A reticência dos políticos diante de tudo aquilo que é exortado pelo bolsonarismo preocupa também em âmbito regional
Porto Velho, RO – O governador eleito Coronel Marcos Rocha (PSL) não é tolo. Ele tem plena consciência de que sua figura, por si, não teria a mínima condição de alcançar as rédeas do Palácio Rio Madeira.
Não neste ano, pelo menos.
Se o espectro político de Jair Bolsonaro não o rondasse do início ao fim, aproveitando a onda que, pelo bem ou pelo mal, varreu o Brasil em todos os rincões, mesmo os mais longínquos, e levando em conta ainda a qualidade duvidosa dos adversários representantes do cacicado cíclico e habitual – cheios da grana, poder e influência, o militar, a despeito de seu currículo na vida pública, não passaria nem do primeiro turno.
Não digo isso à base do achismo nem da astrologia esotérica. As provas do que aponto neste artigo estão representadas principalmente em duas questões primordiais: a primeira delas, no Plano de Governo plagiado, denotando a mensagem clara “estou entrando por entrar – se colar, colou”; e a segunda, de ordem postural e até constrangedora, que é não ter em mente de forma prévia nomes para compor a equipe de secretários em caso de vitória.
Agora, cheio de mistérios e conversando fiado tanto com a imprensa quanto com a população que o elegeu, Rocha garante o enxugamento da máquina e mantém o tom do discurso anticorrupção.
Quer a todo o custo – pelo menos em prosa – acabar com o toma lá, dá cá, prática gerencial costumeira e espúria da governabilidade até aqui. O problema é que o novo chefe do Executivo esqueceu de combinar com os russos.
Três panoramas surgem, então, no horizonte.
De repente, uma Assembleia Legislativa (ALE/RO) tão reticente quanto quaisquer outras autoridades políticas diante do bolsonarismo, uma subserviência parlamentar inédita e sem custos por conta do medo de nadar contra a maré popular. Enfim, deputados que não fiscalizam e ainda aprovam tudo sem pestanejar – principalmente na calada da noite.
Ou talvez um Legislativo irresignado pelo término da relação mutualista com o Executivo, quem sabe? Neste caso, uma Casa de Leis sabotadora, a exemplo do que ocorreu à época da gestão Ivo Cassol com os fatos expostos no Fantástico e pela Operção Dominó.
Por que não?
Mas o melhor de todos os cenários, e não custa nada sonhar, ressalto, seria aquele em que os parlamentares fizessem sempre o que é justo, sem exigir nada em troca, se posicionando a favor do Estado de Rondônia; ou seja, praticando a oposição coerente e não-beligerante em ocasiões pontuais.
Afinal de contas, não dá pra mudar absolutamente nada com velhos costumes. Do capachismo ao porradeiro deliberado, há um meio-termo necessário. E é lá onde precisamos ancorar.
Autor / Fonte: Vinicius Canova
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