton, seu tio, não conseguiu a reeleição como deputado estadual, portanto está fora do jogo a partir de fevereiro.
Entre erros e acertos, a sociedade decidiu manter essas famílias em cargos políticos importantes e imprescindíveis à proteção e ao desenvolvimento do Estado de Rondônia.
A missão mais difícil aos que ficam é aprender com os passos em falso pretéritos de seus familiares relembrando, sempre, que por mais fortes que sejam os ramos de suas árvores genealógicas não há galho poderoso o suficiente para suportar as serras elétricas da insurreição popular.
Autor / Fonte: Rondoniadinamica
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